Apesar de reconhecer que 14 milhões de pessoas tornaram-se miseráveis, estudo não avalia responsabilidades das políticas do Fundo Monetário para a região. Recomendações continuam intactas: novos acordos, aumento do superávit, independência dos bancos centO Fundo Monetário Internacional divulgou nesta terça, 8/2, um estudo sobre o desempenho das economias da América Latina nos últimos 15 anos. Os técnicos do FMI chegaram a uma conclusão óbvia, a de que o controle da inflação e o aumento na entrada de capitais, tão comemorados por governos e banqueiros, convivem com um baixo crescimento econômico e com um aumento da pobreza. Atualmente, 44% da população da América Latina é formada por miseráveis, o que equivale a 214 milhões de pessoas. Em apenas dez anos, 14 milhões de pessoas passaram a viver nesta situação.
A década de 1980, período de início da implantação das reformas neoliberais em muitos países, é vista como perdida. Nos anos de 1981 a 1990, o Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina diminuiu 0,6% por ano, em comparação com outras regiões. Nos seis anos seguintes, o PIB da região cresceu 2,5%, considerado pouco pelo FMI, principalmente em relação aos países da Ásia, cujo PIB cresceu 6,5% em média. Entre 1998 e 2003, o PIB latino-americano voltou a ter um desempenho negativo em relação a outras regiões, com -0,1%. Estes números fazem com que a vice-diretora Anne Krueger reconheça os anos 1990 como uma “década de decepção“.
Lavando as mãos
Apesar de, neste período, ter desempenhado papel decisivo para as economias da região, com recomendações seguidas à risca, em nenhum momento, o estudo avalia a responsabilidade do FMI sobre estes resultados. Em casos como o da Argentina, as políticas do fundo levaram a uma quebradeira completa da economia do país.
Além de desviar-se desta avaliação, o FMI recorre aos números do estudo para apresentar novos conselhos: metas de inflação, independência dos bancos centrais, diminuição do déficit público e reforma nas legislações trabalhistas.
Governo Lula deve renovar acordo em março
Apesar do crescimento do número de miseráveis do Brasil não ter acompanhado o índice da América Latina, o país também colheu os frutos pela aplicação dos planos do FMI. A desigualdade de renda não melhorou, com 44% da riqueza do país nas mãos de apenas 10% da população.
O atual acordo com o FMI foi firmado em 1998, como uma socorro para que a economia brasileira atravesasse os efeitos da moratória russa na economia mundial. Na época, com uma economia totalmente voltada ao capital especulativo, foi preciso buscar U$S 58 bilhões com o FMI. Esta `ajuda` tem o seu preço. Até 2007, país deve pagar U$S 6,15 bilhões apenas em juros.
O acordo foi renovado em 2001, 2002 e 2003 e vence em março. Uma prorrogação deste acordo, como deseja Palocci e Lula, nada mais é do que a renovação desta política de sangria, na qual o governo mantém um superávit primário altíssimo e tapa os olhos para o aumento de desempregados, subempregados e famintos.