Governos entreguistas multiplicam a entrada das maquilas e o grau de exploração dos trabalhadores, num retrato do que poderá ser a Alca.
Elas preparam seus alimentos de pé, nos cantos imundos das fábricas. Tomam banho em lavatórios comuns, uma ao lado da outra, e dormem apinhadas nos mesmos lugares onde trabalham jornadas de 10, 12 e 14 horas. As precárias condições das fábricas já causaram incêndios mortais. Num deles, 200 adolescentes morreram queimadas porque não havia saída de emergência no local.
Não estamos falando do século XIX, quando milhares de mulheres e crianças morriam nas fábricas têxteis, trabalhando com água até os joelhos e fazendo suas refeições sobre as máquinas.
Estamos falando de hoje, século XXI, na América Latina, e do avanço acelerado das maquilas na região. Sob o pretexto de minorar o desemprego, os governos entreguistas estão multiplicando a entrada das maquilas e o grau de exploração dos trabalhadores, num retrato cruel do que nos espera com a Alca.
O que são as maquilas?
Maquilas ou maquiladoras são empresas que fazem uma parte determinada de um produto destinado à exportação, como a montagem das partes ou a embalagem. Para baixar os custos, as multinacionais transferem algumas dessas atividades para os países periféricos. Assim, as maquilas apenas montam um produto que depois é exportado. As maquilas surgiram na América Latina nos anos 60 e 70, sob os auspícios dos EUA, mas foi nos anos 90 que elas tomaram um grande impulso. Na América Central, seu avanço foi brutal nos últimos anos. Elas representam, hoje, entre 30 e 40% do emprego formal e quase 20% do PIB industrial da região.
Dedicadas sobretudo aos ramos têxtil e eletro-eletrônico, as maquilas se instalam nas chamadas zonas de exportação, ou zonas francas, onde praticamente não pagam impostos e contam com benefícios, já que os governos locais, para incentivá-las, oferecem facilidades que as empresas nacionais não têm, inclusive a cessão gratuita do terreno onde se instalam. Atualmente são cerca de 200 zonas de exportação, espalhadas por 50 países, empregando vários milhões de trabalhadores, 80% dos quais são mulheres entre 16 e 25 anos.
O enorme desemprego é um prato cheio para a ânsia de lucro das maquilas. Elas também aproveitam a enorme diferença salarial entre o Norte e o Sul. Enquanto um operário mexicano, em 1998, ganhava US$ 1,51 por hora, o dos EUA, por um trabalho idêntico, recebia US$ 17,2.
Ao não produzirem nada, as maquilas não precisam de mão-de-obra especializada. Por isso, a imensa maioria dos trabalhadores são mulheres jovens, sem filhos, sem experiência e solteiras.
Cara moderna da escravidão
As mulheres trabalham jornadas estafantes, sem que as autoridades locais exerçam qualquer fiscalização. Os direitos trabalhistas, reconhecidos em inúmeras declarações e convenções internacionais, são letra morta.
Não são poucos os casos de morte por excesso de trabalho. Ficou famoso o caso de Carmelina Alonço, que morreu há três anos por esgotamento físico depois de ter trabalhado turnos de 14 horas numa fábrica nas Filipinas. Apesar de ter causado comoção e ter trazido à tona as formas modernas de escravidão em que vivem as mulheres nas maquilas, a situação não mudou em nada.
A palavra maquila é sinônimo de precariedade, abusos, assédio e violência sexual contra as mulheres, total falta de liberdade sindical e de negociação, salários de fome e jornadas esgotantes.
Sem qualquer fiscalização dos governos locais, a maioria das maquilas funcionam sem extintor de incêndio, ventilação adequada, banheiros e refeitórios, fazendo do trabalho uma violência que se abate sobre as mulheres, em todos os aspectos. No México e em El Salvador são exigidos certificados de não-gravidez, as empregadas passam por exames mensais e a gravidez é justa-causa para demissão imediata.
É importante frisar que o avanço da implantação das maquilas foi após o fechamento de acordos comerciais como, por exemplo, o Nafta (entre países da América do Norte) e o Cafta (EUA com países da América Central).
Ao pretender criar a maior zona de livre comércio do mundo, a Alca fará da América Latina uma grande maquila.
Esse é o futuro que nos espera, caso não barremos a Alca imediatamente.
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