O PSTU vem surgindo em cidades onde nunca existiu e um destes núcleos fica em Carnaubeiras da Penha, município no sertão de Pernambuco, onde mais da metade dos 15 mil habitantes são indígenas. O PSTU Atikum é o primeiro núcleo do partido em uma aldeia indígena e nasce com 60 filiados.

É resultado de um contato feito há três anos com militantes do Recife, durante o movimento Brasil Outros 500. Nos protestos, Jatuxé Atikum, principal liderança da tribo Atikum, conheceu Joaquim Magalhães, presidente estadual do partido. “Joaquim me falou que estaria conosco em Porto Seguro, mas não acreditei, achei que era conversa de político. E lá na Bahia, no meio das bombas, eu reconheci os cabelos brancos dele”, lembra Jatuxé.

Após este contato, os militantes de Recife foram algumas vezes à aldeia, apresentar o programa do partido e conhecer a luta dos índios. A reserva tem 43 aldeias e a agricultura é a principal atividade dos indígenas, que lutam pela demarcação de 64 mil hectares para a reserva. Desta área, a reserva conta hoje com 15 mil. Nesta luta, chamada de desintrusão, os indígenas travam um conflito permanente com o latifúndio, que ocupa o restante das terras. Além disso, também lutam por créditos agrícolas, medidas contra a seca e a fome, por melhores condições de saúde e por educação especial.

Além da apresentação do PSTU, as visitas à aldeia também incluíram cursos de formação. Joaquim teve facilidade em explicar o socialismo: “Como as terras são de todos, é mais fácil pra eles entender isso. Como guardam a história da invasão dos portugueses e de outras nações européias, também não é difícil explicar a luta contra o imperialismo”. Mas apesar de todos falarem português, a comunicação esbarrou em algumas diferenças culturais: “Os Atikum têm cacique. Na hora de explicar nosso funcionamento, nossa democracia interna, disse que no nosso partido não tinha cacique. Acabei tendo de me explicar melhor”, recorda.

Os Atikum também estiveram em Recife, exigindo do governo federal a solução para seus problemas. Em novembro de 2002, 40 indígenas foram até a sede da Funai e mantiveram o superintendente no prédio até o início das negociações. Comemoraram na sede do PSTU, onde dançaram o toré e beberam a jurema, bebida para ocasiões especiais, como festas e cerimônias. A depender da avaliação do governo Lula, os Atikum devem voltar mais vezes à sede da Funai. “Continua tudo igual. Esperava mudanças”, afirma Jatuxé.

O PSTU Atikum pretende implantar o partido entre os moradores da cidade e nas outras aldeias, distantes até 20 quilômetros umas das outras. Entre os projetos para aproximar os indígenas está um sistema de rádio interligando as aldeias. Todas serão convidadas para o lançamento oficial do Partido, em uma grande festa, com danças e torneio de arco e flecha.
Post author Gustavo Sixel,
da redação
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