Ato 05/10/2021 no Rio de Janeiro. Foto: Fabrício Goyannes
Cyro Garcia, Presidente do PSTU-RJ

Não existe uma saída fácil para o Rio, muito menos eleitoral. É preciso apresentar um programa, agora, nas lutas, mas também nas eleições, que parta da atual situação de nosso estado mas que tenha como meta uma ruptura radical com tudo o que esta aí. Ainda estamos longe das eleições, quase um ano, e toda pesquisa indica um momento dado. Não é certeza que chegaremos nesta mesma situação no ano quem vem. Mas perante as últimas pesquisas queremos levantar um debate: a boa localização eleitoral de Freixo é a solução para os problemas do estado? E qual o projeto dos restantes partidos e candidatos?

Foi divulgada uma pesquisa eleitoral no dia 28 de novembro que trabalha com 3 cenários. Freixo está colocado em primeiro lugar em dois deles. No primeiro cenário, com a presença de Paes, Freixo aparece em segundo lugar, com 19% das intenções de voto, Paes em primeiro, com 26%, e Cláudio Castro vem em terceiro com 14%.No segundo cenário, sem Eduardo Paes, Freixo tem 25% das intenções de voto, em segundo está Cláudio Castro e,  em terceiro, Rodrigo Neves (do PDT) com 7%. No terceiro cenário, com Hamilton Mourão como candidato, Freixo tem 23% dos votos, Mourão tem 17%, Cláudio Castro 12%, Rodrigo Neves 6% e Felipe Santa Cruz (o atual candidato de Paes), 3%.

Cláudio Castro

Apenas para termos uma ideia das mudanças possíveis, o governador do estado, que segue no páreo, ainda que atrás de Freixo, guarda uma carta importante na manga, ao dispor de alguns bilhões de reais para torrar no próximo ano, seja pelo dinheiro obtido da privatização da Cedae, seja pelo aumento da entrada de royalties do petróleo no estado.

Além disso, a retomada das atividades, se não houver uma ascensão da nova variante do coronavírus, poderá permitir um carnaval mais próximo do “normal”, o que também favoreceria o atual governador do estado.

Diga-se de passagem, há motivos de sobra pra lutar, desde já, contra o atual governador. Não apenas porque ele foi eleito na chapa, do agora cassado, Wilson Witzel, o juiz ultradireitista partidário de execuções sumárias e outros absurdos contra a população. Mas também porque o próprio governador foi cúmplice em uma das maiores chacinas já perpetradas pela polícia no estado do Rio, o massacre de jacarezinho, que deixou o saldo de 28 mortos.

Foi também sob seu governo que se privatizou a Cedae, num negócio nebuloso e que entregou um dos principais patrimônios do estado à iniciativa privada.

Também está sendo sob o governo de Castro que a previdência dos trabalhadores o estado está sendo reformada, acumulando uma série de ataques contra a população em geral e, em especial, contra esses trabalhadores que tem tido suas condições de trabalho e de vida achatadas permanentemente pelos muitos governos que se sucederam.

Eduardo Paes

Paes, que aparece como favorito nas pesquisas, tem negado que é candidato ao governo do estado e apresenta Felipe Santa Cruz como seu candidato. O atual prefeito do Rio de Janeiro é um dos poucos sobreviventes da política mais tradicional carioca. Um dos poucos que ainda não passou uma temporada no complexo de Bangu.

O prefeito, que esbanja malandragem e bom humor nas redes sociais, não tem demonstrado nenhuma boa vontade com os funcionários públicos em geral. Aprovou uma série de medidas contra os trabalhadores do município e, junto a isso, tem tido um trato truculento com a greve dos trabalhadores da Comlurb, tendo inclusive demitido dois garis por participarem de uma greve por melhores salários e condições de trabalho.

Freixo

O candidato melhor cotado eleitoralmente neste momento, tem a simpatia de amplos setores do ativismo de esquerda, mas no último período vem fazendo uma acentuada curva à direita para poder aparecer aos olhos da classe dominante e dos setores mais conservadores como alguém palatável.

O atual deputado estadual, do PSB, foi eleito pelo PSOL mas rompeu com este partido, o qual era membro desde 2005, em uma polêmica pública sobre a necessidade de se ter uma frente ampla contra o “fascismo”. Em 2020, Freixo se recusou a ser o candidato a prefeito pelo PSOL porque o partido não incluiu em seu leque de alianças pessoas como Paes, o atual prefeito, e Rodrigo Maia, na época presidente da câmara dos deputados e com quem Freixo mantinha relações “respeitosas”.

Ainda durante a campanha municipal, Freixo que não era candidato a nada, se meteu em uma discussão pública com o PSOL para defender Wesley Teixeira, um candidato a vereador da Baixada Fluminense que recebera dinheiro de Armínio Fraga, empresários e banqueiros. Na época, Freixo ameaçou de sair do partido caso o PSOL punisse o candidato.

Nos meses que antecederam sua saída do PSOL, Freixo iniciou um movimento de aproximação à Lula, com quem, desde então, tem mantido diversos encontros com o objetivo de ser o candidato do presidenciável no Rio de Janeiro.

Lula, no entanto, é só um dos campos com qual Freixo busca fechar acordo, por outro lado, o deputado federal tem feito uma série de reuniões com figuras tradicionais da política carioca, alguns deles, em outros momentos, bastante criticados pelo deputado.

Entre seus novos afetos estão o prefeito da cidade, Paes, mas também buscou o Dr. Luizinho, principal liderança do PP no estado, e o filho de Antony Garotinho, Wladimir Garotinho, prefeito de Campos dos Goytacazes.

Outra movimentação que o candidato tem feito é em relação à polícia militar. Freixo se construiu como um defensor dos direitos humanos e, inclusive, como crítico ferrenho da atuação de polícia militar. Nos últimos meses, no entanto, ele tem buscado aparecer como alguém mais simpático, seja aos policiais, seja a instituição. Em suas redes sociais é possível ver fotos suas com soldados nas ruas e com coronéis no parlamento. O objetivo, mais que evidente, é afastar-se da imagem de inimigo da polícia e da caricatura que dele fizeram de “defensor de bandido”.

O PT

O PT, por seu turno, vem jogando com variáveis abertas. Lula tem dado bastante atenção a Freixo, ainda mais que o PSB é um de seus objetivos estratégicos eleitorais nesse momento. Houve vários encontros entre o presidenciável do PT, membros do PSB e também com Freixo. Destas reuniões, invariavelmente, Freixo tem saído afirmando que é o candidato de Lula no Rio de Janeiro.

No entanto, em outra frente, os petistas André Ceciliano e Washington Quaquá têm deixado as portas abertas para outras hipóteses. Recentemente, Quaquá, que é presidente do PT do Rio e vice-presidente nacional, acenou, para ninguém mais, ninguém menos, que Cláudio Castro, o atual governador e bolsonarista de primeira hora.

Esse tipo de atitude pode expressar tanto uma crise interna no PT, como uma política deliberada que, uma vez garantido o apoio de Freixo a Lula, garanta ao PT estadual as mãos livres para seguir a política que melhor lhe convier. Um exemplo bastante claro dessa possibilidade é o que estamos assistindo em São Paulo com Boulos, Haddad e Lula.

Os impasses à esquerda

A movimentação de Freixo, em nível estadual, e de Lula, em nível nacional, abriu uma crise de identidade em setores da esquerda.

O PSOL, com todos os limites que já discutimos, se construiu como uma organização politica a esquerda do PT. Parte razoável de sua identidade politica está calcada no reconhecimento de seus integrantes de que o PT não serve como um instrumento de transformação social e de que era necessário construir algo novo, algo diferente do PT.

Nos anos de governo Lula e Dilma, o PSOL sempre se apresentou como oposição de esquerda a este partido e a estes governos. Quando veio a crise do governo Dilma, a maioria da direção do PSOL aderiu à narrativa o golpe institucional e, desde então, vem compondo um campo politico cada vez mais próximo ao PT.

Esta opção conduziu o debate interno do PSOL a girar em torno de se ter ou não uma candidatura própria para presidente no próximo ano. Mais que uma questão eleitoral, o que está de fato em jogo é a existência do PSOL, ou o sentido politico desta.

A alternativa majoritária na direção do PSOL vai ao sentido de não ter candidatura própria a presidente e de aderir à candidatura Lula, já no primeiro turno. A razão dessa politica é a mesma que Freixo apresenta em nível estadual, que é a unidade de tudo e todos contra Bolsonaro.

No Rio de Janeiro, essa inflexão ao lulo-petismo, da maioria da direção do PSOL, colocou o partido em um impasse. Freixo foi a maior figura pública deste partido. Era seu principal puxador de votos, e cumpriu um papel fundamental nas eleições de 2018, onde se elegeu quatro deputados federais pela legenda.

Sem Freixo, e com uma politica nacional de Frente Ampla eleitoral contra Bolsonaro, as opções que restam são: apoiar Freixo para governador e compor a tal frente amplíssima no Rio de Janeiro ou lançar uma candidatura própria, provavelmente laranja, para fechar sua crise à esquerda, mas sendo bastante incoerente com a política nacional de apoio incondicional a Lula.

Construir um polo socialista e revolucionário no Rio de Janeiro

Não existe uma saída fácil para o Rio, muito menos eleitoral. É preciso apresentar à cidade e ao estado um programa, agora, nas lutas, mas também para as eleições, que tome como ponto de partida o atual cenário de nosso estado, mas que tenha como meta, uma ruptura radical com tudo o que esta aí. Que signifique mais dinheiro para saúde, educação, transporte e moradia. Que se reverta as privatizações da Cedae e da Light. Que puna exemplarmente todos os envolvidos em chacinas, que democratize as polícias e as coloquem sob controle dos trabalhadores e moradores. É preciso apresentar, no Rio de Janeiro, um programa que se proponha a aumentar os impostos sobre os ricos e super ricos. Cobrar mais IPTU das áreas nobres, isentando os pobres e os moradores de regiões menos favorecidas.

É possível, e necessário, um programa que rompa com o programa de recuperação fiscal, e que destine as verbas do estado para um plano de obras públicas, que construa casas, redes de esgotos, estradas e ao mesmo tempo inicie um processo de recuperação dos rios e praias poluídos de nosso estado.

Apresentar um programa socialista e, ao mesmo tempo, uma proposta de mobilização e organização social em que as decisões sejam tomadas por assembleias, conselhos e outros tipos de organismos onde a classe trabalhadora e o povo sejam maioria.

Nós achamos que é possível e necessário ter um programa como esse, que tenha visibilidade não apenas nas eleições, mas também nas eleições.

Fazemos um chamado, em especial à esquerda do PSOL, para que venham discutir a construção de um polo socialista e revolucionário no Rio de Janeiro.