O mundo inteiro aguarda o início da 26° edição dos Jogos Olímpicos. Do ponto de vista esportivo, as Olimpíadas não deixam de ser um evento cercado de empolgantes disputas entre atletas de todo o mundo e de belos momentos. Mas os Jogos não são apenas utilizados para a celebração da busca da perfeição humana, da habilidade técnica e da superação dos próprios limites. Há também um outro tipo de espetáculo proporcionado pelas cifras milionárias de grandes empresários capitalistas que buscam altos rendimentos e muitos negócios.

No caso específico dos Jogos de Pequim, na China, serão escancaradas as mazelas e contradições vividas por esse país, causadas principalmente pela volta do capitalismo. Contradições que se manifestaram, por exemplo, nas dezenas de protestos pela autodeterminação do Tibete, meses antes dos jogos. Ou ainda, nas bilionárias obras de construção civil em Pequim, que só foram possíveis a partir de uma brutal exploração dos trabalhadores chineses. Algo que tem provocado um indisfarçável constrangimento nos líderes do governo, que pretendiam mostrar a China como exemplo do “progresso humano e econômico”.

A realidade chinesa está muito longe do slogan “um mundo, um sonho”, adotado pelo governo para os Jogos Olímpicos. A enorme exploração dos trabalhadores, as misérias, a revolta no interior do país e os problemas ambientais são algumas das chagas causadas pela restauração capitalista que, às vésperas do evento, o governo tenta esconder pela censura e pela repressão.

Exploração olímpica
Bem diferente do que dizem setores da esquerda, como o PCdoB, a China não é um país que caminha “rumo ao socialismo”. O capitalismo já voltou ao país e pelas mãos da direção do Partido Comunista. A burocracia pôs fim ao monopólio do comércio exterior, à planificação da economia e ao caráter estatal das principais empresas. A produção na China é regulada pelo mercado, como em todas as economias capitalistas.

Por outro lado, a China não se tornará um novo país imperialista, que “competirá de igual para igual com os EUA”, como afirmam muitos. O tão comemorado crescimento econômico chinês está totalmente subordinado aos interesses das empresas imperialistas e apoiado na produção e na exportação a baixo preço. Cerca de 60% das companhias que atuam no país não são chinesas. Com o retorno do capitalismo, o país se transformou numa plataforma de exportação onde as multinacionais têm lucros milionários.

Calcula-se que os Jogos Olímpicos elevaram em 10% os preços das ações das grandes empresas de material esportivo, como é o caso da Adidas, patrocinadora oficial dos jogos. Grande parte da produção de material esportivo dessas empresas ocorre na China, onde trabalhadores recebem menos de US$ 2 por dia. Segundo uma pesquisa da Confederação Sindical Internacional (CSI), um trabalhador da Adidas na China teria que trabalhar mais de quatro meses para pagar a entrada da cerimônia de abertura dos Jogos.

O relatório também confirma que os trabalhadores são submetidos à máxima exploração, cumprindo jornadas de 10 a 12 horas diárias. Na Joyful Long, que abastece grandes marcas esportivas como Adidas, Nike, Umbro e Fila, as horas extras alcançam até 232 horas por mês.

Um dos trabalhadores de uma fábrica que produz para a marca New Balance, em Dongguan, fez um dramático relato ao CSI: “estou morto de cansaço. Dois de nós têm de pegar 120 pares de sapatos por hora. Trabalhamos sem parar e sempre com medo de não trabalhar suficientemente rápido para abastecer a linha de produção. Estamos cansados e sujos”.

O resultado de tamanha exploração são os “lucros olímpicos” alcançados por essas empresas. Segundo a CSI, desde as Olimpíadas de Atenas, em 2004, Nike, Puma, Adidas, Under Armour, entre outras, tiveram um crescimento entre 51% e 289%.

A reconstrução de Pequim
Com os gastos totais provavelmente superando os US$ 42 bilhões, os Jogos Olímpicos de Pequim podem ser os mais caros da história. Mais caros, inclusive, do que os Jogos de Atenas, que custaram menos da metade, cerca de US$ 16 bilhões.

Grande parte desse dinheiro foi investida na construção de 12 novos estádios e na reforma de vários outros. A grande atração é o novo estádio nacional conhecido como Ninho de Pássaro. Como na maioria das obras, ele foi construído no melhor estilo neoliberal: através de uma parceria público-privada. Em troca, as empresas privadas terão o direito de administrar o estádio por 30 anos.

Por trás desses enormes números e das arrojadas obras de arquitetura, esconde-se, porém, a história de milhares de trabalhadores que foram submetidos a terríveis condições de trabalho e baixíssimos salários.

Um informe da ONG Human Rights Watch mostra como os empregadores forçam habitualmente os migrantes, vindos de comunidades rurais, a trabalhar. Eles retêm os salários dos operários por até um ano e, meses depois, oferecem um pagamento único, mas de valor inferior ao acertado. “Desde que cheguei aqui, trabalhei todos os dias, não tenho nada de dinheiro e nunca sai daqui para relaxar”, disse um operário chinês à ONG.

A grande maioria dos trabalhadores vem do interior e entra ilegalmente em Pequim, uma vez que é preciso de autorização oficial para viajar. Tal situação impede que os migrantes da construção de Pequim tenham direitos como atenção médica, serviços sociais e residenciais.

Preocupado em preservar a imagem dos Jogos, o próprio Comitê Olímpico Internacional (COI) exigiu do governo chinês um certificado de que todos os trabalhadores envolvidos nas obras olímpicas fossem remunerados adequadamente. O pedido de certificação ocorreu tarde demais, quando o governo chinês admitiu que, em janeiro de 2008, seis trabalhadores morreram nas obras das instalações olímpicas.

Como se vê por trás dos festejos olímpicos, a China se transformou num paraíso para os capitalistas, que podem obter lucros como nunca sonhariam em qualquer outro lugar. A ditadura do PC é a garantia fundamental para colocar à disposição do imperialismo milhões de trabalhadores semi-escravos que vivem nessa brutal exploração. Nessa modalidade, o governo chinês conquistou medalha de ouro.

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