Marcio Cury, do Rio de Janeiro (RJ)

Liberdade para Julian Assange!

Marcio Cury

Julian Assange é detido pelas autoridades britâncas

O Equador, através de seu presidente, Lenín Moreno, cumpriu nesse dia 11 de abril a função mais nefasta que um país capacho e serviçal poderia cumprir: permitiu que a polícia inglesa entrasse na embaixada equatoriana em Londres, onde Assange se refugiava desde 2012, e prendesse o criador do WikiLeaks.

A imagem que correu o mundo do embaixador equatoriano abrindo as portas de sua embaixada para a entrada de policiais ingleses foi um vexame sem precedentes!

O futuro de Assange agora é incerto. O mais provável é que ele seja extraditado aos Estados Unidos e julgado por espionagem e colaboração com espionagem, pois ele e seu site WikiLeaks foram os responsáveis por divulgar documentos secretos, troca de e-mails e o mais chocante, várias gravações de assassinatos de civis, incluindo crianças, no Iraque e Afeganistão, durante a ocupação americana.  E a lista de divulgações de informações e conteúdo secreto não para aí.

Assange era o inimigo número um dos Estados Unidos na divulgação jornalística de suas atrocidades.

Quem é Julian Assange e o WikiLeaks
Julian Assange é australiano, nascido em 1971, jornalista e ativista da Internet.  Em 2006, fundou um site de notícias chamado WikiLeaks.  Com o perfil libertário e de denúncias, o WikiLeaks tinha por objetivo incentivar e apoiar a busca por informações secretas governamentais, criando um jornalismo investigativo e de denúncias das ações dos governos, em especial as ações dos Estados Unidos contra outros políticos, povos e nações.

Com uma filosofia libertária, Assange praticava e estimulava as vias “não legais” contra os governos como forma de obter informações secretas.  Isso incluía hackear computadores, descriptografar dados, documentos e vídeos tidos como confidenciais.

Para o ativismo político de Assange, as ações secretas dos governos não são compatíveis com a liberdade e democracia de seus próprios cidadãos.  Assange entendia que não há justificativa lógica e moral para que ações de um governo sejam realizadas sob sigilo e que isso poderia consistir em acobertar crimes, corrupção e abusos.  Contra isso, o método de descobrir informações secretas através de métodos hackers era plenamente válido, pois era uma forma da sociedade se defender das ações abusivas dos mesmos governos.

O WikiLeaks logo se transformou em um grande sucesso entre os militantes pela liberdade de informação na Internet.  Desde cedo já começou a receber vários documentos e provas destas ações governamentais secretas e abusivas.  De vários governos espalhados pelo mundo.

Suas primeiras grandes reportagens foram sobre execuções no Quênia e os prisioneiros em Guantánamo, onde revelava o abusivo tratamento dado aos supostos prisioneiros políticos, que eram capturados pela CIA em todo o planeta e confinados na base americana em Cuba.

Em 2010, o WikiLeaks veio a ganhar mais notoriedade ainda com a publicação de telegramas e documentos secretos do governo americano sobre as ações americanas ao longo de anos na invasão do Iraque e Paquistão.  Os documentos mostravam as avaliações políticas derrotistas quanto à guerra e o triunfo de um governo fantoche pró-americano no país.

Estimulando a delação e a entrega de informações secretas, o WikiLeaks tornou-se inimigo dos governos, principalmente os em guerra e, em especial, os Estados Unidos.

Assange incomoda também a grande imprensa imperialista mundial, pois a sua militância aquece o tipo de jornalismo sem vínculos, independente e militante.  Esta militância valoriza a incentiva vários grupos de investigação independente espalhados pelo mundo.  Além dos governos, a imprensa burguesa também odeia Assange.

O caso Chelsea Manning
A quantidade de colaboradores espontâneos com o site aumentava a cada dia.  Até que, em 2010, Chelsea Manning (naquela época chamava-se Bradley Manning), uma oficial de inteligência americana, responsável pelo arquivamento de atividades e registro de ações, começa a gravar em DVDs inúmeros conteúdos sigilosos e vídeos das atividades militares realizadas pelos americanos no Iraque e Afeganistão.

Em vários destes vídeos fica notória a ação criminosa das forças americanas contra civis inocentes.  Em especial um vídeo gravado na ação de um helicóptero, onde um grupo de civis inocentes e desarmados são metralhados sem qualquer aviso ou pretexto.

A publicação do vídeo correu o mundo, e lembrou as atrocidades cometidas pelos americanos no Vietnã, em especial as campanhas “Search and destroy”, onde homens, mulheres e crianças eram mortos e vilas eram queimadas indiscriminadamente.

As mesmas cenas de pessoas inocentes sendo mortas e tendo os seus corpos estraçalhados expostos à revelia chocou o mundo e em especial os americanos.  A contraofensiva do imperialismo não poderia demorar.

Chelsea Manning foi descoberto a partir de uma investigação sobre os nomes e os acessos aos arquivos.  Foi condenada a 25 anos por espionagem.

Documentações posteriores mostravam que os americanos e a CIA tinham planos para prender, extraditar e até mesmo assassinar Assange através do uso de drones.

Acusação de estupro
No final de 2010, Julian Assange, morando na Inglaterra, foi formalmente acusado pela Suécia de ter praticado relações com duas mulheres, sem o consentimento de uma e sem o uso de preservativo com outra, durante o período que morou no país.  A primeira havia informado que tinha realizado relações sexuais antes de dormir e que teria acordado no meio de outra relação, desta vez sem o consentimento.  A segunda havia dito que a sua camisinha rasgou durante o ato sexual e que teria sido proposital por Assange.  O governo sueco emitiu mandado de prisão e depois pediu a sua captura internacional e extradição para julgamento.

As acusações geraram grande controvérsia.  Além de terem ocorrido simultaneamente e imediatamente após a divulgação dos documentos bombásticos, eram cercadas de depoimentos contraditórios.  Independente disso, Assange se apresentou várias vezes à polícia inglesa, foi detido, solto e teve seu passaporte apreendido.

Estava claro que sua extradição para a Suécia seria aprovada.  Restava então saber se isso implicaria em ser também extraditado para os Estados Unidos.

Posteriormente, quando Eduard Snowden, um programador e administrador de sistemas da CIA, trabalhando para a NSA – Agencia de Segurança Nacional Americana, fez incontáveis revelações sobre o órgão, estavam também documentos internos que demonstravam a ação da CIA em criar situações de ataques “sujos” contra o WikiLeaks e Assange.

É possível que Assange tenha cometido algum tipo de crime contra estas mulheres?  Sim, é possível.  Assange deve ser punido por estes crimes?  Sim, claro!  Assange deve responder por qualquer tipo de crime sexual que tenha cometido na Suécia, inclusive pelas leis deste país.  O fato de Assange ser um delator do imperialismo não o inocenta de qualquer crime sexual que tenha cometido.  Assange deve ser julgado e responder por estes possíveis crimes.

Entretanto, sua prisão ocorrida na Inglaterra nada tem a ver com qualquer crime sexual que possa ter ocorrido.  Seu caso na Suécia está, inclusive, encerrado.  Não há mais pedido de extradição pelo governo sueco.

Da mesma forma que devemos exigir a apuração de qualquer ato praticado por Assange, deve-se exigir também que ele não seja extraditado para os Estados Unidos a partir destes possíveis crimes.

Não podemos permitir que estes possíveis crimes sejam usados como armadilha para que Assange seja entregue ao governo americano!

A NSA e o escritório hacker na Alemanha

Eduard Snowden

Eduard Snowden revela para o WikeLeaks o macabro funcionamento de uma agência de espionagem americana, a NSA, que realizava a filtragem de dados na navegação em uma grande parte da Internet.

Além disso, Snowden ainda revela documentos e o modus-operandi da CIA na Internet.  Além do funcionamento da NSA, a CIA mantinha na Alemanha uma fábrica de softwares de invasão, que contratava hackers de toda e Europa para escreverem códigos visando o acesso  a celulares e outros dispositivos conectados.

Refúgio na embaixada do Equador e pedido de extradição dos EUA
Temendo a extradição para os Estados Unidos sem julgamento, Assange resolve pedir asilo político e é acolhido em agosto de 2012 pela embaixada do Equador.  O presidente na época, Rafael Correa, concede asilo diplomático.

Desde 2012 Assange morava dentro da embaixada do Equador, em uma sala de 20 metros quadrados e um banheiro.  Sua vida tornou-se continuar sua militância confinada dentro de uma sala em uma embaixada localizada em um país hostil.

O governo inglês mantinha vigilância e polícia 24 horas diante da embaixada.  Algo inédito para um possível criminoso sexual de outro país.

Neste período, os Estados Unidos renovaram seu pedido de extradição, baseado na alegação que ele incentivou e participou de espionagem no caso Chelsea Manning.  Assange é acusado de espionagem e, se for extraditado para os Estados Unidos, sua pena poderá ser de 30 anos de cadeia inafiançável e, provavelmente, totalmente isolado.  Significa o seu extermínio.  Ainda há a possibilidade de a promotoria americana pedir a pena de morte por espionagem, alegando que a ação de Assange colocou em risco a vida de americanos no exterior.  Tudo é possível para exterminar o jornalismo de Assange.

O governo de Lenin Moreno e a troca de dinheiro do FMI por Assange
Lenin Moreno foi vice-presidente do Equador durante o governo de Rafael Correia e se elegeu presidente em 2017.  Os atritos com o ex-presidente se iniciaram quando Moreno começa a acusar seu governo de autoritário e o denuncia a corrupção.  Ao mesmo tempo, aproxima-se do FMI e inicia uma política econômica de austeridade e corte de investimentos sociais.

Moreno também inicia um processo de aproximação dos Estados Unidos, e se reúne com Donald Trump, visando buscar apoio político e econômico para a combalida economia do Equador.

Desde o ano passado o WikiLeaks já sabia e divulgava informações de que o Equador estava em busca de concretizar um empréstimo da ordem de quase 5 bilhões de dólares .  Entretanto, não era certo que Assange seria usado como moeda de troca para este acordo.

Provavelmente foi exatamente isso que ocorreu.  É muito provável que Trump tenha exigido a entrega de Assange como negociação para o empréstimo e o governo não titubeou.

Para garantir este acordo, foi o próprio embaixador do Equador que abriu as portas da embaixada para que a polícia entrasse e levasse Assange preso.  Uma decisão e postura abominável, que mostra a submissão total a um país estrangeiro, além de romper com um acordo de asilo fornecido.

Prisão política e criminalização do jornalismo de denúncia
Julian Assange é um preso político.  Ele tem um pedido de extradição do governo norte-americano e, certamente, a Inglaterra deverá extraditá-lo, em base aos acordos da OTAN, aliança militar entre os Estados Unidos e o oeste da Europa, da qual Assange denunciou as atrocidades.

A prisão de Assange é política e representa um grande ataque ao jornalismo investigativo e de denúncia.  Mais que uma militância libertária, como Assange se define, a sua atuação expôs a política criminosa dos Estados Unidos contra vários países e povos do mundo.

Assange é um delator do imperialismo!

Mostrou que não há empecilhos, ética ou propósito nas ações militares e políticas americanas.  Apenas o interesse econômico e a matança generalizada para garanti-lo.

Defender Assange e o WikiLeaks
É preciso denunciar os acordos do Equador com os Estados Unidos e o FMI.

Precisamos exigir que Assange seja solto e tenha garantias de vida.

Defender o WikiLeaks é uma necessidade atual, pois sua função de denúncia das políticas do imperialismo e seus acordos secretos é imprescindível para mostrar ao mundo o seu papel criminoso e assassino.

Liberdade para Assange!

Defendamos o WikiLeaks!