Ato em Brasília nesse dia 12 de julho Foto Romerito Pontes
Redação

Editorial do Opinião Socialista nº 574

O projeto de reforma da Previdência votado em 1º turno pelos deputados é revoltante. É um ataque sem precedentes à classe trabalhadora e aos pobres desse país.  É crueldade e a verdadeira cara desse sistema capitalista, que não consegue garantir nem emprego para a maioria.

Dá nojo a campanha mentirosa do governo, dos deputados, grandes empresários, banqueiros e de toda mídia, de que a reforma “ataca privilégios”, quando retira mais de R$ 800 bilhões do bolso de quem faz parte do INSS para privilegiar banqueiros.

Mas dá indignação também ver a passividade ante a votação e o discurso de supostas “vitórias conquistadas na Câmara dos Deputados”, por parte da oposição parlamentar e das cúpulas das centrais sindicais (exceto a CSP-Conlutas). Mais algumas “vitórias” como estas e estaremos todos mortos.

O maior problema é se a classe trabalhadora lutou como poderia contra a reforma e saiu mais forte, mais indignada, mais organizada depois da luta. Muitas vezes perdemos economicamente uma luta, mas saímos mais experientes, mais conscientes, mais organizados. A votação em 1º turno da reforma foi uma derrota, a perda de uma batalha, embora não da guerra. Mas o maior problema não é a perda econômica e nem da batalha em si, pois, às vezes, isso gera mais indignação, outras até mais organização. Quando se fez tudo que se podia, toda a luta possível, no mínimo a moral é alta. O problema é que as direções (partidos de oposição parlamentar e cúpulas de centrais vinculadas a tais partidos) não atuaram com a prioridade de construir a luta, porque priorizam a ação institucional e as negociações no Congresso com Rodrigo Maia e o centrão.

A conduta das direções do PT, PCdoB, PDT, PSB, Solidariedade, assim como das cúpulas das principais centrais foi traidora. Frearam a continuidade da luta depois das manifestações do 15 e 30M e a greve de 14 de junho, deixando que fosse votado o 1º turno no Congresso sem povo na rua. Um tipo de conduta que não só impede o movimento de ir adiante, como pode gerar desmoralização.

A prioridade desses partidos é a mera disputa eleitoral: capitalizar o desgaste do governo e construir uma frente com participação da burguesia para as eleições.  Não é botar abaixo o projeto capitalista dos banqueiros, do governo e do Congresso. A diferença de projeto de Previdência entre eles e Maia/Bolsonaro é mais de grau que de conteúdo. Na verdade, acham necessária uma reforma que retire direitos dos trabalhadores. Por isso, a prioridade não é a luta direta da classe, nem ajudar o desenvolvimento de sua consciência e organização para derrotar esse sistema capitalista.

Depois da aprovação em 1º turno e da campanha do governo, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), declarou à imprensa que “não tem nenhum trauma” no possível aumento da idade mínima da aposentadoria para servidores públicos, proposto pela reforma. Os governadores do PT, PCdoB, PDT, PSB estão negociando a reforma com Rodrigo Maia e com o governo desde o início do ano.

Enquanto governadores da oposição negociavam a reforma por debaixo dos panos (ou nem tão escondidos assim), a oposição se opõe à reforma no parlamento sem contestar os governadores e as centrais mobilizam menos do que podem. Deixam a coisa rolar, mas querem ficar bem na foto com a burguesia e com o povo.

Paulinho da Força Sindical e do partido Solidariedade (onde 13 dos 14 deputados votaram a favor da reforma), divulgou vídeo dizendo que seu partido “cumpriu a sua função, que era tentar melhorar aquela proposta que o governo Bolsonaro mandou para o Congresso”. Paulinho sempre foi obstáculo à construção da Greve Geral, e quer contar a fábula de que teve grandes conquistas na reforma, quando a classe trabalhadora está sendo roubada.

Nem o PSOL, que surgiu da ruptura com o PT quando Lula fez a reforma da Previdência em 2003, foge desse script. O partido não denuncia os governadores e também reivindica “conquistas” da oposição na Câmara. A economista Laura Carvalho, que assessorou o candidato do PSOL à presidência, Guilherme Boulos, afirmou que os problemas da reforma foram excluídos do texto: a capitalização, aumento da idade mínima de contribuição e alteração do BPC. “Os 3 pontos foram excluídos do texto, de modo que apesar do que sugere o placar de aprovação, não foi um 7 a 1 na esquerda. Muito pelo contrário”, afirmou em seu twitter.

Ora, em que país ela vive? Acha pouco que os trabalhadores do INSS só possam se aposentar com o salário integral aos 40 anos de contribuição, e 62 ou 65 anos de idade? Que seja confiscado entre 30 e 40% do valor da aposentadoria de quem ganha de 2 salários mínimos em diante? Acha pouco o confisco da pensão por morte das viúvas e o corte no BPC para alguns milhões? Acredita no papo liberal de que a reforma é necessária, para “caber no orçamento”?

Perante o governo Bolsonaro e seus ataques devemos fazer de tudo para tentar construir a unidade para lutar, sempre que qualquer setor estiver disposto a lutar. Mas, é evidente que é imprescindível para a classe trabalhadora construir uma nova direção, capaz de enfrentar o sistema e disposta a lutar por uma nova sociedade. Sem isso até as lutas contra os ataques evidentes e violentos como este não são respondidos à altura.