O governo Lula acaba de completar 100 dias de vida. Em pouco mais de três meses já é possível fazer um balanço claro da sua política econômica. Para os banqueiros e grandes capitalistas tudo: aumento da taxa de juros, elevação do superávit primário, encaminhamento da autonomia do Banco Central, pagamento religioso da dívida pública, cumprimento rigoroso da agenda e das metas propostas pela Carta de Intenções do FMI, continuidade das negociações da Alca e um longo etc. Estes tem muito o que comemorar. Nem mesmo a burguesia esperava tanta rapidez e eficiência.
A alegria do mercado é tamanha que o risco país caiu junto com o dólar e a bolsa subiu, apesar da guerra no Iraque e do cenário nebuloso da economia mundial, em particular da norte-americana que vem demonstrando novos sintomas de crise, que agora ronda o mercado imobiliário em meio a uma bolha especulativa. Fogo de palha. Como um maníaco depressivo, o mercado financeiro pode passar rapidamente da euforia à depressão e voltar a apostar que o país vai quebrar.
Já os trabalhadores foram presenteados com cortes de mais de R$ 5 bilhões nas áreas sociais, com o envio ao Congresso da Reforma da Previdência e um reajuste pífio do salário mínimo. Estes continuam esperando com a boca escancarada o cumprimento das promessas de campanha. Não tem nada a comemorar. E ainda por cima lhes é exigido paciência.
Paciência?
Que paciência!
Recente pesquisa do Datafolha demonstra que 45% dos entrevistados consideram que o governo Lula fez menos que o esperado até o momento. Segundo a maioria dos entrevistados, 61% do total, a prioridade do governo deveria ser o combate ao desemprego. Este, seguido da fome, segue sendo a principal preocupação dos brasileiros. A pesquisa do Datafolha é uma pequena amostra do balanço que fazem os trabalhadores em 100 dias.
Nestes 100 dias de governo, Lula e o PT não só não melhoraram em nada o nível de vida da classe trabalhadora como, ao seguir a mesma política econômica de FHC, estão levando à sua piora. Mais que isso, não só estão levando a piora do nível de vida da classe como preparam ataques às suas conquistas sociais.
As promessas de geração de 10 milhões de empregos e de duplicação do salário mínimo em quatro anos de tão sólidas estão se desmanchando no ar. O Fome Zero não passa de uma fraude: a grande vedete das políticas sociais compensatórias não escapou nem mesmo dos cortes do Orçamento.
Mas foi a paralisação do funcionalismo público federal no último dia 8 a maior demonstração de como uma importante parcela da classe trabalhadora avalia o governo. Para os funcionários públicos, Lula acena com um reajuste ridículo de 1%, uma verdadeira provocação, e promete encaminhar ainda este mês na Câmara dos Deputados a reforma da Previdência através do PL-9.
É preciso não só cercar o funcionalismo público de solidariedade, mas acima de tudo mirar o seu exemplo com algo a ser seguido. A vitória do funcionalismo público contra a reforma da Previdência e a aprovação do PL-9 será uma vitória de toda a classe. Só a própria ação direta da classe poderá conquistar as mudanças que os trabalhadores precisam. É necessário perder a paciência antes que seja tarde.
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