Polícia detêm indígenas durante marcha

No último dia 25, o governo de Evo Morales mostrou para quem realmente governa. Nessa data, o presidente boliviano lançou a polícia contra uma marcha indígena que protestava contra a construção de uma estrada. O saldo da brutalidade foi – até o momento – um bebê morto e 37 pessoas desaparecidas, segundo o Comitê da Marcha dos povos indígenas, que dirigia o protesto. A criança faleceu devido ao gás lacrimogêneo utilizados na repressão policial

A marcha reunia centenas de indígenas da região da Amazônia boliviana, que há mais de 40 dias protestam contra a construção de uma estrada. Segundo os indígenas, o projeto da estrada ameaçaria suas terras cortando ao meio o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), uma importante reserva ecológica do país.

A violenta repressão começou quando os indígenas estavam repousando na beira de uma estrada no povoado de Yucumo, cerca de 300 km de La Paz. O comandante da polícia, Oscar Muñoz, justificou a violência afirmando que os militares foram ameaçados por indígenas “armados com flecha”, o que é absolutamente desmentido pelas imagens gravadas. Na verdade, o objetivo da repressão ordenada por Evo era impedir que os indígenas chegassem até a capital, onde os marchantes se reuniriam a outras populações indígenas.

A quem serve a construção da estrada
A definição da construção da estrada que divide o território dos indígenas bolivianos foi acertada, em agosto de 2009, pelos então presidentes Evo Morales e Luiz Inácio Lula da Silva. O projeto vai apenas beneficiar as multinacionais petroleiras que atuam no país, as madeiras e empresários brasileiros. Seu objetivo é diminuir a distância para as exportações de mercadorias oriundas do Brasil e da China, criando uma rota para o escoamento de mercadorias, partindo do estado de Rondônia, no Brasil, para várias regiões bolivianas. A obra, orçada em 415 milhões de dólares, está sendo realizada pela empreiteira a brasileira OAS. Aproximadamente 80% do valor será financiado por empréstimos que o Brasil concedeu à Bolívia no valor de 332 milhões de dólares.

Crise política
A selvagem repressão mostra com toda a clareza o caráter autoritário do governo Morales. A mão pesada da repressão do seu governo coloca por terra todo o falso discurso sobre o “território indígena coletivo”, supostamente defendido pelo presidente para aprovar sua Constituição. Seu suposto “socialismo” indígena não passa de uma manobra para ganhar a confiança do povo e, depois, traí-lo.

Por outro lado, a repressão contra os marchantes acentua a crise política vivida pelo governo. A ministra da Defesa da Bolívia, Cecilia Chacón, apresentou sua renúncia por discordar da decisão do governo em reprimir a marcha.

Sindicatos, associações indígenas, partidos de oposição e grupos ecologistas e de defesa dos direitos humanos estão preparando protestos públicos, incluindo uma paralisação nacional chamada pela Central Operária Boliviana (COB), em repúdio a repressão.

Evo Moraels, porém, sinaliza toda sua disposição em defender os negócios das empreiteiras e multinacionais. Em La Paz, a Praça de Murillo, onde estão localizados o Parlamento e o Palácio Presidencial, já está tomada por centenas de policiais.

Leia trechos da nota do Comitê da Marcha dos povos indígenas explicando a repressão policial

“Hoje às 16h30 iniciou-se um operativo policial e/ou militar de cerco sobre o acampamento da ponte San Miguel a 5 Km de Yucumo, onde estavam descansando cerca de 800 manifestantes, incluindo mais de 200 meninos e bebês. Por volta das 17h foi lançado bombas de gás lacrimogêneo contra as pessoas indefesas, o que provocou uma confusão total e, por esse motivo, começaram a desaparecer muitos dos meninos que estavam aí acampados junto a suas mães”

“Posteriormente, efetivos da polícia começaram a perseguir as pessoas. encurralá-los, espancá-los, queimando o acampamento, jogando gás sobre mulheres grávidas e apreendendo pertences pessoais da imprensa, obrigaram as pessoas a subir nas camionetes para que, desta maneira, digna da pior das ditaduras, intervir e acabar com a marcha”

Veja a repressão policial ordenada por Evo