Marcos Correa/PR
Redação

Editorial do Opinião Socialista nº 585

O Presidente da República, Jair Bolsonaro, divulgou e defendeu pessoalmente, por whatsapp, a convocatória de uma manifestação de rua pelo fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), quer dizer, a favor de um golpe militar e da instalação de uma ditadura no país, em que Bolsonaro governe “sozinho”, apoiado nas Forças Armadas e na minoria que hoje concorda com ele. Para fazer o quê? Para impor um projeto de ditadura e escravidão (desemprego, exploração, entrega do país, destruição do meio ambiente e barbárie), em prol dos Estados Unidos, de Trump e dos 1% de bilionários brasileiros. Para isso, quer que os trabalhadores e o povo sejam calados e não possam dar nem um pio. Como era na ditadura, em que eles matavam e torturavam quem discordava, enquanto a corrupção corria solta, a exploração era extrema, as multinacionais faziam a rapina do país e um punhado de bilionários fazia a festa.

Os trabalhadores precisam defender as liberdades democráticas

Todos nós temos raiva desse Congresso e do STF, que não fazem outra coisa a não ser aprovarem todas as reformas do Bolsonaro-Guedes-Mourão contra nós, em prol dos ricos. Quer dizer: os três poderes governam a favor dos ricos e contra os de baixo todos os dias. Dá-lhe “reforma da Previdência” e “trabalhista”, dá-lhe entrega da Petrobrás, das estatais, do Brasil; dá-lhe retirada de direitos e corrupção. Nisso estão todos juntos. Nós queremos um sistema e uma democracia de verdade, em que sejam os trabalhadores e o povo pobre a mandar.

Bolsonaro quer fechar o Congresso e o STF, porém, não para que os trabalhadores e o povo mandem no país. Mas para que ele, Bolsonaro, militares e milicianos, tenham poder absoluto para calarem nossa voz. Para acabarem com qualquer possibilidade de defesa dos trabalhadores contra os patrões e o Estado; para que possam fazer o que quiser.

Nós, da classe trabalhadora, queremos mais democracia, não menos. Queremos uma ordem mais justa e não menos. A ordem que queremos é aquela em que os ricos parem de nos roubar todos os dias e tenha justiça. Bolsonaro, não. Ele governa para os ricos. Quando quer fechar o Congresso e o STF é para que quem discorda do seu governo não possa dar nem um pio! Com um regime assim, nem denunciar, nem protestar, nem lutar contra a entrega do Brasil, da Petrobrás e da Amazônia, poderemos. Nem fazer greve e manifestação. Nem ter sindicato. Nem reclamar do desemprego e dos baixos salários; ou da violência policial contra os pobres e negros, nem contra os descalabros do ministro sem educação, ignorante e abaixo de qualquer crítica da educação, nem defender liberdade religiosa e estado laico, nem nada.

Por tudo isso, para a classe trabalhadora, não é indiferente as liberdades democráticas que, aliás, foram conquistadas com muita luta do nosso povo, tendo a classe operária como protagonista de muito peso. Por isso, a classe trabalhadora não pode titubear, nem ser indiferente, nem ficar calada. Não queremos ditadura. Não vamos deixar nenhum governo instalar ditadura militar de novo no país.

Nós queremos uma democracia operária, de verdade, não essa democracia dos ricos. Queremos algo melhor. Mas, quando ameaçam com uma ditadura, ou acabar com toda liberdade, defendemos a liberdade que temos, para poder lutar pela que queremos. É como se queremos uma casa melhor, de repente vem a polícia nos desalojar, destruir o que temos para nos colocar numa casa ainda pior. Expulsamos a polícia, defendemos o que temos para seguir lutando por algo melhor.

Fora Bolsonaro-Mourão!

Na boca de Bolsonaro-Mourão, “fechar Congresso e STF” é defesa de ditadura militar para impor semi-escravidão e acabar com toda liberdade de protestar para os trabalhadores e o povo. Isso, por si só, do ponto de vista jurídico, legal, seria motivo de impeachment imediato, pois é crime de responsabilidade. Mas Bolsonaro ainda não cai porque a maioria da burguesia faz vista grossa para tudo isso, pouco se lixa para seus arroubos autoritários, desde que garanta os ataques aos trabalhadores para aumentar os lucros dos bilionários. Além disso, a oposição parlamentar não quer derrubar Bolsonaro. Deixam perigosamente rolar todo seu projeto de barbárie, pois estão mais comprometidos em manter a “ordem” atual exigida pela burguesia. E uma parcela da classe trabalhadora ainda não consegue entender que o governo é responsável pelos seus males, porque a experiência com o PT foi um desastre.

Antes de mais nada, é necessário explicar, explicar e explicar à classe trabalhadora, que toda e qualquer reivindicação justa nossa bate de frente com esse governo. E que ele, que promove a entrega do Brasil, a destruição da Amazônia, o desemprego, a fome e a miséria, o encarceramento em massa e esconde suas relações com a milícia, com o crime organizado e a corrupção, quer, além de tudo e ainda mais, para impor tudo isso, calar nossa voz.

Depois que convocou o ato pró-ditadura do dia 15 de março, perante a reação generalizada contra, Bolsonaro, como sempre, disse que não disse, que “compartilhou” privadamente e não como “Presidente da República”. Mas esse “joguinho” não é inocente. É para ver se cola. Se colar, colou. Assim, ele vai testando se dá para avançar no seu projeto de ditadura. Enquanto isso, a manifestação pró-fechamento do Congresso e do STF, a favor de uma ditadura militar, continua sendo convocada para supostamente “defender Bolsonaro”, na verdade para defender que ele tenha poderes ditatoriais para calar qualquer oposição e, principalmente, toda e qualquer possibilidade de opinião, manifestação, organização e protesto da classe trabalhadora e do povo.

Unidade ampla para lutar
Só a mobilização operária e popular pode defender liberdades democráticas

Contra a ameaça de ditadura de Bolsonaro e seu projeto de escravidão, toda unidade ampla para lutar é necessária e deve ser defendida, com todos que estejam dispostos. Mas, enquanto fechávamos esta edição, setores democráticos da burguesia como Fernando Henrique Cardoso, ou defensores da conciliação de classes como Lula, diziam que não devemos lutar para botar para fora Bolsonaro. “Melhor nem cogitar, prematuramente, de tal movimento”, afirmou FHC. “Eu tenho alertado o PT ter paciência, porque nós temos que esperar quatro anos“, disse Lula.

Ora, confiar a defesa das liberdades democráticas a Rodrigo Maia, Alcolumbre, ou pior, à cúpula das Forças Armadas é o mesmo que decidir ficar desarmado perante um iminente ataque de um ladrão. A única possibilidade de impedir que Bolsonaro leve adiante seu plano, é ter a classe trabalhadora e a juventude mobilizada. Se, perante a mobilização de ultradireita, ficarmos inativos, eles se sentirão mais fortes para atacar. Um “acordão” por cima para deixar Bolsonaro em paz facilitará a vida de quem quer nos estrangular.  É preciso ampla unidade de ação para lutar. Negociar acordão com Bolsonaro é facilitar seu caminho.

Unidade para lutar e projeto socialista

Ao mesmo tempo em que devemos e precisamos fazer toda unidade para botar para fora Bolsonaro-Mourão e seu projeto de ditadura, já, precisamos construir um projeto e uma alternativa socialista para o Brasil e para o mundo. Nesse sentido, frente ampla eleitoral para governar, com programa de administrar o status quo atual e aplicar sobre a classe os ajustes da burguesia e do imperialismo, como fazem os governadores do PT, Flávio Dino e cia. (que dirá, Dória, Leite e outros) é um desastre.

Esse tipo de frente é uma frente contra as lutas, em prol dos ataques aos trabalhadores, das “reformas” que fortalecem Bolsonaro. Nós queremos um mundo socialista. Temos direito e o dever de lutar por ele. Do contrário, seremos coniventes com a decadência capitalista, que só produz barbárie. 15 anos de PT depois, temos Bolsonaro. Não queremos repetir esse mesmo projeto. Então, devemos defender um projeto socialista.

Mas, sim, na luta devemos nos unir todos para derrotar Bolsonaro já, porque para lutar, e na luta por qualquer projeto, é preciso também impedir qualquer tentativa de ditadura. Nesse sentido, é muito complicado que Lula diga que devemos esperar até de 2022 para tirar Bolsonaro. Quer dizer, nem quando o governo ameaça com defesa de ditadura, Lula se propõe a mobilizar para derrubá-lo. Ora, esperar até 2022 é deixar ir chocando os “ovos da serpente”, e pior, é dizer à classe para entregar nas mãos de Rodrigo Maia e das Forças Armadas a defesa da sua liberdade de lutar. Isso não! Insistimos que é hora de ampla unidade para lutar e derrotar Bolsonaro-Mourão e seu projeto de ditadura, já!