O ataque em Suruc, no último dia 20 de julho, comoveu toda Turquia. O atentado terrorista realizado pelo Estado Islâmico matou 30 jovens ativistas que estavam acampados em apoio à resistência curda da região de Rojava e pela reconstrução de Kobani. A cidade de Kobani é uma cidade independente curda, parte do Curdistão Sírio, também chamado de Rojava (oeste em curdo).

A cidade foi atacada e bombardeada pelo Exército Islâmico (EI) e pelas forças reacionárias que são apoiadas logística e politicamente pelo regime do AKP (partido do governo na Turquia). O governo turco já deu armas aos bandidos jihadistas , pra tentar acabar com a resistência  de Rojava.

Contudo, pressionado pela opinião pública da Turquia, o presidente direitista Tayyip Erdogan disse que o país passaria a “combater as ações do Estado Islâmico”, mas também iria atacar com bombardeios os grupos que formam hoje a resistência curda. O imperialismo norte-americano saudou a iniciativa de Âncara. Contudo, de lá pra cá, Erdogan coordenou uma série de ataques, mas nenhum deles contra os terroristas do Estado Islâmico, e sim contra a resistência curda. Os Estados Unidos continuaram aplaudindo e apoiando a investida de Erdogan.


Enterro das vítimas do atentado a Suruc

Resistência heróica
A guerrilha curda é a que concentra os mais efetivos lutadores contra o Estado Islâmico hoje em todo Oriente Médio. Criado em 2004, o YPG (Unidades de Defesa do Povo) vem travando uma heróica resistência em todos estes anos.  A sua ação armada foi iniciada durante a guerra civil síria em 2011. No dia 19 de julho de 2012 a resistência conseguiu libertar Kobani das tropas do ditador sírio Assad e nos cinco dias seguintes libertou as demais cidades. Em seguida enfrentaram a ofensiva do Estado Islâmico.

O objetivo declarado do EI é o de criar um emirado islâmico, um califado, nos atuais territórios da Síria, Iraque, Jordânia, Líbano e da Palestina histórica. Na verdade, o que querem com este Califado é o controle direto militar das ricas reservas de petróleo de toda a região, impondo sobre ela ditaduras ferozes baseadas em uma interpretação literal da lei islâmica (Sharia).

Já o YPG é um exército guerrilheiro de maioria curda, mas tem em suas fileiras outras nacionalidades. Em suas unidades há lutando, muitas vezes, mais mulheres do que homens.  “As mulheres são a maioria nas brigadas. Isso é muito importante numa região como o Oriente Médio porque a sociedade de muitos países não permite que as mulheres participem da vida social. Quando se olha pra Rojava e se vê a situação em que se encontram as mulheres devemos sentir muito orgulho”, explica Erol Ekici, do sindicato da construção civil da Turquia e da Plataforma pela Reconstrução de Kobani. Erol visitou recentemente a região e concedeu uma entrevista ao Portal da LIT-QI (leia aqui).

Segundo o sindicalista, muitas cidades ao redor Kobani foram liberadas da tirania do Estado Islâmico.  “A vida está voltando de muitas maneiras. O dano foi muito grande, mas está começando a ir bem. Agora, o governo está muito aberto, todo mundo tem o direito de falar: socialistas, curdos, árabes. Todos são apresentados nas assembléias pode falar e realizar seus projetos”.

Mas os bombardeios turcos na região podem fazer tudo mudar e fortalecer uma nova ofensiva do IE.

O governo do AKP, há 12 anos do poder, encontra hoje dificuldades para compor uma maioria no parlamento turco. Por isso, fala-se na convocação de novas eleições no país. Erdogan teme que o crescimento do HDP (Partido Democrático dos Povos, uma organização pró-curda criada em 2012 e que teve 13% dos votos nas últimas eleições turcas) possa aumentar sua influência política e eleitoral. Nesse sentido, muitos analistas ligam a ofensiva militar de Erdogan a uma campanha de demonização do povo curdo a todos aqueles que apoiam a sua luta.

No entanto, o que mais Erdogan teme é que uma possível vitória retumbante do povo curdo contra o Estado Islâmico possa fortalecer sua luta pela sua autodeterminação. Uma vitória da resistência curda poderia, além de significar um golpe mortal sobre o AKP, reanimar a luta contra o ditador Assad na Síria. As bombas atiradas contra a resistência tem fundamentalmente o objetivo de impedir esse cenário.