Ato classista e independente na Praça da Sé (SP), organizado pela CSP-Conlutas, PSTU e diversas organizações políticas | Foto: CSP-Conlutas
PSTU-SC

PSTU Joinville (SC)

Tivemos um 1° de maio estranho em Joinville (SC). Esta que é a mais importante data da nossa classe no mundo todo, o dia de luta de quem tem a mais-valia roubada cotidianamente, este dia de greves e protestos, em Joinville, teve uma enorme lacuna.

E falamos de Joinville, um importante polo metropolitano, maior região operária do sul brasileiro, cidade onde o PT já governou várias vezes, onde a CUT e UGT coordenam importantes sindicatos, onde importantes mobilizações aconteceram em junho/2013 e também pelo ‘Fora Bolsonaro’ em 2021.

600 mil pessoas, grande parte operários fabris, ficaram absolutamente sem nenhum ato neste 1° de maio. O que aconteceu? Por que as grandes centrais sindicais, hoje apoiadoras do governo Lula, não fizeram nada?

Como não existe espaço vazio na política, o prefeito luterano e minarquista Adriano Silva (Novo) se aliou com a Rede Record, do bispo Edir Macedo, e organizou uma “Festa do Trabalhador”. Um evento midiático, com sorteios de brindes, prestação de serviços gratuitos, música de dupla sertaneja, exposição antigomobilista, comércio de artesanato, e uma enorme demonstração de força do aparato repressivo militar (Exército, PM, PRF, polícia civil, bombeiros militares, e outros). Por fora, literalmente por fora dos monstruosos salões da expoville, a igreja Assembleia de Deus era apresentada por seus membros militantes. Havia um ar de disputa entre a promotora oficial do evento (Igreja Universal do Reino de Deus) e Assembleia de Deus como militante cristã reacionária e abnegada.

Com uma presença significativa (mas não multitudinária) de trabalhadores e outros populares, a “Festa do Trabalhador” parecia ser “apolítica”, mas na verdade era uma festa popular da extrema direita com uma velha mensagem subliminar: “o patrão é bom, pois me dá emprego”.

Os sindicatos e centrais sindicais não apareceram na tal “Festa do Trabalhador”, nem mesmo do lado de fora com um panfleto alternativo. Aliás, a Assembleia de Deus disputou o evento com uma tática agitadora de esquerda, com trio elétrico fazendo um ato religioso paralelo já na abertura dos portões bem cedo, e com faixas e bandeiras abanadas ferozmente nas vias de acesso ao portão principal da expoville durante todo o dia. A reacionária Assembleia de Deus foi a “esquerda” do ato oficial do 1° de Maio em Joinville.

Conciliação de classe

Não foram eventos como esse organizado pelo prefeito de Joinville que predominou no Brasil no 1º de Maio. O que predominou foram atos realizados por centrais sindicais e sindicatos, em sua maioria com um discurso governista, imposto pelas grandes centrais sindicais – CUT, CTB, Força Sindical, UGT – hoje apoiadoras do governo Lula/Alckmin.

O caráter governista e conciliador de classe desses atos se expressou com bastante ênfase em São Paulo. O ato das grandes centrais contou com a presença de Lula e vários políticos de direita. A centrais sindicais enviaram convite até para o governador de São Paulo, o bolsonarista Tarcísio de Freitas.

Atos classistas e independentes

Mais em várias capitais, com destaque São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém e Porto Alegre, e em cidades grandes (como Criciúma) ocorreram atos internacionalistas e classista, sem representantes de patrões e governos). Foram atos pequenos, mas vivos e combativos. Militantes de diversas organizações políticas e sindicais, estudantes, artistas populares, trabalhadores da cidade e do campo uniram-se para lutar e protestar, como deve ser o 1º de Maio.

Joinville também teve o seu ato “classista” neste dia. Realizado numa associação de moradores de um bairro operário, e coordenado por anarquistas, um sarau (exageradamente artístico e pouco libertário, na medida em que vetou intervenções de última hora), sem patrões e sem governo, cumpriu um papel positivo.

Por que?

Mas a pergunta que não quer calar é por que as centrais sindicais ligadas ao lulismo de Joinvile não promoveram um ato, mesmo que fosse pelego e traidor como fizeram o todo o Brasil? O silêncio das grandes centrais em Joinville é ensurdecedor. Teriam tido vergonha? Medo? Preguiça? Foi por falta de experiência política que não viram a lacuna? Por quê?

O fato é que ao não fazerem absolutamente nada em Joinville, as grandes centrais sindicais, com responsabilidade maior a CUT, deixaram que o prefeito bolsonarista ficasse à vontade para fazer seu ato de extrema direita. Se estas centrais cometeram um erro grave ao fazer atos de conciliação de classes pelo país afora, fizeram bem pior em Joinville a não chamar uma ato unitário com todos os movimentos sociais, partidos de esquerda, entidades estudantis e movimentos culturais para se contrapor ao ato da extrema direita. Ao agir assim, fortaleceram o projeto bolsonarista em nossa cidade. Deixaram os trabalhadores de Joinvile a mêrce de um ato feste, coordenado por igrejas evangélicas e políticas da extrema direita.