Em meio a grandes protestos e muita demagogia, terminou na semana passada a reunião do G8, o seleto clube dos oito países mais ricos do mundo mais a Rússia. Terminou como começou: sem nenhum avanço na redução de emissão dos gases estufa.

Não podia ser de outro modo. Afinal, seria de uma ingenuidade cândida acreditar que os países que são responsáveis pela grande maioria da poluição atmosférica que assola o planeta tomariam alguma medida para deter o aquecimento global.

Além disso, são esses mesmos países que impuseram os planos neoliberais pelo mundo que forçaram privatizações, abertura de mercados, aprofundando o desemprego e a pobreza.

Cinismo
Naturalmente, George W. Bush, presidente do maior poluidor do planeta, deu de ombros, mais uma vez, para os alertas da comunidade científica mundial. Segundo os cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), para evitar as catastróficas conseqüências do aquecimento global, os países mais ricos do mundo deveriam assumir o compromisso de reduzir pela metade as emissões de gases do efeito estufa até 2050. Se tal redução não for realizada imediatamente, o planeta sofrerá com enchentes e secas que produzirão quebra de safras agrícolas, ampliarão a fome e vão obrigar milhões de refugiados a abandonarem regiões inteiras.

Atualmente, os Estado Unidos não cumprem nem as raquíticas metas estipuladas pelo Protocolo de Kioto. Para os 141 países que o ratificaram, este protocolo teria como objetivo reduzir entre 2008 e 2012, uma média de 5,2% das emissões dos seis gases que provocam o efeito estufa na atmosfera. Mesmo assim, o acordo é um fracasso, pois os EUA não só se recusa a assiná-lo como propôs em substituí-lo por algo pior.

Pouco antes da cúpula, Bush havia proposto um acordo paralelo, com participação dos 15 maiores emissores de poluentes, entre eles a China, que tornou-se o segundo maior emissor de gases estufa nos últimos anos devido, sobretudo, ao acelerado processo de transformação do país em uma plataforma de exportação do imperialismo norte-americano.

A proposta de Bush é um jogo de cena, cujo objetivo é responder ao crescimento da consciência ecológica na opinião pública mundial, após a divulgação dos relatórios do IPCC neste ano. O último relatório mostra que os países capitalistas ricos são os maiores destruidores do meio ambiente.

Mais acordos do que diferenças
O presidente Lula, convidado a participar da cúpula, criticou a proposta dos EUA e a falta de um cronograma para redução de poluentes. No entanto, o presidente brasileiro agiu, ao longo de toda a conferência, como um caixeiro viajante, buscando ganhar mercado para os usineiros brasileiros com a produção do Etanol, considerado um “modelo ecológico” no combate ao aquecimento global.

Segundo o governo, o etanol seria a energia limpa, menos poluente que a gasolina. Mas a produção de etanol precisa do plantio da cana em grandes áreas, ameaçando a Amazônia, e seu cultivo depende de muitos agrotóxicos, queimadas e superexplora brutalmente os cortadores de cana.

Vale lembrar que o etanol começou a ser difundido internacionalmente a partir de um acordo firmado após a visita de Bush ao Brasil. O imperialismo tem todo o interesse de ingressar nesse lucrativo mercado.

Manifestações
Para quem achava que o movimento antiglobalização havia morrido, os protestos em Heiligendamm, Alemanha, local da reunião do G8, mostrou o contrário.

Nas imediações de Heiligendamm, manifestantes realizaram shows de rock reunindo mais de 80 mil pessoas. Também bloquearam estradas e ferrovias de acesso à cidade. O bloqueio obrigou os participantes do G8 a tomarem helicópteros para chegar à cidade. Houve vários confrontos em que a polícia chegou a usar jatos de água, gás lacrimogêneo e efetuar prisões.

O Ministério da Defesa alemão admitiu que utilizou, inclusive, dois caças de reconhecimento do tipo Tornado para sobrevoar os locais onde os manifestantes acamparam. O Ministério também informou que 17 mil policiais foram deslocados para proteger os líderes do G8.

O enorme aparato de repressão não intimidou os manifestantes que colocaram novamente em pauta as manifestações contra a globalização. Bandeiras antineoliberalismo e antiglobalização tremulam novamente na Europa.