Conselho prepara pizza, mas crise se agravaEm tempo recorde, o relator do processo contra Renan Calheiros (PMDB-AL) no Conselho de Ética, Epitácio Cafeteira (PTB-MA), pediu o arquivamento da representação contra o senador no último dia 14. O relator não ouviu nenhuma testemunha envolvida no escândalo e alega não existir qualquer indício contra o presidente do Senado.

Renan Calheiros é acusado de ter contas pessoais pagas por um lobista da empreiteira Mendes Júnior, uma das maiores do país, que mantém negócios com o governo do estado de origem do senador. Segundo as denúncias, o lobista Cláudio Gontijo repassava mensalmente R$ 12 mil à jornalista Mônica Veloso, com a qual Calheiros tem uma filha de três anos.

Ante o questionamento sobre a incompatibilidade entre o valor da pensão e o salário de senador, Renan afirmou que sua renda provém de aplicações agro-pecuárias. Segundo declarações de renda do próprio senador, ele teria tido um ganho de R$ 1,9 milhão em quatro anos com a venda de gado.

Os documentos, com dados improváveis, insinuam que a lucratividade obtida por Renan na venda do gado é bem maior que a média no país. O próprio senador Pedro Simon (PMDB-RS) ironizou os documentos de seu colega de partido afirmando que o país estava perdendo “um excelente ministro da Agricultura”.

Pizza desanda
A escolha do relator do processo no Conselho de Ética foi pensada para absolver sumariamente Renan. Cafeteira é aliado de José Sarney (PMDB-AP) que, por sua vez, é padrinho político de Renan. O relatório de Cafeteira é praticamente a reprodução da defesa de Renan Calheiros e do lobista da empreiteira.

O advogado de Renan Calheiros, ao defender o cliente, utilizou o pavor que os senadores têm de uma ampla investigação. “Quem não está com medo de estar sendo interceptado?”, afirmou, referindo-se às escutas realizadas pela Polícia Federal. O relatório confirma o teatro montado pelo Conselho para acabar rapidamente com a crise e o escândalo envolvendo o presidente do Senado.

No entanto, apesar de todo o esquema para livrar Renan, o caso se agrava cada vez mais. Reportagem veiculada no Jornal Nacional, no mesmo dia que Cafeteira anunciou o resultado de seu relatório, revelou que as notas apresentadas pelo senador para comprovar os negócios com gado são frias. Além disso, o próprio gerente das fazendas do senador contesta o número de cabeças de gado divulgado por Renan.

As provas contra o presidente do Senado aprofundam ainda mais a atual crise política. No entanto, nem assim, a operação abafa vai terminar. Cafeteira já afirmou que, diante da nova situação, não mudará seu relatório. “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, chegou a afirmar. O episódio serve para desmoralizar ainda mais o Congresso Nacional, após sucessivos escândalos de corrupção e impunidade.

Enquanto isso, a CPI da Navalha nem consegue o número mínimo de assinaturas para ser instaurada. Por enquanto, o requerimento pela criação da Comissão Parlamentar de Inquérito conta com 169 assinaturas de deputados e 30 senadores, sendo que é necessário o apoio de 171 deputados e 27 senadores. No entanto, a instauração de uma CPI não vai surtir qualquer efeito na investigação ou punição dos corruptos.

Por uma investigação independente
Só uma investigação levada a cabo pelas entidades da sociedade e dos trabalhadores pode apontar os corruptos. O PSTU defende a abertura do sigilo bancário de todos os envolvidos nos escândalos, a prisão e o confisco de bens dos corruptos e corruptores. O Congresso já se revelou uma instituição falida e desmoralizada.