Leia a nota do Movimento Luta Popular sobre a violenta reintegração de posse levada a cabo pela Polícia Militar no último dia 23

O movimento Luta Popular, há mais de dois anos, vem realizando um trabalho de organização popular na comunidade São Remo, ao lado da Universidade de São Paulo.

Esta comunidade que reúne milhares de famílias se formou com a construção da cidade universitária na década de 60, constituindo-se, sobretudo, por trabalhadores da obra. O cenário hoje não muda e os portões de pedestres que conectam a favela à universidade se inundam de trabalhadores e trabalhadoras no fim do expediente; os moradores da São Remo seguem sendo aqueles que fazem a universidade de São Paulo – a melhor da América Latina – funcionar.

Sofrem, no entanto, com muitas carências para as quais a universidade fecha os olhos: criminalização por parte da polícia, problemas com a parca coleta de lixo, ausência de saneamento básico, falta de creches e de condições dignas de habitação.

Já fizemos, em 2012, uma luta por uma creche – promessa antiga dos governos que não será cumprida sem luta. Enquanto isso, as centenas de crianças que cadastramos amontoam-se nas vielas sem ter pra onde ir. Já fizemos lutas para ter acesso ao plano de reurbanização que USP fez para a São Remo sem ter ouvido nem sequer um morador. Talvez os diplomados achem que saibam mais que aqueles que limpam o chão das salas onde lecionam.

Quando fomos chamados a auxiliar na organização de uma luta por moradia envolvendo as inúmeras famílias que ali vivem de aluguel, não pensamos duas vezes: O Luta Popular está onde estão os trabalhadores e trabalhadoras que desejam se organizar para construir um amanhã melhor.

Na sexta-feira, dia 19 de dezembro, entramos naquela área abandonada há décadas imbuídos de coragem, impaciência e um sonho: o de consquistar um lugar para o merecido descanso no final de todos os dias. A Polícia Militar, quando chegou ao local, agiu de forma ponderada, ouviu as famílias (que estavam organizadas e só por isso se fizeram ouvir) e trouxe um representante do setor de segurança da USP que disse não ter poder de decisão, mas a tarefa de avisar os “chefes”.

Terrível é que aqueles que exploram de segunda a sexta, tramam covardemente o despejo aos domingos e, nesta terça-feira, por volta das 6 da manhã, a PM chegou para realizar o despejo. Vimos que não tínhamos forças para resistir e, por isso, saímos, pacificamente, caminhando de volta para nossa precariedade superexplorada pela USP.

No entanto, alguns terrivelmente indignados e agindo sozinhos, terminaram por realizar ações que não foram decididas pelo coletivo de famílias que construiu a ocupação. Uma pena porque, de nosso sofrimento, ficaram apenas as imagens que fazem com que a vilã USP se passe por vítima.

Acontece, coisas da luta…

Em cada beco da comunidade São Remo ainda se pode sentir o cheiro de gás lacrimogêneo e ainda ecoa o barulho das bombas a explodir.

Mesmo assim, o som que mais alto escutamos é aquele que canta dentro de nós: NÓS VAMOS OCUPAR OUTRAS VEZES, TODAS AS TERRAS VAZIAS, ATÉ QUE NINGUÉM MAIS SEJA SEM-TETO, ATÉ QUE NINGUÉM MAIS SEJA SEM ESPERANÇA.

Todo apoio aos moradores da São Remo!

Movimento Luta Popular

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