Um setor majoritário da burguesia vem chegando à conclusão de que Temer já deu e vem se tornando um percalço cada vez mais insustentável à frente do Planalto. A senha foi dada pelo presidente do PSDB na última semana: “caminhamos para a ingovernabilidade“, declarou à imprensa. A bem da verdade, essa é uma percepção que há muito vem se cristalizando entre banqueiros, empresários e a própria base do governo, que se reforçou após a denúncia contra Temer no STF. O que faltava era de uma alternativa que pudesse suceder o vice de Dilma e encaminhar as reformas.
A novidade agora é que avançaram as negociações em torno ao nome do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o “Botafogo” da lista da Odebrecht, para assumir esse papel. Apesar do discurso dúbio de Maia, o acordão teria sido selado numa reunião secreta com a direção do PSDB. A condição: manter a atual equipe econômica, com Henrique Meirelles à frente, e as reformas.
O aprofundamento da crise, a Greve Geral do dia 28 de abril, o ato em Brasília de 24 de maio e agora a iminência do acordo de delação de Eduardo Cunha, que promete jogar Temer e sua trupe na fogueira, vem dando um ar de urgência ao acordão, que pretende envolver não só os partidos que hoje dão sustentação a Temer. “O ideal é envolver todos os partidos, inclusive os de esquerda“, declarou Jereissati. Logo depois, Aldo Rebelo, da direção do PCdoB e amigo de Maia, lança um manifesto pela “união nacional”.
No documento, Rebelo defende o fim da “polarização” em prol da “eficiente cooperação entre o poder público e a iniciativa privada“. O absurdo manifesto chega ao cúmulo de defender as reformas, ao dizer que “não há como se negar que o Brasil precisa de reformas que corrijam distorções, eliminem privilégios corporativos, facilitem a empregabilidade e o funcionamento da economia“. Utiliza as mesmas palavras e argumentos que a base do governo Temer para defender a destruição da CLT e o fim da previdência pública.
Com a cobertura de grande parte da imprensa burguesa, com a Globo à frente, o acordão avança em várias frentes: PSDB e o próprio PMDB vem abandonando o barco furado de Temer, PCdoB que votou a favor de Maia para a presidência da Câmara acena para a manobra, e o PT continua com o teatro das “Diretas Já” que, no fundo, não passa de uma campanha para Lula 2018, capitalizando eleitoralmente o desgaste de Temer.
Derrotar as reformas
A articulação espúria costurada por cima é um acordão de corruptos para trocar um corrupto por outro corrupto. Um novo governo está prestes a cair, mas por trás de Rodrigo Maia estão os mesmos que estavam sustentando Temer e que estão à frente das reformas. É, de novo, trocar seis por meia dúzia. Maia já reafirmou seu compromisso pelas reformas, declarando, inclusive, que vai barrar a Medida Provisória negociada por Temer com o Senado e as cúpulas de centrais como UGT e Força Sindical alterando pontos da reforma trabalhista. Assim como ocorreu com Dilma e Temer, agora a briga é entre Temer e Rodrigo Maia para ver quem é o mais eficiente à burguesia.
Mas a crise é tão grande que isso não vai ser tão fácil assim. Além de ter dois inquéritos no STF por conta da Lava Jato, Rodrigo Maia deve entrar na delação de Eduardo Cunha ao lado de Temer. Segundo a revista Veja, vai ter um capítulo especial só para ele. Ou seja, a estabilidade tão sonhada pelos de cima para impor seus ataques está longe de virar realidade.
O 30 de junho, que foi um forte dia de luta apesar do desmonte das cúpulas das grandes centrais sindicais, por sua vez, mostra que existe disposição de luta embaixo e uma raiva crescente contra esse governo e esse Congresso Nacional de corruptos. Principalmente após a votação da reforma trabalhista. Continua sendo necessário e possível uma nova Greve Geral, que revogue as terceirizações e a reforma trabalhista, e enterre de vez a reforma da Previdência, e que coloque para fora Temer e esse Congresso Nacional.
A vida dos trabalhadores e do povo pobre só vai mudar, porém, com um governo socialista dos trabalhadores, sustentado por conselhos populares construídos na luta e eleitos nas fábricas, escolas, locais de trabalho e bairros pobres. Mas enquanto não temos essa alternativa, não podemos aceitar que esse Congresso eleja o sucessor de Temer. Esse Congresso Nacional de marginais não tem legitimidade para votar as reformas e muito menos definir quem será o futuro presidente. Nesse caso, exigimos eleições gerais já, para todos: presidente, senadores e deputados, e com novas regras.