Gabriel Huland, de Madri
As Forças de Defesa de Israel (FDI) invadiram a casa da família Tamimi na cidade de Nabi Saleh (na Cisjordânia ocupada) na madrugada de quarta-feira (19) e tiraram a força a jovem de 16 anos que havia se enfrentado com um policial israelense alguns dias antes.
O Estado sionista a acusa de agressão e incitação à violência. A prisão se deu após se viralizar um vídeo em que Ahed aparece enfrentando um policial israelense depois que as FDI haviam disparado contra seu primo Mohammad (de 15 anos), ferindo-o no rosto com uma bala de borracha. Os soldados israelenses se encontravam dentro de uma propriedade da família Tamimi quando ocorreu o confronto. Neste momento, a mãe de Ahed, Nariman, também se encontra detida e seu pai, Bassem, foi intimado a prestar depoimento na corte militar de Ofer, perto de Ramallah.
Ahed se converteu há alguns anos em um símbolo da luta palestina ao representar a nova geração de jovens que se enfrentam diariamente com os crimes cometidos todos os dias pelas forças de ocupação israelense. Por ser jovem e mulher sofre duplamente as formas de opressão a que está submetida toda a sociedade palestina.
O ministro de Educação de Israel, Naftali Bennet, um radical de direita membro do partido religioso Casa Judaica, afirmou que a jovem de 16 anos deveria permanecer na cadeia “o resto de seus dias“. As Forças de Defesa de Israel publicaram nas redes sociais o vídeo do momento em que vários soldados entraram violentamente na casa dos Tamimi e levaram a jovem no meio da noite.
Cresce a resistência à ocupação sionista
A detenção de Tamimi se dá em meio a um aumento das tensões na Palestina após o anúncio por parte do presidente dos EUA, Donald Trump, de reconhecimento de Jerusalém como capital do Estado judeu. Desde então, temos visto um crescimento das mobilizações e ações de resistência nos territórios ocupados da Cisjordânia e outras partes da região. Algumas organizações falam de uma nova Intifada, fazendo referência aos últimos levantamentos massivos da população palestina contra a ocupação de Israel, em 1988 e 2000.
Israel, por outro lado, se vê mais fortalecido que nunca pelo apoio incondicional de Trump a suas políticas de ocupação e limpeza étnica nos territórios palestinos. A imagem de uma jovem ativista se enfrentando e fazendo um soldado israelense recuar representa uma desmoralização às forças de ocupação e não podia passar inadvertidamente. As autoridades israelenses querem converter Ahed num exemplo do que pode acontecer a quem se levanta contra Israel.
No entanto, o efeito da detenção de Ahed parece ser diferente do que queriam as autoridades de Israel. Estão programados atos de solidariedade pela liberdade da jovem ativista em diferentes partes do mundo e está ocorrendo uma enorme campanha nas redes sociais contra essa detenção arbitrária. Por outro lado, se somarmos a todo isso a fragorosa derrota dos EUA na Assembleia das Nações Unidas que votou por 120 votos a 9 uma resolução rechaçando a medida de Trump sobre Jerusalém, podemos concluir que o isolamento internacional dos EUA e Israel aumenta.
Ainda que se trate de uma resolução bastante limitada, uma vez que a ONU não tem nenhum poder real sobre as grandes potências e de fato sempre tem sido um aliado de Israel em suas políticas racistas e de ocupação, a desmoralização internacional de Israel é um fator muito relevante nessa questão. Se tudo isso vem acompanhado de um forte processo de mobilização, Israel pode se ver obrigado a libertar Ahed e seus familiares.
Nabi Saleh simboliza a luta palestina
Nabi Saleh é um povoado histórico situado a 20 km de Ramallah, na Cisjordânia ocupada. Tem uma população de pouco mais de 600 habitantes, mas se converteu numa referência internacional da luta palestina contra a ocupação sionista.
A colônia de judeus ortodoxos Halamish, considerada ilegal pelo direito internacional, se estabeleceu na zona em 1977 e vem estendendo seu território ininterruptamente desde então. O direito israelense autoriza e legitima o confisco da terra palestina, baseando-se numa interpretação falaciosa de uma lei otomana, quando esta se considera vazia e inutilizada. Os colonos não só estão se apropriando das terras, como também das fontes de água utilizada pelos habitantes de Nabi Saleh.
Desde 2009, a população local vem realizando protestos semanais (a cada sexta) para divulgar sua situação e denunciar a tentativa de expulsão que sofrem por parte dos colonos protegidos pelo Estado de Israel. A família Tamimi organiza os protestos, que ocorrem até hoje, despertando a atenção de vários meios internacionais, ainda que atualmente, antes da prisão de Ahed, o conflito estivesse um pouco esquecido. Diferentes organizações de Direitos Humanos, inclusive de Israel, têm apoiado e participado dos protestos junto aos habitantes de Nabi Saleh.
A luta de Nabi Saleh é a luta do povo palestino pelo seu direito de viver dignamente em seu território. Nabi Saleh merece todo nosso apoio e solidariedade. Ahed simboliza o espírito da nova geração de jovens que seguiram levantando a bandeira palestina contra a ocupação sionista. Simboliza o novo ante os velhos partidos palestinos que se acomodaram e não pensam em enfrentar seriamente o Estado de israel.
Liberdade a Ahed Tamimi!
Liberdade a todas e todos os presos políticos palestinos!