Carro oficial tombado pelos trabalhadores nas dependências da Linzhou Steel Corporation
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Mais uma siderúrgica estatal da China teve sua privatização impedida pela mobilização dos trabalhadores em menos de um mês. A primeira foi a Tonghua Iron and Steel, no estado de Jilin, cuja venda a uma siderúrgica privada foi imediatamente suspensa após o linchamento de um executivo pelos operários.

Duas semanas depois, uma greve com ocupação de cinco dias, que também incluiu a prisão de um diretor da siderúrgica estatal Linzhou, em Henan, obrigou o governo a cancelar sua venda para a empresa Fengbao Iron and Steel, apesar de um pagamento já efetuado de US$ 26,5 milhões de um total de US$ 38,1 milhões oferecidos no leilão realizado em 24 de julho desse ano.

Segundo o portal de notícias estatal Daily News, a polícia cortou todas as linhas telefônicas no terceiro dia de ocupação, quinta-feira, e tentou retirar os 3.000 trabalhadores da fábrica na sexta, sem sucesso. No sábado, 15 de agosto, após o acordo feito entre membros do governo e do Partido Comunista da China com os trabalhadores, podiam ser vistos carros tombados no interior da siderúrgica. Pelo acordo, a privatização seria suspensa e os trabalhadores receberiam uma ajuda financeira de US$ 80 até a reativação da produção. O diretor Dong Zhangyin foi libertado após o acordo.

Como sempre acontece na China, os dirigentes da Federação dos Sindicatos da China e do PCC apareceram depois dos incidentes para tentar controlar a situação, afirmando cinicamente que “a participação dos trabalhadores nas reestruturações é essencial” e que o “futuro da siderúrgica Linzhou será decidido por um congresso de operários”, num país onde a liberdade sindical e política é premiada com a prisão. Para completar a manobra, foi formada uma comissão sob a direção do secretário municipal do PCC da cidade de Puyang, Sheng Guomin.

Linchamento de executivo foi parte da justiça operária
O linchamento de Chen Guojun, executivo que preparava a privatização da Tonghua Iron and Steel, não desestimulou os trabalhadores da Linzhou. Ao contrário, utilizaram o mesmo método de sequestro de um diretor de sua empresa. É que os diretores das estatais, sempre indicados pelo PCC, são odiados pelos operários. Fazem parte da burocracia estatal e se alimentam de inúmeros privilégios e salários bem mais altos, sem falar na corrupção e negociatas com as empresas privadas, como leilões fraudulentos. A Linzhou, por exemplo, foi vendida por um preço 19,8% abaixo do valor estipulado. A lei do país permite que o deságio máximo seja de 20%, o que tornou o negócio legal.

Chen Guojun tinha um currículo impecável nesse aspecto. De estrela ascendente no grupo privado Jianlong, passou para o conselho administrativo da estatal que privatizaria. Começou quebrando todas as condutas mais igualitárias desenvolvidas pelos trabalhadores antes da restauração capitalista da China. Os chefes passaram a ganhar três vezes mais que os operários e seu próprio salário era 80 vezes maior. Além disso, estipulava multas entre US$ 15 e US$ 30 pelo descumprimento de suas regras como, por exemplo, um botão de uniforme desabotoado. Por isso, no dia em que Chen foi linchado pelos operários uma grande faixa com os dizeres “Jianlong fique longe da Tonghua Steel” o alertava, mas ele não acreditou na seriedade dos trabalhadores.

Trabalhadores de estatais estão superando uma derrota histórica
No início da década de 1990, a privatização das estatais, uma conquista da revolução socialista de 1949, foi utilizada pelo governo chinês para aprofundar o capitalismo a níveis inimagináveis naquele momento. Pelo menos 30 milhões de trabalhadores das estatais foram demitidos, mas não houve uma reação firme, devido à derrota histórica sofrida pela população chinesa com o massacre realizado pelo PCC na Praça Tiananmen em 1989.

Aparentemente, essa situação começa a ser revertida. Depois de duas décadas de resistências isoladas, os trabalhadores de estatais voltam à cena num momento em que o governo do PCC volta à política de privatização para favorecer as empresas atingidas pela crise econômica. Sua volta à luta pode significar um salto nas mobilizações que os trabalhadores imigrantes protagonizam há vários anos, devido à sua maior experiência de organização sindical e cultura revolucionária.