Eleições norte-americanas se realizam em meio à grave crise econômica e políticaNos próximos dias, o mundo conhecerá o novo presidente dos Estados Unidos. Como indicam muitos analistas, esta poderá ser a maior eleição da história do país, com uma participação recorde de eleitores. Como o processo eleitoral é descentralizado, a votação já teve início em vários estados. Mais de 23 milhões de pessoas já tinham votado antes desta terça, dia 4 de novembro. A votação recorde poderá provocar um novo caos ao confuso sistema eleitoral norte-americano.

A participação da população nas campanhas também é muito grande, especialmente da juventude e da população negra, envolvida na campanha do candidato do Partido Democrata, Barack Obama. Quando fechávamos esta edição, pesquisas apontavam Obama como provável vencedor. Mas o candidato republicano, John McCain, tentava surpreender, disputando os 10% de indecisos, com uma campanha agressiva e preconceituosa, levada, sobretudo, por sua candidata a vice, a reacionária Sarah Palin. Além disso, seguia com sua estratégia de se desvincular da desgastada imagem de Bush. É justamente este desgaste que explica o atual cenário político eleitoral dos Estados Unidos.

A derrota de Bush
A era Bush deixou os Estados Unidos em recessão e odiados em todo o mundo. Poucas vezes na história um presidente dos EUA foi tão repudiado. A política de Bush despertou uma consciência antiimperialista em todo o mundo. Dentro dos EUA, o presidente amarga os piores índices de popularidade da história.

A crise do imperialismo norte-americano tem a ver com a derrota do projeto de Bush em tentar conter as lutas sociais com guerras e intervenções militares. No Iraque, nem os bilhões de dólares injetados na guerra conseguiram que as forças coloniais de ocupação estabilizassem o país. A ocupação se transformou num pântano e encurralou as tropas invasoras.

Além da guerra, a crise econômica no coração da maior economia do mundo – com sinais concretos de uma recessão – fez afundar de vez o pouco que sobrou do governo Bush. Os bilhões de dólares injetados nos bancos não detiveram a crise, e todos falam numa grande recessão que vai se espalhar para todo o mundo. A crise está afetando gravemente a indústria automobilística. Chrysler, General Motors e Ford estão à beira da quebra e o desemprego é hoje a principal preocupação do norte-americano.

Tudo isso alimenta a campanha de Obama, que tenta capitalizar a crise sob os slogans de “mudança” e “esperança”. No entanto, sua campanha também tem outro objetivo: renovar a imagem no sistema político-eleitoral dos EUA.

Uuma roupa nova para os EUA
Os oito anos de governo Bush aprofundaram a crise do sistema bipartidário. O sistema político-eleitoral norte-americano baseia-se na existência de dois grandes partidos burgueses (republicano e democrata) que, segundo as circunstâncias, se alternam entre a presidência e a oposição parlamentar.

Os republicanos defendem posições mais reacionárias e se apóiam na classe média das cidades medianas e pequenas e nas classes médias acomodadas das grandes cidades. Os democratas, por sua vez, expressavam posições ditas mais liberais, e o seu apoio eleitoral surge dos trabalhadores e da classe média liberal das grandes cidades, além de integrar tradicionalmente as minorias, como negros e latinos.

Nos últimos anos, porém, essas diferenças políticas tenderam a se diluir cada vez mais. Existe uma forte direita democrata sem grandes diferenças com os republicanos. Dessa forma, o sistema passou por um profundo ceticismo e desconfiança, uma vez que muitos trabalhadores não viam diferenças entre os dois partidos.

A campanha de Obama, que não é visto como um político tradicional, usa o slogan da mudança, justamente para renovar a imagem da democracia burguesa podre e reanimar o bipartidarismo dos Estados Unidos.

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