``Homem bebê``, de Cristiana Salgado
Divulgação

A mostra “Manobras Radicais“ reúne, no Centro Cultural do Banco do Brasil de São Paulo, obras de 61 mulheres brasileiras que refletem um olhar feminino sobre um mundo dominado, também no campo das artes, pelo machismoPertencentes às mais diferentes épocas (a partir dos anos 1920, ou seja, do período Modernista) e tendências artísticas e técnicas, as quase cem obras de mulheres brasileiras reunidas no CCBB de São Paulo servem como uma interessante reflexão sobre o universo feminino e seu sempre complexo relacionamento com um mundo predominante machista, inclusive no que se refere ao fazer artístico. Ao mesmo tempo, as pinturas, esculturas, instalações e videoarte evidenciam a enorme importância que as mulheres têm ocupado em nossa história da arte.

Sem a preocupação de reunir uma coleção das “melhores” artistas, mas sim de oferecer um amplo panorama da produção feminina, a mostra reúne nomes mais conhecidos como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Tomie Otake e Lygia Clark a outros, que, apesar da importância, estão mais restritos aos que acompanham o circuito das artes.

Dentre as 61 artistas, destacam-se nomes como o da surrealista Maria Martins; da escultora Zélia Salgado (a primeira artista brasileira, entre homens e mulheres, a fazer uma escultura abstrata, na década de 40); Ligia Pape e várias representantes das gerações mais recentes, como Carmela Gross, Renina Katz, Claudia Andujar, Amélia Toledo, Rosângela Rennó e Lise Lobato.

Subvertendo o mundo através do olhar feminino
Sem ter um caráter abertamente panfletário ou propagandístico, a grande maioria das obras reflete um olhar feminino e feminista na medida em que faz uma reelaboração crítica da representação da mulher em um mundo dominado pelos homens. Temas como o “sexo frágil”, a “histeria feminina”, a transformação das mulheres em meros “objetos sexuais” e seu aprisionamento ao lar e à família patriarcal são descontruídos ou subvertidos em várias obras. Como também são denunciadas a violência machista e a opressão generalizada.

Exemplos não faltam: as vendas que cobrem os olhos das mulheres de Tomie Otake; o uso do sangue como material artístico em obras de Rosana Palazyan e Karin Lambrecht; a deformação ou dos corpos de bonecas por Lia Menna Barreto ou a impactante série de vestidos cortados por giletes, feita por Nazareth Pacheco e a instalação “As facas de meu pai”, da paraense Lise Lobato.

Também chama a atenção a multiplicidade de técnicas que revelam a extrema criatividade destas mulheres no momento de representar o mundo que as cerca. A paulista Jac Leirner, por exemplo, é representada pela obra “Os cem”, na qual era costurou dezenas verdadeiras de notas de cruzeiros, todas elas com rabiscos e escritos, alguns deles políticos, outros simples recados e muitos obscenos (e, geralmente, machistas). Produzida em 1987, na época da hiperinflação, a obra levou a artista a quase ser enquadrada pela Lei de Segurança Nacional.

Produzindo na década anterior, ainda sob a censura ditatorial, Anna Maria Maiolino é a autora de “Por um fio” (1976). Uma obra que ela própria qualifica como “uma fotografia, um poema visual e um discurso político”, através de uma foto que mostra três mulheres de sua família (sua mãe, a artista e sua filha) unidas por um fio de barbante que sai de suas bocas.

Imperdível por sua abordagem e conteúdo, a exposição ainda toca em temas “tabus”, como o erotismo feminino e a representação das mulheres como “sujeitos” de suas próprias histórias.


Manobras Radicais
Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo.
Rua Álvares Penteado, 112, Centro.
De terça a domingo, das 10 h às 21 h – Até 15 de outubro
Grátis.