Depois de percorrer, por 17 dias, os cerca de 200 Km entre Goiânia e Brasília, o último dia da Marcha Nacional pela Reforma Agrária, promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), foi marcado por uma longa caminhada pelas avenidas da capital federal.

Sob o céu azul e um calor abrasador, os sem-terras realizaram atos na frente do Ministério da Fazenda, preservando o presidente Lula das críticas e limitando-se a responsabilizar o ministro Antônio Palocci pela política econômica neoliberal, na frente da Embaixada dos EUA, onde foi incendiada uma bandeira norte-americana, e no Congresso Nacional.

Quando estavam diante do Ministério da Fazenda, os manifestantes foram vítimas de uma ação provocadora da Polícia Militar. De acordo com os sem-terras, uma viatura da PM invadiu a manifestação e provocou o tumulto entre os trabalhadores. Em seguida o comando da PM ordenou que a cavalaria avançasse sobre os manifestantes, deixando 15 pessoas feridos. Helicópteros também passaram em rasante sobre a manifestação assustando os que estavam no ato pacífico.

Promessas de sempre
No final do dia, Lula recebeu uma comissão do MST no Palácio do Planalto onde, mais uma vez, repetiu velhas promessas de desbloqueio de verbas para a reforma agrária e metas de assentamento. Em momentos de pressão é comum que o governo federal faça promessas de que vai acelerar a reforma agrária que são prontamente descumpridas logo depois que os sem-terras deixem as ante-salas do Planalto. Já é uma espécie de padrão de comportamento. Em 2004, por exemplo, depois de uma grande onda de ocupações de terras, o governo prometeu R$ 1,7 bilhões ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. Contudo, até o fim desse ano foram liberados apenas um terço dessa quantia. Pior ainda foi no início de 2005, quando o governo federal, movido pelos compromissos do superávit fiscal ditados pelo FMI, tesourou R$ 2 bilhões de um total de R$ 3,7 bilhões dos cofres do Ministério.

Dessa vez, portanto, não será muito diferente. Depois de três horas de reunião, Lula apresentou mais um pacote de promessas para o MST. O governo disse que vai liberar os recursos necessários, sem um valor fixado (!), para cumprir a meta de assentar 115 mil famílias este ano e 400 mil até 2006. A direção do MST disse que está satisfeita. “Ambicionávamos mais, mas foi o possível construir e saímos satisfeitos do entendimento com o governo”, afirmou Jaime Amorim, um dos coordenadores nacionais do MST.

O conjunto do MST deve fazer uma reflexão nesse momento. A marcha a Brasília que juntou 12 mil sem-terras, sendo uma das maiores já vistas, foi sem dúvida uma importante manifestação dos movimentos sociais. Contudo, as bravas mulheres, homens e crianças que a protagonizaram não foram a Brasília para dizer em seus assentamentos e acampamento de beira de estrada que estão “satisfeitas” com mais um pacote de promessas do governo federal. A direção do MST comete um grave erro ao dizer que Lula é um “aliado”. O governo está comprometido até o pescoço com o latifúndio e o agronegócio, mas, temendo uma explosão na luta no campo, usa seu prestígio nos movimentos sociais para enrolar os sem-terras e não fazer a reforma agrária. É preciso que o MST rompa com esse governo e amplie a luta no campo.