Ativistas da UFC divulgam carta com as razões da entrada ao partido. Confira abaixo a íntegra do documentoUM DIÁLOGO FRATERNO COM NOSSO/AS COMPANHEIRO/AS

“A mediação entre teoria e prática revolucionária é a Organização!” (Lênin).

Queremos com esta carta fazer um breve balanço de nossa atuação no movimento e travar um diálogo fraterno com o/as companheiro/as do movimento estudantil com o/as quais tivemos ou temos militado ombro a ombro na perspectiva da transformação da sociedade.

Iniciamos nossa atuação no movimento estudantil no final do ano de 2006 no Centro Acadêmico Grasiela Barroso de Enfermagem UFC, onde atuamos nos últimos três anos. Entramos em contato com o movimento geral a partir da nossa universidade e com o movimento de enfermagem via Executiva Nacional dos Estudantes de Enfermagem (ENEEnf), experiências tratadas por nós com muita seriedade. Fizemos desse contato com o movimento estudantil uma verdadeira escola política. Nosso processo de formação esteve relacionado com os estudos marxistas e nossa atuação nas lutas.

Estivemos em assembléias estudantis, ocupações, mobilizações de massa, em disputas de DCE, organizando e atuando em encontros estudantis. Junto a alguns setores do movimento lutamos contra as políticas neoliberais e privatizadoras do governo Lula: por uma educação pública e de qualidade, contra a mercantilização e sucateamento da saúde, precarização das relações de trabalho e contra a opressão de gênero.

Esses processos foram importantes para a compreensão das políticas de educação, de saúde e as relações de gênero como elementos correlacionados e oriundos de uma mesma fonte: a sociedade capitalista dividida em classes e baseada na exploração do trabalho.

Hoje vivemos num período marcado pela exploração imperialista caracterizada pela reestruturação produtiva, com base na super-exploração e flexibilização do trabalho, perdas dos direitos trabalhistas historicamente conquistados; desmonte da educação e saúde pública com livre crescimento do setor privado; cooptação dos movimentos socais, que deixam de defender os direitos dos trabalhadores e passam a não fazer frente ou defender claramente os projetos governistas em troca de aparato financeiro e político. Essas políticas neoliberais, impostas pela burguesia mundial representada pelas grandes potências imperialistas junto às agências internacionais, são implementadas por governos de frentes populares. No Brasil, temos o governo Lula pondo em prática as reformas da previdência e trabalhista, reforma universitária (REUNI, SINAES/ENADE, Prouni), implementação das FEDP´s (Fundações Estatais de Direito Privado), reforma sindical e o falso controle social, que acaba sendo o controle do Estado sobre a sociedade.

Todo esse quadro é agravado pela crise econômica mundial, que é uma crise cíclica do modo de produção capitalista, ou seja, acontece de tempos em tempos e é também uma forma de reorganização do capital, fortalecendo os grandes monopólios, queimando forças produtivas, promovendo desemprego em massa, redução da carga-horária de trabalho com redução de salários e flexibilização dos contratos. Traz como consequências também o corte de verbas para as políticas públicas de Estado como saúde e educação; a intensificação da retirada de direitos como a limitação à meia estudantil, medida apoiada pela União Nacional dos Estudantes (UNE); o aumento da repressão ao movimento combativo, que tende a se reorganizar em períodos de crise, leia-se greves e manifestações enfrentadas no campo jurídico e com a utilização de força militar.

Nessa conjuntura, onde a burguesia, o governo e sua base apontam para a crise a medida de explorar ainda mais a classe trabalhadora, entendemos que a única saída compatível com os interesses dessa classe é a ruptura com o modo de produção capitalista e a construção de uma sociedade socialista. Hoje, mais ainda, a histórica frase “Socialismo ou barbárie” nos é adequada para sintetizar as tarefas que os militantes do mundo inteiro têm a cumprir neste período, que é de reafirmar que uma outra sociedade é possível, e que para isso temos uma estratégia política a seguir: o da revolução socialista erguida pelos operários, não só em um país, mas construída internacionalmente.

Temos a clareza que apenas uma organização cujo programa pertence à classe trabalhadora pode servir a essa tarefa difícil, não influenciando-a a cair em históricos equívocos reformistas, de apostar a energia e a credibilidade das massas nos trâmites da democracia burguesa, que não avançam na transformação profunda da sociedade e têm o papel de iludir a classe trabalhadora.

O PSTU é a organização que aplica o Programa de Transição trotskista, que atua na classe trabalhadora procurando potencializar as mobilizações e estruturas organizativas do operariado a fim de fazer avançar a compreensão dos trabalhadores de que as lutas cotidianas são, na verdade, a luta por um novo modelo de sociedade. É também a luta para que os trabalhadores e a juventude não paguem pelas incoerências e misérias criadas pelo capital, a luta contra a burguesia, o governo e seus aliados seguindo o método de denúncia/exigência. Pelo fortalecimento de uma organização a nível internacional, que é a LIT (Liga Internacional dos Trabalhadores) e pela reconstrução da Quarta Internacional (QI).

Com a conjuntura colocada e na perspectiva da reorganização da classe trabalhadora via Coordenação Nacional de Lutas (CONLUTAS) e dos estudantes, que hoje estão construindo o Congresso Nacional de Estudantes (CNE), propondo uma nova entidade estudantil combativa e que de fato faça frente aos projetos privatizantes do governo na educação, não participar e não construir as lutas numa perspectiva classista seria um equívoco de tamanho incalculável. Fazemos a opção de nos organizarmos e de construir esse partido revolucionário, compreendendo cada vez mais profundamente seus avanços e acertos, suas limitações e equívocos. Tivemos e temos divergências com as políticas e a atuação do partido, mas esses desacordos limitam-se ao campo da tática e não da estratégia política.

Cabe-nos a responsabilidade hoje de participar ativamente da dinâmica dessa organização, de sua construção contínua e cotidiana, a fim de se ajustar ao seu objetivo, que é de, não sozinho, mas de ser um instrumento dos trabalhadores para a construção da revolução socialista. Também é nossa tarefa avançar nas nossas limitações, na nossa consciência de classe e na atuação coerente com os interesses dos trabalhadores.

Sabemos que essa construção será difícil. Temos desafios no tocante a desenvolver um trabalho de essência operária na área da saúde e da enfermagem. Principalmente compreendendo a opressão de gênero que enfrentamos e que oprime todas as trabalhadoras, limitando as capacidades de mobilização e organização da classe.

Sabemos também que esse passo que damos será incompreendido, criticado, comemorado e repudiado por muito/as de nossos/as companheiros/as. Mas queremos nos colocar de forma aberta e fraterna para os questionamentos e críticas que virão, entendendo que são saudáveis para o cotidiano militante e para a construção dessa organização.

Saudações Revolucionárias!

Danielle Moreira – Estudante de Enfermagem da UFC. Militou no Centro Acadêmico de Enfermagem UFC e Executiva Nacional dos Estudantes de Enfermagem de 2006 a 2008.

Elaine Miranda de Sousa – Estudante de Enfermagem da UFC. Militou no Centro Acadêmico de Enfermagem UFC e Executiva Nacional dos Estudantes de Enfermagem de 2006 a 2008.

Jéssica dos Santos Queiroz – Estudante de Enfermagem da UFC. Gestão do Centro Acadêmico Enfermagem UFC e Executiva Nacional dos Estudantes de Enfermagem de 2007 a 2009.