Trabalhadores não devem aceitar nenhuma demissão no setor como “algo natural”Durante a última crise econômica mundial, entre 2000 e 2001, a geração de emprego na construção civil brasileira foi afetada de forma intensa. Na verdade, desde 1998 já se verificava a queda no número de vagas no setor e esta dinâmica só foi revertida em 2004. Uma retração que demorou seis anos para começar a ser revertida. Entre outubro de 1998 e outubro de 2003 foram fechadas 290.360 vagas em todo o país. O patamar de vagas de 1997 só foi atingindo novamente em 2007.

Na década passada, o auge das contratações na construção civil se deu no ano de 1997, com 1.463.216 novos empregos. Neste ano houve 1.740 mortes por acidente de trabalho. No ápice da crise econômica em 2001, o número de mortes saltou para 2629 (51,09% maior em relação a 97) mesmo com a redução para 1.260.986 vagas ou 14% de trabalhadores a menos.

Estas informações são baseadas no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e podem ser acessadas por qualquer um no site do Ministério do Trabalho e Emprego. Demonstram quem são realmente os maiores prejudicados pela crise econômica: os trabalhadores. Parte deles perde seus empregos e fica na miséria sem ter como manter suas famílias, enquanto a outra parte tem que se submeter a um ritmo de trabalho ainda mais intenso e exaustivo, o que leva muitos a pagarem com a própria vida a continuidade da mordomia dos patrões e a saúde financeira das construtoras.

Até o momento, cinco empresas da construção civil de Belém irão dar férias coletivas a seus funcionários. Urbana, Real, Agra, Atenas e Quality vão mandar para casa cerca de mil operários a partir do dia 19 de dezembro.

É importante alertar os operários que muitas das vagas que serão fechadas neste final de ano, diante da nova crise mundial, podem não ser reabertas no próximo período. Portanto, não devemos admitir nenhuma demissão como algo natural. Temos que mobilizar e unir todos os trabalhadores para resistirem aos ataques que os patrões farão.

A crise atual e seus reflexos
O setor da construção civil vive uma grande expansão. Entre janeiro e setembro deste ano, teve um saldo positivo médio, entre demissões e admissões, de 30.303,1 postos de trabalho por mês, ou 1.101,1 por dia em todo o país. Porém, com o terremoto da crise estadunidense que atingiu o mundo, passou a ter um saldo de apenas 71,63 empregos por dia em outubro.

Alguns poderiam dizer: “Isto é normal todo o final de ano existe essa retração!”. De fato há uma retração sazonal neste período. Porém, de acordo com os dados do Caged, este nível só foi verificado nos últimos três anos durante os meses de dezembro. No mínimo, temos um mal sinal com a antecipação em dois meses dessa tradicional retração. Da última vez que ocorreu uma retração no setor, levou-se cerca de 10 anos para se retomar os antigos níveis de emprego.

Temos 1.833.125 trabalhadores no setor de construção em todo o Brasil e, mesmo com a diminuição no saldo de empregos, o setor segue crescendo. Em Belém (PA) chegamos a 14.231 operários em outubro, e temos o quinto metro quadrado mais caro do país. Diversas empresas novas vieram para Belém como a Agra e a Gafisa atraídas por este mercado altamente rentável. Porém a vida do trabalhador não mudou com este crescimento das construtoras. Seguem ganhando mal, sofrendo humilhações e atrasos de pagamento.

Nos jornais e na TV, mesmo com a crise ainda no início, já vemos o governo Lula anunciar uma ajuda de bilhões de reais em financiamentos para as construtoras. Em Belém batem recordes de venda e faturam alto construindo apartamentos luxuosos, enquanto metade dos imóveis da capital paraense, ou cerca de 165 mil habitações, estão em situação precária, de acordo com estudo recente divulgado pela Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão.

A definição de moradia precária, segundo o estudo, é aquela ocupada por família de baixa renda, com muitos integrantes, construída em madeira ou alvenaria inacabada e localizada em área de pouca ou nenhuma infra-estrutura urbana (sem esgoto sanitário, coleta de lixo regular e abastecimento de água potável), além de estar sujeita a alagamentos.

Os trabalhadores que constroem os suntuosos prédios na capital das mangueiras são os mesmos que vivem sem as mínimas condições na periferia. Para enfrentar a crise econômica, não são os empresários que precisam de dinheiro. Precisamos um “pacote econômico” dos trabalhadores, que utilize os recursos que hoje são usados para pagar a dívida externa e para financiar as construtoras. Com este dinheiro podemos construir um grande plano de obras públicas para absorver a mão de obra desempregada e construir escolas, hospitais, creches, casas populares e levar infra-estrutura urbana às periferias das cidades. É disso que os trabalhadores precisam.