Quem pode se sentir tranqüilo com George Bush como presidente e “Dick” Cheney como vice? É o que devem se perguntar até os privilegiados habitantes de Wall Street, que nunca estiveram tão preocupados com os rumos que a maior economia do planeta está tomando nos últimos meses. Principalmente a partir do 9 de julho, quando receberam a visita do seu patriota presidente, que fez um discurso para acalmar o mercado, ao prometer leis mais severas para mandar para a cadeia quem está fraudando balanços de empresas para auferir lucros indevidos no mercado, quer dizer, quem está fazendo esse tipo de “balanço criativo”.
O que mais preocupa seus colegas do mercado, entretanto, é que o empresário George Bush não tem nenhuma moral para condenar essas falcatruas contábeis. O que se murmurava nos corredores de Wall Street é que ele deveria ser o primeiro a ser encarcerado, mesmo com a velha legislação anticorrupção em vigor.
Acontece que – como foi noticiado no dia seguinte pelos principais jornais americanos – quando era um dos principais dirigentes da petrolífera Harken Energy, no Texas, em 1990, George cometeu exatamente o mesmo crime de corrupção que andou prometendo punir no seu discurso em Wall Street: obteve empréstimo privilegiado da sua própria empresa, no valor de US$ 850 mil, comprou ações com o dinheiro e manipulou o balanço, mostrando grandes lucros, quando na verdade a empresa estava com grandes prejuízos. Com essa falcatrua, as ações da sua deficitária empresa subiram e ele rapidamente as vendeu, tendo grandes lucros.
Pela legislação americana, todo executivo que vende grandes quantidades de ações da sua própria empresa tem que avisar imediatamente o órgão regulador do mercado, que é conhecido pela sigla SEC (equivalente à CVM no Brasil). George só avisou à SEC mais de oito meses depois! O processo aberto na época contra o criativo empresário texano foi arquivado pouco tempo depois, quando seu pai já era presidente dos EUA e gozava de grande popularidade, após a Guerra do Golfo.
As mesmas acusações contra o presidente americano também são feitas na justiça contra seu vice-presidente. Dick Cheney, outra flor-que-não-se-cheira do setor petrolífero do Texas, foi presidente da Halliburton, a principal empresa mundial de prestação de serviços na área do petróleo, no período entre 1995 e 2000, onde cometeu os mesmos delitos criminais do seu inseparável amigo George.
Dick está sendo investigado pelo mesmo crime de corrupção de “balanço criativo” de lucros. Também pesa contra ele acusações de ter beneficiado empresas de energia – quando já ocupava a vice-presidência – como a texana Enron, que acabou entrando em moratória em dezembro e abriu a safra de escândalos contábeis das maiores empresas dos EUA e da Europa
(*) José Martins é economista e publica seus artigos na Crítica Semanal da Economia, publicação do 13 de Maio – Núcleo de Educação Popular
Post author José Martins*
Especial para o Opinião Socialista
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