No último dia 12 de abril, às 11 horas da manhã, um grupo de palestinos fez um protesto pacífico na frente da Embaixada Palestina, na cidade de Beirute, no Líbano. Os manifestantes cobravam as autoridades por não receberem a ajuda humanitária internacional a que têm direito. Além de não terem sido recebidos, o embaixador mandou um corpo de segurança reprimir a manifestação, agredindo a todos, incluindo crianças e mulheres idosas.

Seguranças da embaixada palestina em Beirute atacam os refugiados palestinos que exigem liberdade e dignidade.

No dia anterior à manifestação, o grupo “Alto Comissariado pelos Direitos dos Palestinos Refugiados” postou um comunicado aos ativistas convocando a manifestação. O comunicado afirma que a manifestação foi autorizada pelo governo libanês e que qualquer repressão é de inteira responsabilidade da embaixada. O grupo inclusive nomeou os dois principais responsáveis: o embaixador Ashraf Atef Qassem Dabour e Fathi Abu al-Aradat, Secretário Geral do partido Fatah e representante da OLP.

Os palestinos que fizeram manifestação são parte daqueles que fugiram da Síria, devido à guerra civil no país. Parte deles se refugiaram no Líbano, país vizinho, que enfrenta uma grave crise econômica. Alguns palestinos recebem ajuda internacional, especialmente da UNRWA, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente. Mas quando eles saem de seu país de refúgio, deixam de receber o auxílio.

Os palestinos que moram no Líbano têm acesso ao auxílio, e os que moram na Síria também. Mas os que fugiram da Síria e foram para o Líbano deixaram de receber. A crise econômica no país se agrava com a pandemia. Isso resulta em mais racismo e xenofobia contra sírios e palestinos no país. É muito difícil para os refugiados conseguir empregos ou outro tipo de renda.

A grande mídia no Líbano e a mídia internacional não fizeram a cobertura do ato, o que dificulta obter mais informações. A Organização Internacional Alemã para a Paz e Desenvolvimento, uma organização de caridade, divulgou no seu site algumas denúncias que receberam do ativista Mohamed al-Louh. Ele afirma que as famílias que estão em seu segundo refúgio querem uma solução definitiva para seu sofrimento. Eles querem sair do Líbano, querem um corredor livre para ir a qualquer país com condições de recebê-los. Também denuncia a embaixada, que “falhou com os palestinos porque bateram neles quando exigiam seus direitos”.

Como as autoridades libanesas autorizaram o ato, a embaixada não pôde convocar nem a polícia nem o exército oficial para reprimir. No vídeo da manifestação vemos que os agressores estavam sem uniforme oficial de nenhuma força de repressão estatal ou privada. Por conta disso, nas redes sociais, vários ativistas acusam a embaixada de ter convocado a Shabiha para reprimir a manifestação. A Shabiha é uma espécie de milícia utilizada pelo governo sírio para reprimir mobilizações populares. Um de seus maiores crimes foi o Massacre de Houla, em que essa milícia matou 108 pessoas, incluindo 34 mulheres e 49 crianças, em 2012, em duas vilas na Síria.

Enviar sua milícia para reprimir essa manifestação no Líbano não é o primeiro crime do ditador sírio Bashar al-Assad contra os palestinos. A repressão ao campo de refugiados palestinos Yarmouk na Síria é um caso exemplar. Antes da revolução, o campo contava com mais de 250 mil palestinos, e durante a guerra foi atacado pelo governo, restando apenas 18 mil pessoas. Hoje, o partido palestino Hamas demanda a reconstrução do campo de refugiados de Yarmouk.

Tanto o ditador sírio quanto o partido Fatah, a OLP e a Autoridade Palestina se auto-proclamam internacionalmente como defensores dos palestinos no mundo. Mas são em casos como esses que vemos a hipocrisia de seu discurso. É dever de todos os trabalhadores, especialmente daqueles que se consideram solidários aos palestinos, denunciar os crimes dessas organizações e partidos e defender a ajuda aos palestinos que tiveram que fugir da Síria.

Mas a solução definitiva para os palestinos só vai acontecer com a queda da ditadura de Bashar al-Assad na Síria e com o fim do Estado de Israel. É preciso fortalecer a reorganização internacional dos trabalhadores palestinos em refúgio e a solidariedade de todos os trabalhadores do mundo para a causa palestina. Não apenas nas palavras, mas na ação efetiva e ativa.