Mal começou e uma crise já explodiu na Conferência sobre Mudança do Clima (15ª Conferência das Partes – COP-15), realizada pelas Nações Unidas, em Copenhague.

O jornal britânico The Guardian informou neste dia 8 que o país anfitrião do encontro, a Dinamarca, fez um esboço de acordo com os Estados Unidos e Grã-Bretanha que na prática enterra todos os esforços de criar um novo acordo climático. O esboço foi apresentado durante negociações preparatórias. Segundo o The Guardian, o documento indica que um morador de país rico poderia emitir o dobro de gases estufa do que um morador de um país em desenvolvimento; coloca uma pá de cal sobre o limitado Protocolo de Kyoto, o único acordo climático existente, propondo abolir as tímidas metas dos países ricos propostas pelo acordo; entrega a responsabilidade de financiar o combate às alterações climáticas ao Banco Mundial, um dos principais organismos de dominação dos países imperialistas sobre os países pobres; e propõe à Conferência um acordo vinculante, sem efeito legal. Ou seja, da COP-15 nasceria um acordo político que remeteria qualquer decisão sobre um acordo legal para alguma conferência do clima realizada num futuro distante e tardio.

O documento, por um lado, revela a mais descarada falta de compromisso com o meio ambiente daqueles que mais poluem o planeta com suas emissões de gases estufa. O imperialismo é o principal responsável pela atual catástrofe ambiental. É sempre bom lembrar que, para preservar os lucros de suas empresas, os EUA recusam-se assinar até mesmo um acordo rebaixado como o de Kyoto. Agora o governo do “ecológico” e “progressista” Barack Obama tenta removê-lo. Nem Bush sonhou ousar tanto…

Apesar de todo repúdio, o “documento da Dinamarca”, como está sendo chamado, também será usado para que a COP-15 termine com resoluções mais rebaixadas. Algo que vai mostrar de forma categórica a total incapacidade do capitalismo reverter a catástrofe ambiental.

Países como Brasil, China e Índia, discordaram das propostas apresentaram outro rascunho. O texto condena os países ricos, mas reafirma o que foi definido na reunião de Bali, há dois anos, que os chamados “países em desenvolvimento” devem ter metas voluntárias de redução da curva de crescimento de suas emissões. Ou seja, neste texto, nenhum compromisso é assumido por esses países. Apesar de todo discurso e pose, Brasil, China e Índia até agora propuseram metas bastante tímidas de redução das emissões quando compradas com as recomendações dos cientistas do Painel Intergovernamental em Mudança do Clima (IPCC), que defendem uma redução em 50% para impedir uma elevação maior da temperatura.

Bomba climática
Enquanto os países imperialistas se esforçavam para esvaziar a COP-15, a Organização Mundial de Metereologia (OMM), ligada à ONU, divulgou um relatório que teve um efeito de uma verdadeira bomba sobre aqueles que ainda resistem em reconhecer a responsabilidade humana sobre as mudanças climáticas.

O diretor do órgão, Michel Jarraud, revelou que a década de 2000 a 2009 foi a mais quente desde quando começaram os registros, há 150 anos. “Essa última década foi mais quente do que os anos 1990, que por sua vez foram mais quentes que os anos 1980”, disse ao jornal The New York Times. Segundo a análise da OMM, a temperatura global combinada das superfícies terrestre e marítima do globo para 2009 ficou entre 0.44º C e 0.11º C mais quente que as médias anuais registradas no período de 1961 a 1990. “De acordo com os dados coletados, em partes do Sul da Ásia e da África Central 2009 será o ano mais quente já registrado pela história” , revela a OMM.

Outros estudos produzidas pela Nasa e pelo Centro Nacional de Dados sobre o Clima dos Estados Unidos, cujos resultados ainda são preliminares, também apontam para conclusões semelhantes.

O aquecimento global já é uma realidade e provocou neste ano eventos climáticos extremos na América do Sul, Ásia e Austrália. Como lembra a OMM, no Brasil as enchentes no Nordeste que aconteceram entre março e maio e as que ocorreram em outubro e novembro em Santa Catarina podem ser consideradas anomalias, bem como a seca que atingiu o Sul do país e o Norte da Argentina no início do ano. Mas parece que os negociadores da gelada Dinamarca ignoram essa situação.