Nonato Martins, motorista aposentado
Diego Cruz

Nos últimos dias, além da greve dos operários da construção civil, Fortaleza se deparou com paralisações e passeatas dos motoristas de ônibus da cidadeUma verdadeira rebelião de bases ocorre agora entre os motoristas de ônibus da capital do Ceará. Os rodoviários, contra a direção do sindicato, estão se mobilizando por reajuste salarial e contra a sobrecarga de trabalho que atinge grande parte da categoria. É a primeira vez em dez anos em que os motoristas descem dos ônibus e vão às ruas.

O que poderia ser apenas mais uma notícia sobre uma luta que passa por cima da direção da categoria têm um diferencial: o acordo coletivo da categoria, que compreende algo em torno de 7 mil trabalhadores, já foi assinado. O sindicato realizou uma assembléia fantasma no dia 30 de abril para assinar um acordo rebaixado com as empresas de ônibus.

Fechada a manobra, divulgaram que o acordo garantiria 9% de reajuste, sendo 5% de reajuste salarial e 4% de produtividade. O detalhe é que os motoristas já recebem esses 4% há anos, ou seja, o acordo foi de apenas 5%. A manobra do sindicato provocou uma imensa indignação na base da categoria, que sofre anos de arrocho e péssimas condições de trabalho. Em 1998, o piso dos motoristas equivalia a 4,7 salários mínimos. Em 2007, esse valor equivalia a apenas 2,4.

“Estamos reivindicando que o nosso salário seja de três salários mínimos, o que daria cerca de 28% de reajuste para atingirmos o que ganhávamos em 2005”, afirma o motorista aposentado Nonato Martins, dirigente do grupo de oposição Resgate-Conlutas, uma das impulsionadoras das mobilizações. Além disso, os motoristas reivindicam vale-refeição de R$ 10, plano de saúde para os dependentes e redução da jornada de trabalho. Hoje, a jornada estressante causa acidentes freqüentes nas ruas e avenidas da cidade.

As empresas costumam superar em muito a jornada semanal de 44 horas. “Tem motorista que passa o dia à disposição da empresa. Sai às 4 da manhã, pára às 7h30, quando é 11h sai de novo, duas horas à tarde e mais duas horas à noite e não se paga hora-extra”, denuncia Nonato, que ainda revela uma manobra das empresas para maquiar a jornada irregular: “eles mandam o motorista marcar um intervalo que na prática não existe, só para fiscalização“.

No 1º de maio pela manhã, os motoristas fecharam o terminal de Parangaba das 10h ao meio-dia. À tarde, o terminal foi fechado das 16h30 às 19h, culminando numa passeata que reuniu mais de mil trabalhadores rodoviários. Já no dia 2, uma manifestação reuniu 500 motoristas. Os trabalhadores querem rever o acordo coletivo além novas eleições para a diretoria do sindicato.

Combatendo a oposição à bala
A atual direção do sindicato, o Sintro-CE, elegeu-se em1999 com a ajuda do PT e da CUT e, a partir daí, encastelou-se no poder da entidade. O estatuto do sindicato já foi alterado quatro vezes. Hoje, a direção não tem ligação com nenhuma força política específica e converteu-se numa camarilha cujo único objetivo é se perpetuar no poder. Membros da direção do sindicato são acusados de tentativa de homicídio contra integrantes da oposição. Em 2007, um carro do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, que apoiava a oposição de rodoviários, foi depredado.

As eleições que renovaram o mandato dessa direção, realizadas em 2005, foram anuladas pela Justiça por fraude. Desde então, o caso patina no judiciário. Tanto o sindicato quanto a patronal afirmaram à imprensa que não reconhecem as mobilizações dos motoristas. A categoria percebe que, para ir até o fim em suas reivindicações, devem derrotar essa direção sindical gangsterista.