Redação
A demissão do ministro da Justiça, Sérgio Moro, na manhã desta sexta-feira, 24, representa o mais duro baque do governo Bolsonaro até o momento. Moro anunciou sua saída do governo em entrevista coletiva em que denunciou as sucessivas interferências de Bolsonaro nas investigações que envolvem ele e a sua família, inclusive no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF).
A notícia do pedido de demissão de Moro explodiu na quinta-feira, diante da intenção de Bolsonaro em trocar o comando da Polícia Federal, até então a cargo de Maurício Valeixo, braço direito do ministro demissionário. Essa queda de braço já havia se desenhado em agosto do ano passado, mas agora Bolsonaro se demonstrava irredutível. Apesar da ala militar do governo ter tentado costurar a permanência de Moro, Bolsonaro atravessou intermediários e publicou a exoneração de Valeixo nesta sexta-feira.
O desespero de Bolsonaro em defenestrar o diretor-geral da PF tem a ver com o avanço das investigações envolvendo o “gabinete do ódio” na CPI das Fake News, e suas implicações contra o filho do presidente, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro. Além disso, já se sobrepunham o desgaste do caso Queiroz e o esquema de rachadinhas no gabinete de seu outro filho, o senador Flávio Bolsonaro (com todos os desdobramentos que isso produziria a partir do envolvimento com as milícias).
O discurso de saída de Moro foi uma relação de crimes cometidos por Bolsonaro. Desde crime de responsabilidade e obstrução de Justiça, ao interferir nas investigações contra seu governo e pedir acesso a documentos sigilosos de inteligência, até falsidade ideológica ao colocar a assinatura de Moro na exoneração do diretor-geral da PF.
A demissão de Moro, em plena pandemia de coronavírus que vai se agravando no país, joga o governo Bolsonaro numa crise inédita. Além de aprofundar uma crise nas alturas, deve corroer grande parte de sua base que havia aderido a seu projeto em nome de um suposto combate à corrupção, o chamado “setor lavajatista” que ainda permanecia nas fileiras do bolsonarismo.
Com a autoridade conquistada pela Lava Jato, Moro servia para conferir um verniz ético a um governo envolvido com milicianos e rodeado por denúncias de corrupção. Não por acaso, era um ministro mais popular que o presidente. Tinha mais de 50% de aprovação, enquanto Bolsonaro oscila na casa dos 30%. Essa disputa por holofotes com vistas a 2022, inclusive, foi outro motivo para a saída de Moro.
Moro: show de hipocrisia
Desde o momento em que aceitou entrar no governo, Sérgio Moro sabia com quem estava lidando. Uma vez no governo, baixou a cabeça inúmera vezes a Bolsonaro, fechou os olhos à sucessão de absurdos e, mais que isso, mostrou-se cúmplice de seu chefe, como quando confessou ter mostrado ao presidente relatórios da investigação contra os laranjas do PSL, antigo partido de Bolsonaro.
Quando se viu em meio à crise da “Vaza Jato”, em que ficou patente sua atuação seletiva e ilegal em meio às operações que lhe deram fama, Moro foi se abrigar no colo de Bolsonaro.
Moro tampouco se pronunciou quando Bolsonaro convocou os atos pelo fechamento do Congresso e do STF e por uma ditadura. Ou agora, quando o presidente leva a cabo uma política genocida em meio à pandemia que ameaça a vida principalmente dos trabalhadores e do povo pobre.
Finalmente, Sérgio Moro em sua entrevista, que muitos viram uma verdadeira “delação premiada”, confessou que fechou os olhos para os inúmeros crimes que o governo cometia na sua frente, o que importava de fato era se o seu aliado estava à frente da PF. Caso Bolsonaro recuasse na exoneração de Valeixo, Moro denunciaria todas as interferências do chefe? Evidente que não. Ao mesmo tempo em que a demissão de Moro expõe ainda mais a corrupção no governo Bolsonaro, também mostra que ele tampouco representa uma alternativa.
Fora já Bolsonaro e Mourão
Bolsonaro surfou a justa indignação com os governos do PT, apresentando-se como uma alternativa “antissistema” e contra tudo o que está aí. Mas essa imagem vem rapidamente se desmoronando. Além de sua relação histórica com as milícias, o governo Bolsonaro implementa um projeto de semi-escravidão, com aprofundamento da reforma trabalhista e a reforma da Previdência em favor dos grandes empresários e dos banqueiros.
É o aprofundamento e a radicalização dos projetos dos governos anteriores, mas agora com uma tentativa da implementação de uma ditadura, com a convocação dos atos pró-AI-5 e o flerte a um autogolpe. Bolsonaro quer impor uma semi-escravidão, entregar o país a Trump, e não deixar que você sequer proteste ou reclame.
Bolsonaro é hoje o principal entrave à luta contra o coronavírus. Sua política é o de deixar morrer dezenas ou centenas de milhares, para que os grandes empresários e banqueiros não deixem de lucrar. E, diante da possibilidade de um impeachment, se aliou agora a Valdemar da Costa Neto, Arthur Lira e Roberto Jefferson, investigados ou presos no Mensalão, jogando no lixo o discurso anti-corrupção. A demissão de Sérgio Moro e suas denúncias contra Bolsonaro só reforçam isso.
É hora da classe trabalhadora se mobilizar pelo Fora Bolsonaro e Mourão. Em defesa da vida, e também pelas liberdades democráticas, direitos, empregos, e contra a corrupção.