Presidente Dilma acompanhada pelo vice, Michel Temer e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (ambos do PMDB)
Agência Brasil

Com a aproximação das eleições presidenciais, a grande imprensa tem destacado uma nova crise no interior da base aliada do governo federal. Mais uma vez, PMDB e PT entram em conflito não por motivos ideológicos ou por divergências sobre qual estratégia o país precisa seguir. Trata-se de um conflito cuja origem está na disputa por mais cargos nos ministérios e nas estatais, além da liberação de verbas para os deputados do PMDB executarem suas emendas. Contudo, além do show de fisiologismo, do famoso “toma lá dá cá”, existe também uma disputa em função das eleições de outubro e o espaço que o PMDB terá nas coligações estaduais com o PT.

Nos últimos dias, o PMDB impôs algumas derrotas ao governo. Aprovou a criação de uma comissão para investigar a Petrobrás, além da convocação de dez ministros para prestar esclarecimentos.  O partido também ameaça votar contra o projeto do Marco Civil da Internet, que vem sendo adiada na Câmara.

A presidente Dilma dá impressão de que vai endurecer com o PMDB. Mas isso é só uma falsa impressão…

O final de todas as crises anteriores indica que o caminho será mesmo, o de um novo loteamento de cargos na Esplanada dos Ministérios e nas estatais. E a culpa de tudo isso é do próprio PT, que paga um alto preço por suas escolhas.

O PMDB, desde o fim da ditadura, nunca ficou distante do poder. É a maior legenda de aluguel deste país e está acostumado às benesses e aos cargos do Estado. Quando o PT chegou ao Planalto essa história não mudou. Pelo contrário, o partido ampliou a corrupção com o dinheiro dos ministérios e das estatais, transformados em verdadeiros balcões de negócios. Em troca, como é a segunda maior bancada do Congresso, o loteamento dos cargos sela o acordo para que Dilma tenha maioria no parlamento e garanta sua “governabilidade”.

Nunca passou pela cabeça dos governos do PT romper com o PMDB e com essa prática fisiológica. A razão é que essa velha prática garantiu (e ainda garante) ao governo implementar a atual política econômica em favor dos grandes empresários e dos especuladores da dívida pública. Por outro lado, além de ceder cargos aos partidos de direita da base aliada, os governos do PT tiveram que salvar os peemedebistas Renan Calheiros e José Sarney de grossos escândalos de corrupção.

Diante da nova conjuntura aberta com as mobilizações de junho e a aproximação das eleições, a crise na base aliada assume, porém, uma dimensão mais perigosa para o PT. Os protestos de junho fizeram a popularidade da presidente Dilma Rousseff cair abruptamente. Apesar de uma relativa recuperação, ainda longe dos 65% de antes da crise, a popularidade de Dilma vem oscilando entre 43% para 39% entre o início de dezembro e a metade de fevereiro. Uma prova de que existe um desgaste do governo Dilma. O que se vê é uma crescente insatisfação com a situação do país, e as pesquisas mostram que a maioria da população acha que as ações do próximo presidente a ser eleito em outubro devem ser completamente diferentes das que estão sendo feitas por Dilma. Diante dessa situação, o PMDB exige mais espaço e verbas dentro de um governo muito mais enfraquecido do que há quatro anos. Assim, tenta aumentar seu aparelhamento sobre o Estado e garantir sua sobrevivência política nas eleições de outubro.

Vejamos outro dado. Em 2012, antes das manifestações de junho, a taxa de fidelidade da liderança do PMDB a Dilma na Câmara foi de 86%. Contudo, em 2013 tudo mudou. O líder do partido na Câmera só orientou a bancada a seguir o governo em 62% das votações. Em 2014, o PMDB votou contra o governo em metade das vezes.

Este é o preço pago pelo PT ao aceitar as regras do jogo e governar ao lado de empresários, banqueiros e latifundiários. Muitos daqueles que ainda apoiam o governo Dilma ficam constrangidos com negociatas envolvendo o PMDB e o PT. Assim também ficaram quando Lula dizia que “nunca antes na história deste país”, os empresários ganharam tanto dinheiro. Ou ainda quando chamou os usineiros de “heróis”, defendeu Sarney, Renan…

É preciso mudar e construir uma alternativa de poder dos trabalhadores que aponte para as transformações estruturais que o país precisa. Uma alternativa que se apoie nas mobilizações da população e realize o programa reivindicado desde junho pelas ruas. É isso que o PSTU vai defender nas eleições de outubro.