Herbert, do PSTU, é o candidato da Frente ao governo do estadoO Estado do Amazonas é o 14º PIB do país e a sua economia gira em torno da Zona Franca de Manaus, que tem um pólo industrial que fatura, em média, anualmente, U$ 20 bilhões. Está entre os estados brasileiros com maior nível de arrecadação, R$ 9,413 bilhões, ano passado. É um Estado que possui um vasto potencial não apenas do manancial de água doce, mas também mineral, energético e de biodiversidade. Além da riqueza natural, conta com uma rica mistura de culturas e de populações indígenas que resistiram ao genocídio dos colonizadores.

O modelo Zona Franca, implantado na década de 60, sob a ditadura militar, tinha como estratégia o desenvolvimento e a ocupação da Amazônia Ocidental, vista pelos ideólogos do regime como um grande vazio demográfico. Está baseado, portanto, numa política de incentivos fiscais e extra-fiscais, para atrair investimentos de empresários nacionais e estrangeiros. A produção industrial por ser baseada em um alto padrão tecnológico quase não necessita de insumos da região, os quais são importados do exterior e do sudeste brasileiro. Isso gerou uma grande concentração na capital do Estado esvaziando o interior economicamente. O Amazonas tem quase dois milhões de habitantes e só a capital concentra 50% dessa população.

Atualmente está havendo uma diversificação da estrutura produtiva, entrando em cena um novo filão que é a apropriação das riquezas naturais, mais especificamente da biodiversidade. Um negócio altamente lucrativo para as multinacionais dos fármacos e dos cosméticos. Por isso, há uma grande euforia das multinacionais e dos setores da burguesia regional que se apressam em difundir o sucesso do modelo zona Franca – de forma bastante ufanista.

Mas nem tudo que reluz é ouro. Por trás desse mundo cor-de-rosa pintado pelas classes dominantes, há uma situação de extrema pobreza na região. A começar pela superexploração dos trabalhadores do distrito com a aplicação de extensas jornadas de trabalho, banco de horas, terceirização, etc. Além disso, o índice de desenvolvimento humano acusa uma situação bastante contraditória com os lucros e faturamentos estratosféricos das multinacionais e com o nível de vida da burguesia local que mora em apartamentos luxuosos e desfila com seus carrões importados.

Segundo os dados do Atlas do Amazonas, o quinto mais pobre da população apropria-se de menos de 1% da renda total do estado, enquanto o quinto mais rico apropria-se de 72% e os 10% mais ricos, de mais da metade, 56%. Mas, as contradições não se encerram ai. Mesmo com toda renúncia fiscal das multinacionais, a arrecadação do Estado é bastante elevada para os parâmetros regionais. No entanto, uma grande parte desses recursos é desviada pela corrupção legalizada com a contratação de empresas que prestam serviços a preços superfaturados. Recentemente uma onda de escândalos se sucedeu com operações da Polícia Federal, com nomes bastante peculiares, como: albatroz, zaqueu e saúva – um verdadeiro formigueiro de corrupção.

À burguesia local cabe administrar alguns ramos da economia, como: construção civil, comércio importador, supermercados e, principalmente ocupar os espaços do aparelho estatal, forma de viabilizar seus negócios e garantir o lucro das multinacionais. Enquanto isso a maioria da população vive em condições bastante precárias sem acesso digno a moradia, a educação, a saúde e ao consumo dos bens produzidos no pólo industrial. O déficit habitacional é de aproximadamente 70 mil. Em função disso, avolumam-se as ocupações -especialmente na capital onde se concentra a metade da população do Estado.

Outro aspecto que merece ser abordado, que tem a ver com a perspectiva de futuro, é o grau de vulnerabilidade das gerações mais jovens. Aqui também o quadro não é nada alentador, pois em 2000, o Amazonas, dentre os Estados brasileiros, detinha a segunda maior taxa de crianças, na faixa de 10 a 14 anos, fora da escola (13%) e a quinta pior taxa de adolescentes fora da escola (27%) no país. Além disso, mais de 64% das crianças são pobres, ou seja, vivem em domicílios com renda abaixo de R$ 75.

Mas, aos olhos da classe dominante, essa realidade inexiste. Suas atenções estão voltadas para os números que apontam o sucesso de seus negócios. E, assim, avançam a passos largos sobre os escombros de pobreza, aprofundando a entrega da região ao imperialismo. Isto tudo com o silêncio e a cumplicidade dos dois partidos governistas, PT e PCdoB, que, apesar de dirigirem a maioria dos sindicatos, estão em secretarias tanto do governo do estado quanto da prefeitura de Manaus.

Nem Braga, nem Amazonino
Este é o terreno em que segue a construção de uma Frente de Esquerda. A disputa eleitoral com Braga (atual governador do PMDB) e Amazonino (ex-governador do PFL) é a cristalização das lutas concretas da classe trabalhadora no seu cotidiano. E muito mais que resultados eleitorais, está colocada a tarefa de mobilizar e organizar as massas para enfrentar as multinacionais e seus gerentes regionais. O primeiro passo está sendo dado.

A Frente de esquerda é encabeçada pelo companheiro Herbert, do PSTU, dirigente da oposição de correios. O PCB lançou Luiz Navarro para o Senado e o PSOL lançou Luis Sena que, juntamente com a companheira Ivete Egas (PSTU), são os candidatos a Câmara dos Deputados pela Frente. Além disso, o PSTU cedeu sua legenda para um importante líder sem-teto, Julio Ferraz, que dirige uma ocupação de mais de 24 mil famílias e que está se enfrentando diretamente com o Lula, uma vez que a ocupação está dentro da área administrada pela Suframa e que tem um projeto de expansão das indústrias multinacionais na área.