Redação

Enquanto fechávamos esta edição, mais um presidente da Petrobras caía. José Mauro Ferreira Coelho renunciou ao cargo poucos dias após o anúncio de mais um aumento dos combustíveis, desta vez de 14,26% no diesel e 5,18% na gasolina. É o quarto presidente a ser rifado da estatal só no mandato de Bolsonaro.

A divulgação da nova rodada de aumentos fez Bolsonaro esbravejar contra a empresa. “A Petrobras pode mergulhar o Brasil num caos”, tuitou. Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chefe do centrão e quem de fato manda no Orçamento da União, escreveu um artigo violento na Folha de S. Paulo atacando a estatal: “Se a companhia decidir enfrentar o Brasil, ela que se prepare: o Brasil vai enfrentar a Petrobras.

Esse teatro que finge indignação junta Bolsonaro e o centrão e tem a Petrobras como alvo. A intenção é tão evidente quanto canalha: botar toda a culpa pela escalada dos preços dos combustíveis na empresa e tirar o corpo fora. Até mesmo uma “CPI da Petrobras” foi aventada por essa turma, até que alguém parece ter feito uma ressalva: “Espere um pouco, fomos nós do governo que indicamos o presidente e a maioria dos diretores.” A ideia, então, parece abortada por hora.

De resto, esses ataques visam minar a confiança da empresa com vistas à sua privatização num futuro não tão longínquo, entregando diretamente a empresa aos megaespeculadores.

Pressão eleitoreira

A pressão do governo Bolsonaro não tem nada a ver com a escalada inflacionária no preço dos combustíveis e a alta no custo de vida que isso acarreta ao povo. Pretende apenas segurar momentaneamente os preços até as eleições. É como o Paulo Guedes sugeriu aos supermercadistas: segurem aí até as eleições, depois podem liberar à vontade.

Bolsonaro sabe que a inflação, que chega a quase 12% no acumulado dos últimos 12 meses, e que na cesta básica se aproxima dos 30%, é um dos, se não o maior, fatores de desgaste junto à população. E, para estancar pelo menos parte disso, ele vai fazendo seu troca-troca de diretores e presidentes. Ao mesmo tempo, vocifera de forma cínica contra os lucros exorbitantes da Petrobras para fazer parecer que não tem nada com isso, quando, na verdade, serve aos mesmos bilionários que critica na imprensa.

SUBSÍDIO

Meia Eletrobras para os banqueiros e investidores de Nova York

A verdadeira razão para a sucessiva alta nos preços dos combustíveis não é a corrupção ou as mordomias de seus diretores (que são reais), a maioria indicada pelo governo, aliás. Mas a maior das corrupções, e da qual Bolsonaro é cúmplice e serviçal: os lucros bilionários dos investidores estrangeiros que detêm a maior parte das ações da empresa, em Nova York.  No mesmo dia que caía mais um presidente da empresa, a Petrobras anunciava a distribuição de R$ 24,2 bilhões em dividendos aos acionistas.

A favor dos banqueiros e do grande capital estrangeiro, Bolsonaro mantém a política de Preço de Paridade de Importação (PPI), que impõe, aqui, os preços em dólar do petróleo no mercado internacional. Isso é o que faz com que a Petrobras tenha um lucro seis vezes maior que as maiores petrolíferas no mundo, às custas da inflação, da carestia e do avanço da pobreza para a população.

E é por isso que o governo, de olho nas eleições, corre desesperado para minimizar o impacto da inflação dos combustíveis, sem, no entanto, tocar nos lucros dos acionistas bilionários. Medidas como subsídios localizados a caminhoneiros, vale-gás e, o que está mais avançado, a chamada PEC dos Combustíveis, que reduz impostos federais e estaduais e destina, só neste ano, R$ 46,4 bilhões em compensação.

Funcionaria da seguinte forma: os combustíveis continuariam sendo vendidos aqui com os preços nas alturas, a redução nos impostos diminuiria uma pequena fração do valor que chega na bomba, e esse fundo compensaria parte do que deixaria de ser arrecadado. Na prática, o governo daria metade do valor arrecadado com a venda da Eletrobras para os megaespeculadores da Bolsa de Nova York, e ainda diminuiria recursos para áreas como saúde e educação.

E, para piorar, bastaria um pequeno aumento no preço internacional do petróleo, ou uma leve mudança no câmbio, e os impactos nos preços finais da gasolina, do diesel ou do gás de cozinha seriam nulos. E os megainvestidores continuariam embolsando metade de uma Eletrobras.

Não existe gambiarra para conter os preços do combustível e do gás de cozinha. É preciso enterrar o PPI, tomar a Petrobras do controle dos grandes acionistas e torná-la 100% estatal, sob o controle dos trabalhadores. Sem os lucros exorbitantes que vão para os bolsos dos banqueiros e investidores, teríamos gasolina a R$ 2,40, e ainda com lucro.