Está claro que poderemos ter no dia 23 uma das maiores mobilizações nacionais unificadas dos últimos tempos. Convocada originalmente pela Conlutas e organizações que formam o Fórum de Mobilização, criado no encontro do dia 25 de março, a mobilização foi se impondo e unificando distintos setores, e hoje já indica um patamar inédito nos últimos anos.

Poderemos ter uma luta nacional não restrita a um ou mais estados. Se tudo ocorrer como está sendo preparado, teremos também a unificação de trabalhadores da cidade e do campo, do funcionalismo público e do setor privado. Vamos superar o marco limitado corporativista das categorias para unificar os distintos setores do movimento de massas. Vamos ver em ação setores sociais como os metalúrgicos de São José dos Campos (SP) e de várias cidades de Minas Gerais; operários da construção civil de Belém (PA) e Fortaleza (CE); professores e funcionários públicos federais, estaduais e municipais de todo o país; sem-terra e sem-teto de vários estados (MST, MTST, MUST, MTL), e vários outros setores. Assim, poderemos ter uma mobilização conjunta do movimento sindical, estudantil e popular que dê maior segurança a cada uma das categorias para lutar.

A dimensão deste processo indica a possibilidade de um recomeço do ascenso neste país, e também a afirmação da Conlutas como uma alternativa de direção do movimento.

A importância da nota conjunta
Mas o sucesso deste dia ainda não está garantido, não só em termos de sua preparação concreta (mobilização e organização das categorias, dos atos, etc.), como de seu conteúdo político.

Percebendo a possibilidade de que essas lutas possam ser capitalizadas diretamente pela Conlutas contra o governo, as organizações governistas aderiram à mobilização para disputar seu caráter a fim de evitar que o dia 23 seja de claro enfrentamento das massas com o governo Lula.

Isso gerou uma luta política entre as entidades que promovem a data. Ao final de várias reuniões, foi definida uma nota conjunta (que pode ser lida na íntegra em nosso site) claramente contra a “política econômica do governo federal, que enriquece banqueiros e grandes empresários”, e contra a reforma da Previdência, o pagamento das dívidas e toda reforma que retire direitos, com um não à Emenda 3.

Essa nota foi produto de uma luta política contra os setores governistas, em especial contra a direção da CUT, que insistia em retirar qualquer menção ao governo federal. A Conlutas deixou claro que assim não existiria uma ação conjunta, pois o encontro do dia 25 havia definido uma mobilização contra o governo. A Intersindical teve uma posição vacilante: no início seu representante concordou com a posição da CUT de não atacar o governo; depois uma reunião da organização manteve a decisão do dia 25. Ao final, houve um acordo da Conlutas e da Intersindical com o MST ao redor da formulação “contra o governo federal”, que obrigou a CUT a recuar e assinar a nota.

No entanto, agora a direção da CUT quer fazer do dia 23 uma mobilização não contra, mas de apoio ao governo. Uma nota assinada por seu presidente, Artur Henrique, defende uma “nova rodada de manifestações para o dia 23 de maio, em defesa da manutenção do veto presidencial à Emenda 3”, ou seja, segundo a direção da CUT, a mobilização do dia 23 não é contra a reforma da Previdência preparada por Lula, nem contra a política econômica do governo, mas a favor de Lula e seu veto à Emenda 3. Para demonstrar o que está preparando, a CUT já definiu (com o apoio da Corrente Sindical Classista, do PCdoB) que seu ato (separado dos outros setores) será em frente à Fiesp, para dar uma idéia de luta “junto com Lula, contra a direita”.

A Conlutas respondeu com clareza: “a luta contra a Emenda 3 é comum a todos nós, faz parte da plataforma unitária que definimos, mas ela se enquadra dentro do contexto da defesa de todos os direitos que estão ameaçados, inclusive os que são ameaçados pelo próprio governo. Reduzir a luta em defesa dos direitos apenas à defesa do veto do presidente Lula à Emenda 3 é mentir descaradamente aos trabalhadores para proteger o governo”.

Mas na nota da CUT não existe nada além da Emenda 3, nada sobre reforma da Previdência, política econômica do governo, reforma agrária, moradia, etc. A explicação para a posição da central nós já havíamos adiantado na mensagem anterior: “a CUT apóia e está atrelada ao governo Lula, e por isso não consegue lutar contra ele. E não há como lutar contra a reforma da Previdência, contra a política econômica do governo, como defender reforma agrária, emprego, moradia, etc., sem lutar contra este governo”.

Também a luta contra a Emenda 3 seria desviada com essa postura da CUT, mais um recuo em relação à nota conjunta. Nesta se expressa o acordo de todas as organizações ao redor da recusa à Emenda 3, uma iniciativa da oposição de direita que piora ainda mais o projeto da Super-Receita do governo. A Conlutas está contra a emenda, mas contra também todo o projeto reacionário da Super-Receita que, entre outras coisas, transfere a verba da Previdência para o Ministério da Fazenda, com o objetivo de seguir pagando a dívida e justificar a imposição da reforma previdenciária. Uma posição diferente da direção da CUT, que defende só o veto de Lula, apoiando o danoso projeto. Aliás, o governo está negociando com a oposição de direita um substitutivo à Emenda 3 nas costas dos trabalhadores.

Dia 23 é um dia de luta contra a burguesia e contra o governo
É necessário que todos os setores envolvidos com a organização do dia 23 assumam a tarefa de prepará-lo desde as bases como um momento de luta contra o governo e, mais precisamente, contra a reforma da Previdência que está sendo preparada por Lula contra os trabalhadores. Este foi o eixo definido pelo encontro do dia 25, este é o grito que vai ecoar nas mobilizações do dia 23, queiram ou não queiram os governistas.
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