Acuado com o aprofundamento da crise política, que já subiu a rampa do Planalto, Lula articula uma “ofensiva” para tentar salvar seu mandato. Na semana passada o Itamaraty pediu ao presidente venezuelano Hugo Chávez que, na última hora, incluísse o Brasil em sua rota de visitas a países da América Latina. Chávez, que apesar de um discurso inflamado mantém uma política neoliberal em seu país, esforçou-se para ajudar o colega e fez coro ao argumento já completamente desmoralizado do “golpe das elites”.

Porém, um dos fatos mais sintomáticos sobre a desesperada tentativa de defesa do governo apareceu em um ato público realizado no dia 12, sexta-feira, em frente ao hotel onde hospedava-se Hugo Chávez. Cerca de 100 manifestantes do MST e do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) manifestavam-se a favor do governo Lula e de Chávez. Os militantes afirmaram ao jornal Folha de São Paulo que os ônibus disponibilizados para a manifestação haviam sido pagos pela embaixada do Brasil na Venezuela, ou seja, pelo governo brasileiro.

Apesar de inexpressiva, tal manifestação chapa-branca dá uma idéia da estrutura que o governo pode colocar à disposição da UNE e da CUT para o ato em defesa do governo no próximo dia 16 de agosto. Além da CUT ser um apêndice do Estado no movimento sindical e da UNE ter recebido mais de R$ 1 milhão em verbas públicas este ano, essas entidades terão provavelmente ajuda direta do governo Lula para organizar o ato.

Dia 16: meta rebaixada
Parece que está cada vez mais difícil mobilizar as pessoas em defesa do governo. O depoimento do publicitário Duda Mendonça à CPI dos Correios, quando revelou o envolvimento direto de Lula no escândalo de corrupção, ocorreu justamente no momento em que a direção nacional do PT se reunia com movimentos sociais para organizar o dia 16. A partir da bombástica revelação do publicitário, a reunião praticamente se desfez.

Da mesma forma, o PCdoB e sua juventude, a UJS, que acaudilha a UNE e a UBES, rebaixaram a meta da marcha chapa-branca. Em matéria publicada no dia 4 de agosto no site do partido, os stalinistas prometiam 20 mil pessoas em Brasília. Em alguns lugares chegou-se a cogitar 30 mil manifestantes. Dia 13 de agosto, após o depoimento de Duda Mendonça, o mesmo site já divulgava a nova meta: 15 mil. No entanto, a reunião preparatória da CMS, que acertaria os detalhes da marcha, ainda não havia ocorrido.

Nesta segunda, dia 15, após a reunião e um dia apenas antes da marcha, a realidade se impôs e o mesmo site anunciava quantas pessoas, com sorte, iriam a Brasília: 10 mil.