Soraya Misleh, de São Paulo
Soraya Misleh
Neste 30 de março os palestinos celebram o Dia da Terra em meio a uma dupla ameaça: a ocupação israelense e o novo coronavírus. Enquanto o mundo enfrenta a pandemia de covid-19, com mais de 600 mil casos confirmados e milhares de mortes, Gaza, que conta até o momento nove infectados, foi bombardeada mais uma vez por Israel no último sábado (28 de março).
Lá, devido ao bloqueio sionista desumano que dura mais de 13 anos e ofensivas contínuas, os hospitais contam apenas 15 respiradores disponíveis para atender pacientes graves – na estreita faixa, a área mais densamente povoada do mundo, vivem 2 milhões de palestinos. A informação sobre a ínfima quantia de ventiladores pulmonares foi dada pelo diretor da Organização Mundial da Saúde em Gaza, Abdelnasser Soboh, em matéria do G1.
Na Cisjordânia, em que são mais de 100 casos confirmados de covid-19 e uma morte, Israel invadiu, no dia 26, a aldeia de Khirbet Ibziq, ao norte do Vale do Jordão, para confiscar materiais destinados à construção de uma clínica de emergência comunitária, demolindo o local que serviria para salvar vidas palestinas ante a pandemia. Há ainda relatos de que soldados das forças de ocupação estariam cuspindo nas maçanetas de carros de palestinos para contaminá-los. Essas ações criminosas se somam a outras, como por exemplo nos cárceres em que se amontoam 5 mil presos políticos palestinos, incluindo mulheres e crianças. São parte da limpeza étnica contínua, desde a Nakba (a catástrofe com a criação do Estado de Israel em 15 de maio de 1948).
Os palestinos e povos árabes na região vão denunciar do alto de suas janelas essa situação neste 30 de março. Vão erguer a bandeira palestina em solidariedade e saudação à heroica resistência. Uma mensagem pelo fim da ocupação e colonização criminosas, com retorno dos 5 milhões de refugiados às suas terras, cuja vulnerabilidade nos campos é igualmente gigantesca ante a covid-19. Acompanharão, assim, ação em Gaza – em lugar da Grande Marcha do Retorno, dada a necessidade de isolamento social.
Em todo o mundo, pessoas solidárias se somam às manifestações pelo Dia da Terra, anualmente. A data lembra protestos que ocorreram em 30 de março de 1976 na Galileia, contra a tomada de terras por Israel. Foi a primeira vez em área ocupada em 1948. A repressão sionista foi violenta, deixando no total seis mortos, centenas de feridos e presos. A resistência e memória dos mártires permanecem vivas em cada palestino que levanta suas bandeiras ano a ano – e expande-se nas vozes da solidariedade.
Na América Latina e no Brasil, não é diferente. Neste ano de 2020, não será possível realizar eventos presenciais, mas o chamado é para que a região se some às ações que ocorrem no Oriente Médio e Norte da África.
Uma só luta
No Brasil, está marcado grande panelaço nesta terça-feira (31 de março), a partir das 20h30, contra Bolsonaro. O movimento BDS (boicote, desinvestimento e sanções) conclama a todos e todas que levantem também a bandeira da solidariedade aos palestinos . Uma forma de saudar o Dia da Terra e enviar mensagem aos palestinos de que não estão sós.
Assim, neste dia 31, não à toa escolhido como dia do grande panelaço pelo “Fora Bolsonaro” – já que inicia a ditadura civil-militar no Brasil, à qual Bolsonaro insiste em fazer apologia –, o chamado é pelo grito também “Palestina livre”.
Para além da necessária solidariedade, as lutas estão conectadas: Bolsonaro é o que se denomina “sionista cristão”, um forte apoiador do Estado racista de Israel. Este último, por sua vez, colaborou com os regimes de exceção no Brasil e em toda a América Latina . E hoje o Brasil é o quinto maior importador de tecnologia militar sionista. Armas israelenses estão nas mãos das polícias que promovem o genocídio da população pobre e negra nas periferias brasileiras. O chamado por Palestina livre simboliza a luta contra a opressão e exploração, aqui e em todo o mundo. Pelo 30 de março, vidas palestinas também importam. Vidas negras e indígenas também importam. Fora Bolsonaro, Palestina livre, do rio ao mar.