Na semana do Dia Internacional da Mulher, o Portal do PSTU homenageia as mulheres trabalhadoras entrevistando uma das principais lideranças dos trabalhadores da construção civil de Belém (PA)No dia 2 de setembro de 2009 foi deflagrada uma greve dos trabalhadores da construção civil de Belém (PA), a maior nos 102 anos do sindicato da categoria. Uma passeata com mais de 8 mil operários enfrentou os patrões e a polícia do governo estadual petista.
Em cima do carro de som, junto a outros dirigentes sindicais, Deusarina de Almeida, 45 anos, 1,43cm, 40 kg, a “Deuzinha”, casada e com um filho. Uma servente de pedreiro, militante do PSTU e coordenadora geral do sindicato, função dividida com Ailson Cunha (também do PSTU). Deuzinha falava pouco, mas quando o fazia era muito aplaudida pelos trabalhadores.
Portal do PSTU: Você está há 22 anos na categoria, trabalha em uma empresa terceirizada de uma grande construtora no Pará e ocupa o segundo mandato no sindicato, dessa vez como coordenadora geral, quais dificuldades você encontrou quando entrou na categoria?
Deuzinha: Eu entrei na categoria quando meu filho ainda era muito pequeno. Deus o livre! Foi uma barra! Com uma criança pequena é uma barra. Eu deixava meu filho na casa de minha sogra em Icoaraci (distrito de Belém) e só ia pegar nos finais de semana. Mesmo assim, chegava em casa e ia fazer todo o trabalho doméstico, inclusive encher água, pois naquele tempo não tinha água encanada onde eu morava. Eu ia buscar água num local distante para poder fazer as coisas.
Portal do PSTU: Como e porque você começou a participar do sindicato?
Deuzinha: Foi nas mobilizações e greves anteriores. Achei que era importante participar das lutas.
Portal do PSTU: E quando passou compor a diretoria do sindicato?
Deuzinha: Fui observada pelos companheiros sindicais mais antigos que iam à obra fazer fiscalização. Queria fazer parte da luta, mas não me envolver na diretoria do sindicato. Num dia Atnágoras e Cleber (dirigentes da categoria) chegaram na obra e disseram que eu era uma mulher de luta, guerreira, que o sindicato precisava de uma mulher assim. Aí eu falei: é vamos ver o que vai dar. Foi quando houve uma eleição no canteiro de obra para delegados ao congresso do sindicato. Eu fui a mais votada. Aí engatou e eu não tive como recuar. Fiz parte da secretaria de mulheres e nesse segundo mandato sou coordenadora geral junto com o companheiro Ailson.
Portal do PSTU: Como é ser coordenadora geral de um sindicato de uma categoria majoritariamente composta por homens?
Deuzinha: É difícil. Na última campanha salarial, fizemos uma paralisação em uma obra. Os trabalhadores pararam. Das poucas mulheres que lá trabalhavam apenas uma parou. De todos, somente ela recebeu aviso prévio. Às vezes sou levada a ter que cobrar os companheiros… Sou mulher, me sinto frágil. É difícil uma mulher encarar uma tarefa que sempre foi tocada por homens. Não é fácil, mas aos poucos estamos fazendo a tarefa. A mulher está acostumada a ficar abaixo dos camaradas. É o costume. Mas temos que mudar? Com certeza!
Portal do PSTU: E o PSTU, o que representa para você?
Deuzinha: O PSTU representa uma mudança total na minha vida. Agora estou compreendendo realmente a luta. Ele me dá força para eu tocar a tarefa. Tenho aprendido muito com o partido. Se não tenho vergonha de dar entrevista para a TV é porque estou numa organização política que ajuda muito. Antes, para ir ao canteiro de obra, precisava que um companheiro fosse comigo e falasse por mim. Me dava vômito, dor de barriga. Quando fui ao encontro de mulheres do PSTU (2008) aprendi muito, me fortaleceu muito. Hoje eu encaro sozinha qualquer canteiro de obra. Isso é muito gratificante.
Portal do PSTU: Na campanha salarial de 2009, depois de três dias, a greve foi suspensa temporariamente, mas permaneceram as paralisações por obras até a patronal aceitar a proposta do sindicato, poucas horas antes da greve geral da categoria ser reiniciada. Durante esse período de greves localizadas, numa assembléia no meio da rua e debaixo de chuva, depois de ser muito aplaudida, você parecia estar chorando em cima do carro de som.
Deuzinha: Olha (Pausa. Ao lembrar os olhos se enchem de lágrimas)… aquela foi a assembléia geral que mais me emocionou por ver aquela multidão esperando por uma resposta. Muitas vezes o trabalhador sai para trabalhar sem ter dinheiro para deixar em casa para comprar comida para os filhos. O trabalhador e a trabalhadora passam o dia trabalhando e mesmo assim aceitam o convite do sindicato e ficam numa assembléia debaixo de chuva. Naquele dia vi o poder do dinheiro. Os trabalhadores esperando uma resposta e os patrões querendo nos humilhar. Já passei por várias assembléias, mas aquela me emocionou muito. Eles têm condições de dar o aumento, mas ficam nos massacrando até o último minuto. Nosso trabalho está sendo gratificado. Acho que me expressei nas lágrimas.
Portal do PSTU: Por falar em trabalhadores, o que você pensa sobre o socialismo?
Deuzinha: Acho que temos que lutar por ele. Ah, isso é verdade! Temos que lutar por ele. Esse mundo da burguesia, que vivemos, não é o ideal para os trabalhadores. Temos que lutar pelo socialismo para que todos tenham direitos iguais.
Portal do PSTU: Bem, você quer deixar um recado para as mulheres na semana do 8 de março?
Deuzinha: Não deixem de lutar, seja no canteiro de obra ou onde for. É preciso mais solidariedade e entendimento entre nós mulheres, compreendendo que nosso inimigo é o patrão.