Matheus Drummond, de Salvador (BA)
O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) percorreu quatro cidades dos Estados Unidos em busca de apoio para sua candidatura presidencial no Brasil. Por onde passou, apresentou um programa ultraliberal. Prometeu privatizar todas as empresas estatais, acabar com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), reduzir ainda mais os impostos para empresários e ampliar a Parceria Público-Privado (PPP).
Como podemos ver, o nacionalismo e o patriotismo do deputado filhote da ditadura militar é apenas discurso. Bolsonaro foi oferecer o Brasil na bandeja, deixando explícito que o seu compromisso é com empresários, banqueiros e grandes investidores. “O Estado deve fazer tudo que puder para servir aos interesses financeiros da classe empresarial, pois o empresário tem seu sangue sugado pelo governo”, disse em discurso na terra de Trump.
Para não deixar dúvida de que está ao lado dos empresários, Bolsonaro disparou vários ataques aos trabalhadores. Defendeu a retirada de direitos trabalhistas e bravejou: “O trabalhador vai ter que decidir: menos direito e emprego ou todos os direitos e desemprego.” Disse ser favorável ao fim da CLT, citando o Paraguai como exemplo de “uma CLT bem menos rígida”.
Aos latifundiários, disse que apresentará “uma resolução para a questão indígena, impedindo que os índios limitem o desenvolvimento do agronegócio” e que vai elaborar leis antiterroristas mais duras para “evitar que os marginais do MST continuem barbarizando lá no Brasil. Eu não vou aqui ser o Jairzinho Paz e Amor. Não vou fazer uma política de massa, chamar o trabalhador. Não vou fazer isso porque o patrão tem o seu valor também”.
“O Trump serve de exemplo para mim”
Além de machista, homofóbico, racista, representante do militarismo autoritário e inimigo declarado dos trabalhadores, Bolsonaro é um lambe botas do imperialismo. Nada mais bizarro que o vídeo em que ele bate continência à bandeira norte-americana durante sua passagem pela Flórida.
Bolsonaro fez questão de frisar que se inspira no presidente dos EUA. “O Trump serve de exemplo para mim. Pretendo me aproximar dele para o bem do Brasil e dos Estados Unidos”, disse. Trump, desde sua campanha, se valeu de todo tipo de preconceito e discursos de ódio contra os setores oprimidos e trabalhadores imigrantes para aproximar eleitores. Bolsonaro age do mesmo jeito aqui no Brasil.
Quando questionado por um jornal de Miami sobre segurança pública, disse que vai “dar carta branca para o policial matar”. Falou essa frase num estande de tiro, logo após uma semana do massacre em Las Vegas.
Ladrolândia nas Forças Armadas
Bolsonaro é defensor da ditadura militar e grita aos quatro cantos que esse regime político combate ferozmente a corrupção. Isso é mais uma farsa. Uma reportagem da revista Época (13/10/2017) revelou a corrupção dos homens de fardas. Os militares desviam recursos públicos, fraudam licitações, pedem e recebem propina.
O Ministério Público Militar (MPM) e o Tribunal de Contas da União (TCU) denunciam que a corrupção nas Forças Armadas desviou mais de R$ 30 milhões dos cofres públicos. A investigação aponta que são 255 processos pelo crime de peculato (desvio de dinheiro público em proveito próprio) e 60 por corrupção ativa ou passiva, todos abertos nos últimos cinco anos. A reportagem mostra, também, como o coronel do Exército, Odilson Riquelme, faturou com propinas pagas pela equipe prestadora de serviços de quimioterapia ao Hospital Militar de Área de Recife (HMAR), onde Riquelme cuidava dos contratos.
O discurso de Bolsonaro de que as Forças Armadas estariam imunes à corrupção e que uma intervenção militar pode dar um fim à crise política é pura farsa. A corrupção existia na época do regime militar e segue existindo dentro das Forças Armadas ainda hoje.
O próprio Bolsonaro, que faz pose de honesto, de santo não tem nada. Teve sua campanha financiada pelas empresas envolvidas na Lava Jato. Foi eleito deputado federal pelo PP em 2014, o mesmo partido do nada honesto Paulo Maluf. Teve metade de sua campanha, de aproximadamente R$ 400 mil, financiada pela JBS, e a outra metade pelo próprio PP. O Partido Progressista arrecadou, na campanha de 2014, cerca de R$ 131 milhões aproximadamente. Desse montante, R$ 14 milhões foram de doações de empresas envolvidas na Lava Jato.
Outra pergunta sem reposta é como Bolsonaro aumentou em quatro vezes seu patrimônio pessoal de 2006 a 2014. Evolução patrimonial estranha e relações mais do que suspeitas com grandes empresários para um paladino da honestidade.