Mais um caso bárbaro ocorrido em Pernambuco repercute mundialmente e coloca em evidência um tema que precisa estar na ordem do dia: a opressão à mulher, que tem de ser debatida e combatida.

O Estado de Pernambuco cumpre um papel vergonhoso. É conhecido nacionalmente pelo elevado índice de violência contra as mulheres. Só em 2008, foram registrados cerca de 270 assassinatos.

Em 2009, esses números não prometem diminuir. De janeiro para cá, muitas mulheres já foram mortas ou vítimas de estupros, espancamentos e outros tipos de violência.

Dessa vez, uma criança de nove anos de idade, moradora do município de Alagoinha, no agreste do Estado, engravidou de gêmeos após sofrer abusos sexuais do padrasto.

Na quarta-feira, dia 4 de março, a menina foi submetida a um aborto, garantido por lei em casos de estupro e risco de morte da gestante.

A posição do governo estadual e da prefeitura
Até agora, não ouvimos nenhum pronunciamento do governador Eduardo Campos (PSB). Desde que se elegeu em 2006, não combateu a realidade das mulheres pernambucanas. Muito menos falou o prefeito Maurílio de Almeida Silva (PTB). Um verdadeiro caso de omissão diante de um fato completamente absurdo.

A posição da igreja católica
Como já era de se esperar, a igreja católica exerceu o papel de sempre: funcionar como correia de transmissão da ideologia machista e oprimir diretamente a mulher.

A cúpula da igreja, na figura do arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, excomungou os participantes do aborto – médicos e família da menina – mas absolveu o autor do estupro, o padrasto Jailson José da Silva. A instituição alega que o crime cometido por ele era menor diante do abortamento.

Dom José Cardoso Sobrinho teve a cúpula da igreja católica em nível mundial a seu favor, desde o Vaticano, algo também esperado.

A igreja católica e seus dogmas deixaram explícito que, para eles, a infância roubada não significa nada e que a mulher não deve ter direitos sobre o seu corpo. Ao punir os envolvidos num aborto legal e não condenar o estuprador, o arcebispo de Olinda e Recife ficou ao lado do agressor.

Essa atitude conservadora tem divido até mesmo a própria igreja. Diversos fiéis, organizados ou não, já demonstraram repúdio à atuação do bispo.

Desigualdade social e machismo
A vítima da barbárie reside no município de Alagoinha, no agreste pernambucano. Assim como na maioria das cidades brasileiras, a população pobre do local sofre com as desigualdades sociais.

O nome da localidade é proveniente da quantidade de poços, caldeirões e lagoas existentes sobre os lajedos da Vila. É desses poços – muitos já poluídos – que uma parcela significativa da população retira água para uso doméstico.

Além disso, a cidade não possui hospitais e maternidades. O índice de analfabetismo é em torno de 35%. O saneamento básico é bastante precarizado, faltando redes de esgoto. Esse quadro é ainda pior para as famílias que vivem na periferia e nos redutos quilombolas.

Alagoinha também não possui sistema rodoviário e a desnutrição ainda é a maior causa da mortalidade infantil. Boa parte de sua população sobrevive de subempregos, o que é o caso de muitas mulheres.

Existe uma relação íntima entre essas desigualdades sociais e a mulher. Dos trabalhadores explorados no sistema capitalista, vivendo em condições desumanas, não há dúvidas de que a exploração maior recai sobre elas. Além de receberem salários inferiores aos dos homens, mesmo quando desempenham as mesmas funções, arcam com a dura tarefa da dupla jornada. Muitas sofrem assédio moral e sexual por parte dos patrões. Elas representam, hoje, 70% da população pobre do planeta.

O capitalismo, a opressão e a crise econômica
A opressão contra a mulher surge junto com a exploração e as classes sociais. Hoje, o sistema capitalista se vale da opressão para explorar mais e melhor o conjunto das trabalhadoras e trabalhadores.

A classe dominante se utiliza das diversas formas de opressão como forma de manter sua dominação. Para isso, conta com a ajuda de diversos instrumentos, sendo a ideologia um dos principais. É não permitindo que mulheres, negros e negras, homossexuais e lésbicas, trabalhadores e trabalhadoras tenham a consciência de sua opressão e exploração, a ponto de a naturalizarem, que a burguesia exerce melhor seu domínio.

Com o agravamento da crise econômica mundial, a condição de oprimida da mulher tende a piorar. Serão elas os principais alvos de demissões e redução de salários e direitos. Com o aumento do desemprego e, consequentemente dos problemas sociais, não há dúvidas de que a violência contra as mulheres se agravará.

Não pode liberar-se quem oprime
Como a burguesia usa as opressões e o preconceito, que joga uma classe contra setores da própria classe, a luta contra o machismo é de toda a classe trabalhadora. O proletariado não atingirá a sua total libertação enquanto as mulheres não conquistarem sua emancipação.

Precisamos ter em mente que essa emancipação não virá no sistema atual. Nele, podemos garantir algumas vitórias, através de muita luta, mas se não avançarmos, se perdemos de vista a construção de uma alternativa, todas essas vitórias podem ser perdidas a qualquer momento.

Só com a construção do Socialismo poderemos superar as contradições do mundo atual. Essa tarefa está em nossas mãos, é chegado o momento: Proletárias e Proletários do mundo, uni-vos!