Destruição provocada por Israel em Jenin Foto palinfo.com
Soraya Misleh, de São Paulo

No início deste mês de julho um mundo assombrado se deparou com cenas da barbárie israelense no campo de refugiados de Jenin. Em meio aos escombros e ao sangue derramado no campo, o que permanece intacto é o ânimo da resistência.

Ao final de mais esse massacre em Jenin, por terra e ar, foram 12 palestinos mortos e mais de 100 feridos. Jornalistas se viram sob cerco, ambulâncias e médicos eram impedidos de entrar para resgatá-los. Israel disparou gás lacrimogêneo até mesmo dentro do hospital local.

Entre as cenas aterrorizantes, a imagem emblemática da contínua Nakba (catástrofe com a formação do Estado racista de Israel em 15 de maio de 1948 em 78% da Palestina mediante limpeza étnica planejada): cerca de 3 mil palestinos, crianças, jovens, mulheres e homens, sendo expulsos violentamente de suas casas e terras.

O campo

Parte dos refugiados da Nakba de 1948 se tornaria deslocada internamente, abrigando-se no campo de Jenin, criado em 1953 e um dos 19 estabelecidos na Cisjordânia, território palestino ocupado em 1967, pela UNRWA (agência de assistência aos refugiados palestinos).

Entre 1º. e 11 de abril de 2002, meses antes da Segunda Intifada (levante popular iniciado em 28 de setembro daquele ano que se seguiria até 2005), forças de ocupação sionistas promoveram um massacre por terra e ar. O campo foi destruído, vindo a ser reconstruído depois pela UNRWA.

A estimativa oficial é que hoje cerca de 15 mil vivam ali. A vulnerabilidade no campo é grande. Os refugiados palestinos amontoam-se nos seus 0,42km2, em condições insalubres e precárias, convivendo com esgoto a céu aberto, falta de água e eletricidade, desemprego e miséria, além das frequentes e criminosas incursões sionistas.

Durante uma delas, em 11 de maio de 2022, um sniper matou a jornalista da Al Jazeera, Shireen Abu Akleh. Em 26 de janeiro último, Jenin foi atacada mais uma vez: dez palestinos tombaram, outros 20 ficaram feridos. E em 21 de junho, foram oito martirizados e 50 feridos, quando, pela primeira vez desde a Segunda Intifada, Israel recorreu também a ataques aéreos na Cisjordânia. Somente neste ano, são cerca de 200 palestinos assassinados, além de pogroms perpetrados por colonos sionistas. Mas também muita resistência, que protagonizou cenas inusitadas de derrubada de drones, helicópteros israelenses alvejados e tanques cercados.

Quem é a nova resistência

Por suas próprias condições degradantes, Jenin tem semeado na juventude, que sente que nada tem a perder, nova resistência que se espraia para outras partes da Palestina. Uma resistência armada, que forma brigadas e se autointitula Toca dos Leões, descrente das lideranças tradicionais.

Essa juventude é reconhecida como os “filhos de Oslo”, que nasceu após os malfadados acordos de Oslo assinados em setembro de 1993 entre a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e Israel, sob intermediação do imperialismo estadunidense.

Vendidos ao mundo como paz gradual na já morta solução de dois estados (em que o Estado palestino viria a ser criado em 22% apenas de seu território histórico, a parte ocupada em 1967), os acordos criaram a gerente da ocupação, Autoridade Palestina (AP), com cooperação de segurança com Israel e que tem feito o trabalho sujo de reprimir, prender e entregar a resistência a Israel. “Nós precisamos da Autoridade Palestina. Não podemos permitir seu colapso”, afirmou o primeiro-ministro sionista, Benjamin Netanyahu ao canal israelense I24News.

Sem apoio

Rechaço à Autoridade Palestina

Muitos dos jovens que protagonizam essa nova resistência já passaram pelos cárceres da Autoridade Palestina. Após o novo massacre no início de julho, o posto da gerente de ocupação em Jenin foi apedrejado pelos palestinos e seus representantes, hostilizados, por terem abandonado o campo à própria sorte.

Mahmoud Abbas, presidente da AP, resolveu visitar o campo no último dia 12, depois de 11 anos sem colocar seus pés ali, para tentar reverter o rechaço geral e capitalizar em cima da popularidade da resistência entre a maioria dos palestinos. Não deu certo. Não passou do portão e ficou apenas uma hora no local.

Netanyahu – que enfrenta crise interna e tenta reverter a queda de sua popularidade derramando o sangue palestino – de fato precisa da gerente da ocupação para avançar na colonização e limpeza étnica. E a AP tem dependência econômica integral de Israel. É uma relação simbiótica. O povo palestino sabe bem disso.

Pesquisa do Centro Palestino para Pesquisa Política e de Opinião divulgada em 26 de junho último indica queda na popularidade do Fatah e de Mahmoud Abbas, com 80% exigindo sua renúncia. Cresce também o número dos que creem que a existência da Autoridade Palestina favorece Israel, sendo que metade diz que seu colapso ou dissolução serve aos interesses palestinos.

Resistência

Intifada à espreita

Segundo a mesma pesquisa, mais de dois terços dos palestinos entrevistados na Cisjordânia e em Gaza acreditam que Israel não celebrará seu centenário e que, no futuro, o povo palestino poderá recuperar a Palestina e os refugiados, retornarem as suas terras. A dita solução de dois estados está cada vez mais em baixa.

Pesquisa anterior, de março último, indica que 78% dos palestinos entrevistados apoiam a resistência armada e 61% esperam a erupção de uma terceira Intifada. Esta segue à espreita e virá, cedo ou tarde. Rumo à Palestina livre, do rio ao mar.