Uma greve geral por tempo indeterminado foi deflagrada no Egito nessa segunda-feira, dia 31. Bancos, portos, transportes públicos não estão funcionando no país. A paralisação foi convocada pelas centrais sindicais que ganhou poderosa adesão nas principais cidades egípcias – Cairo, Alexandria, Suez e Port Said. A greve é um profundo golpe nas pretensões de Mubarak de continuar no poder.

A greve já tinha sido convocada pelos trabalhadores da cidade de Suez, no domingo, mas seu chamado foi estendido para todo o país. “Estaremos nos unindo aos trabalhadores de Suez e começaremos uma greve geral até nossas exigências serem atendidas”, afirmou Mohammed Waked, um dos organizador dos protestos.

Além da greve geral, os egípcios vão realizar m uma marcha de um milhão nesta terça-feira, dia 1°.

Governo por um fio
A população continua na rua, desafiando o toque de recolher imposto pelo governo. Manifestantes protestaram na Praça Tahrir, epicentro da revolta no Cairo, para manter o pulsar das manifestações e fortalecer um acampamento mantido na praça. Há relatos de que os ativistas estão dividindo sua comida com os soldados.

Por outro lado, o governo Mubarak já dá sinais de desespero. Nesta segunda-feira, helicópteros sobrevoavam o Cairo, um dia depois de caças voarem baixo pela Praça Tahrir. Durantes o final de semana, o governo e a polícia foram acusados de promoverem saques, atos de vandalismo e de terem libertado prisioneiros. Mubarak também recebeu o apoio de Israel, que teme um verdadeiro levante no mundo árabe contra as os governos ditatoriais que reconhecem o Estado sionista. Pela primeira vez desde os acordos de Camp David, há mais de 30 anos, Israel permitiu a entrada de tropas do Egito na Península do Sinai.

Mubarak tentou aplacar os protestos anunciando pequenas e ridículas mudanças no seu governo. No sábado, Mubarak apontou o primeiro vice-presidente em seus 30 anos no poder e um novo primeiro-ministro, em uma tentativa de se manter no comando. Também foi anunciada a formação de um novo gabinete ministerial. Foram substituídos os ministros das Finanças e do Interior. As medidas são, contudo, absolutamente inúteis. A população egípcia não aceitará nada menos do que o fim do governo Mubarak e seu regime.

Movimento operário poderá entrar em cena
A greve geral pode colocar em cena o poderoso e combativo movimento operário egípcio, o que representaria um salto de qualidade na revolução democrática. A classe trabalhadora do país vem lutando há muitos anos contra as miseráveis condições de vida imposta pela ditadura de Mubarak. Em abril de 2008, operários das fábricas têxteis da cidade de Al Mahalla realizaram uma paralisação e uma manifestação reivindicando aumento de salários. Na ocasião, os trabalhadores tiveram uma ampla solidariedade da população da cidade e do restante do país, onde também se realizaram manifestações que se combinaram com protestos contra o aumento de preços dos alimentos. Em dezembro de 2006, mais de 27 mil trabalhadores da cidade já tinham realizado uma greve por aumento salarial que o governo havia prometido.

Uma armadilha
Ao que tudo indica o imperialismo norte-americano já se prepara para um cenário de um governo de “transição”. Trata-se de uma armadilha do imperialismo e da burguesia egípcia, que tentam emplacar a figura de Mohamed El Baradei, um ex-funcionário da ONU, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), para chefiar um governo transitório. Dessa forma, a ascensão de Baradei para um “governo de transição” serviria para acalmar os ânimos, impedindo que se abram as portas às reivindicações dos trabalhadores, da juventude e das massas.

A manobra também tem por objetivo estabilizar o conjunto do mundo árabe, sacudido por dezenas de protestos revolucionários depois da queda da ditadura na Tunísia.