De 16 a 18 de maio, a capital do Estado espanhol, Madri, foi palco da 2ª Reunião de Cúpula da América Latina, Caribe e União Européia.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, Luiz Carlos Prates, o Mancha, esteve em Madri. Em entrevista ao Opinião Socialista, Mancha fala sobre a reunião da Cúpula, sobre o Fórum Social Transatlântico ocorrido em Madri, de 13 a 17 de maio e da manifestação que reuniu mais de 100 mil pessoas na capital do Estado Espanhol.

OS – Qual a sua avaliação da 2ª Reunião de chefes de Estado da União Européia, América Latina e Caribe?
Mancha
– Essa conferência foi um verdadeiro fracasso. Não houve nenhuma resolução ou debates importantes como, por exemplo, sobre a dívida externa, que atinge a economia dos países latino-americanos; demonstrou também a incapacidade da União Européia de se contrapor a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas). Ao contrário, acho que ficou claro o desejo da União Européia de defender os interesses de suas multinacionais na América Latina, como a Telefonica, a Volkswagen e o Santander. Foi frustrante para os governantes da América Latina, porque não conseguiram nenhum tipo de acordo com a União Européia, tanto que alguns presidentes saíram de lá reclamando do protecionismo dos países ricos. Além disso, o primeiro-ministro da Espanha, José Maria Aznar, apoiado pelos chefes de Estado, exigiu do governo argentino que seguisse adotando as medidas impostas pelo Fundo Monetário Internacional.

OS – Paralelo à reunião dos chefes de Estado aconteceu o Fórum Social Transatlântico. Qual a importância da conferência?
Mancha
– Ocorreram vários debates no Fórum, como o da necessidade de construção de uma alternativa à globalização capitalista e à situação atual da América Latina. Também foi discutida a dívida externa da América Latina e a ALCA. O Fórum culminou com uma grande manifestação em Madri, no domingo, dia 19, com a participação de dezenas de milhares de trabalhadores e jovens.
Como parte das atividades, foi entregue um abaixo-assinado ao Ministério das Relações Exteriores da Espanha, com mais de 6 mil assinaturas, reivindicando o cancelamento da dívida externa Argentina. Vale ressaltar que uma parcela significativa desta dívida é com empresas de capital espanhol como o Santander, Telefonica e outras.
Diversas organizações participaram desta campanha, inclusive o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, seção da LIT-QI (Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional) na Espanha, um dos organizadores da campanha pelo cancelamento da dívida externa.
Vale lembrar que, tanto na manifestação quanto no fórum, as duas grandes centrais sindicais da Espanha, Comissões Obreras e UGT, estiveram completamente ausentes. O Fórum Social Transatlântico foi organizado basicamente por setores que estão à esquerda das Comissões Obreras e da UGT, e também por ONG’s e setores minoritários do movimento sindical e político da Espanha.

OS – Como você viu essa manifestação?
Mancha
– Acho que foi mais uma demonstração de que hoje na Europa está havendo uma reanimação das lutas, cuja expressão se deu recentemente na Itália em repúdio as mudanças às leis trabalhistas que Silvio Berlusconi vem tentando aplicar, fato que provocou uma greve geral, e que também se manifestou em Barcelona durante a Reunião dos chefes de Estado da União Européia, em abril, quando 500 mil pessoas foram às ruas por 3 ou 4 dias.

OS – A que se deve essa retomada das lutas?
Mancha
– É uma resposta à desregulamentação das leis trabalhistas que se intensificaram na Europa. Na Espanha, por exemplo, o governo quer dificultar o acesso ao seguro desemprego, obrigando o trabalhador a aceitar a primeira oferta de emprego, ainda que seja precário, e facilitar a vida das empresas para que elas possam diminuir os custos com as demissões. Esses são dois fortes ataques aos direitos dos trabalhadores espanhóis e estão gerando uma grande revolta. Esta situação obrigou as centrais sindicais a convocarem uma Greve Geral para 20 de junho, o que pode significar um momento importante nas lutas dos trabalhadores espanhóis, assim como aconteceu na Itália.
A convocação dessa greve está combinada com uma retomada de paralizações parciais. Isto, apesar das direções da UGT e Comissões Obreras terem pactuado com o governo que os aumentos salariais não poderiam ultrapassar 2%. Essa retomada se contrapõe à ofensiva do governo, que quer desregulamentar direitos e ataca liberdades democráticas sob o argumento do terrorismo, para colocar na ilegalidade organizações nacionalistas ou mesmo dos trabalhadores.
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