Quando criou o Big Brother, que a tudo via e a todos controlava, no mundo fascista de 1984 (livro escrito em 1948), George Orwell dificilmente poderia ter idéia de a que ponto a humanidade e, em particular, os meios de comunicações poderiam chegar no mundo capitalista.
A última edição do programa da TV Globo demonstrou que não existem limites. A simples idéia de colocar seres humanos num zoológico que pode ser acompanhado em rede nacional já deveria ser considerada um absurdo desprezível. Incentivar que elas se embriaguem e exponham todas as suas fraquezas, então, deveria ser um crime de lesa humanidade.
Já editar tudo isso (para favorecer ao máximo a baixaria, que, segundo Pedro Bial, ainda é muito contida no programa brasileiro, se comparada com europeus) com o único objetivo de ganhar dinheiro e estamos falando de milhões com publicidade é uma das faces mais nefastas dos meios de comunicação no capitalismo.
A última edição do BBB ganhou um componente novo: a divisão dos concorrentes entre os pobrezinhos e riquinhos, o que fez aparecer várias vezes o termo luta de classes.
Quanto a isto, é preciso lembrar que o esquema todo é montado para atingir o maior público possível. Para aumentar os índices de identificação do público com os concorrentes, há a preocupação de colocar diferentes tipos no ar. Nesta edição tínhamos negros, nordestinos e um sujeito cuja homossexualidade era evidente. O que, diga-se de passagem, abriu espaço para discussões abertamente racistas, homofóbicas e preconceituosas.
A grande sacada, agora, foi colocar gente do povo, já que os selecionados pela produção, são, invariavelmente, atraentes, sarados e, na maioria, gente de classe média disposta a fazer tudo para virar celebridade.
O fato é que o público deixou na final os dois escolhidos por sorteio. Como lembrou Leila Reis, em artigo no Estado de S. Paulo, grande parte desse colégio eleitoral decidiu melhorar a vida dos finalistas porque se enxergou no vídeo.
Longe de promover qualquer coisa parecida com a luta de classes, o objetivo do programa é divulgar a idéia de que todos podem ter uma chance de vitória. Basta se esforçar e, de preferência, não reclamar das humilhações e abusos que surjam. Nada a ver com o mundo que queremos.
Post author Wilson H. Silva, da redação
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