A venezuela numa encruzilhada: a revolução ou a contra-revoluçãoO referendo reconvocatório está marcado para 15 de agosto, na Venezuela. Ele pode definir se haverá uma nova eleição presidencial no país. Mas, para isso, a oposição precisa ter, além da maioria dos votos válidos, um número superior à quantidade de votos que o atual presidente, Hugo Chávez, obteve nas últimas eleições.
Na Venezuela não há segundo turno. Por isso, todos os analistas afirmam que, se houver novas eleições, Chávez as ganhará, pois tem o apoio de pelo menos 35% do eleitorado. Se isso acontecer, a oposição não aceitará o resultado.
Ora, se é assim por que tanta balbúrdia em torno desse referendo? Porque a estratégia da oposição, definida e manipulada pelo imperialismo norte-americano, é criar no país uma situação de caos social e de agitação contra-revolucionária permanente, para tentar derrubar Chávez.
O imperialismo nunca aceitou o fato de não controlar totalmente os governos dos países da América Latina, situação que se agrava quando o país em que não há o controle é justamente o que possui as maiores reservas petrolíferas do continente.
Seja qual for o resultado desse referendo, a situação no país continuará polarizada, pois o que acontece atualmente na Venezuela é o enfrentamento entre a revolução e a contra-revolução.
Um pouco de história
O processo revolucionário venezuelano iniciou-se com o Caracazo, em fevereiro de 1989, uma insurreição operária e popular que pôs em crise todas as instituições do país. Em 1993, o presidente foi derrubado, o Congresso faliu, a maioria dos sindicatos virou contra-revolucionária e os partidos se acabaram.
Como as Forças Armadas tiveram de matar milhares de pessoas durante o Caracazo, vários setores entraram em crise. O coronel Chávez, expressão dessa crise, tentou um golpe, em 1992, cujo fracasso o levou à prisão.
Mas, em 1994, saiu da cadeia com um prestígio enorme, e se candidatou a presidente, vencendo as eleições, em 1998. Já foram várias as tentativas para derrubá-lo. A mais importante delas foi o golpe patronal-imperialista de 11 de abril de 2002.
No entanto, o tiro saiu pela culatra. O golpe desencadeou um impressionante processo de mobilização de massas e levou o país a uma nova insurreição, mais profunda e mais organizada do que o Caracazo. Em apenas dois dias, os golpistas foram derrubados e Chávez foi trazido de volta.
O golpe foi derrotado, mas não por mérito de Chávez, que se recusou a chamar a resistência popular. Ao reassumir, com um crucifixo na mão, chamou a paz e a reconciliação nacional com os golpistas.
Assim, a conspiração burguesa e imperialista continuou. Em dezembro de 2002, foi realizado um lockout de grandes proporções que paralisou fundamentalmente a produção petrolífera, tentando jogar o país na bancarrota.
Novamente a derrota. As massas organizadas nos bairros populares e os operários, dentro das indústrias, garantiram a produção e a distribuição de petróleo. Depois de uma luta duríssima, o lockout foi derrotado.
Mas a conspiração continua através de greves de fome de militares, ataques ao Palácio do Governo, boicotes econômicos, acordos com paramilitares colombianos e, agora, com o referendo. Tudo isso, respaldado pelo imperialismo e pelo grupo Amigos da Venezuela, formado por iniciativa do governo Lula.
Post author Américo Gomes, São Paulo-SP
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