Para onde vai o país, com a frustração das massas no governo Lula? Em essência, vai depender da evolução da luta de classes, ou, mais precisamente, do surgimento ou não no país de uma grande onda de lutasEm governos de frente popular, (colaboração de classes entre partidos originários dos trabalhadores, como o PT, e representantes da burguesia) como o de Lula, muitas vezes ocorreram grandes processos de lutas, como a grande greve com ocupações de fábricas em 1936, na França, no governo de Leon Blum, do Partido Socialista (PS), ou a Revolução Espanhola na mesma época.
Em outros processos, como os governos dos Partidos Socialistas europeus mais recentes, as direções conseguiram evitar a ocorrência de grandes lutas, e tudo foi encaminhado para as eleições, ao fim dos mandatos. Este é, evidentemente, o plano, tanto do governo do PT, como da oposição burguesa: evitar um grande ascenso, e caminhar normalmente para as eleições de 2006, com prévias este ano.
Mas é bom lembrar que esta não é a única alternativa. A América Latina está cheia de exemplos recentes de levantes contra governos que aplicam planos neoliberais, depois de eleitos com grande apoio das centrais sindicais e partidos reformistas, para mudar o país. Foi assim com De la Rúa, na Argentina. Governos de direita também caíram, na América Latina, por aplicarem os mesmos planos, como Sanchez de Losada, na Bolívia. Outros governos não caíram, mas ficaram muito enfraquecidos, como Alejandro Toledo, no Peru, que teve de enfrentar greves e insurreições regionais.
Isto pode acontecer no governo Lula? Pode ser que o governo do PT enfrente greves e explosões populares, que o derrubem ou o enfraqueçam? Todos os apoiadores do governo, assim como os amantes da rotina eleitoral, dirão que não, que é impossível. No entanto, olhando a América Latina de hoje, podemos dizer que sim, é possível. O desgaste atual do governo abre claramente esta possibilidade.
Na verdade, a única possibilidade de derrotar o plano neoliberal é através de grandes mobilizações. As eleições de 2006 não são uma saída real, porque levarão à reeleição de Lula (cada vez mais improvável), ou ao retorno do PSDB.
A falência das expectativas de mudanças no país através das eleições, com o governo Lula, deve levar os ativistas a repensar a estratégia. Nas eleições, a burguesia ganha de uma forma ou de outra, na medida em que controla a economia e pode distorcer os resultados, seja pelo financiamento milionário e apoio de mídia as suas candidaturas, seja pela atração de dirigentes operários ao reformismo, como foi com o PT. As massas votaram em Lula por mudanças, e o país não mudou nada. E não mudará por eleições.
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