`FotoA greve que une trabalhadores e camponeses não é por salário ou por terra, ela tem como objetivo impedir que o governo entregue o gás boliviano ao imperialismo. Os trabalhadores, a juventude, os camponeses e os indígenas tomaram em suas mãos a defesa do país, que está sendo dilapidado pelo imperialismo com a cumplicidade da covarde classe dominante boliviana, que, igual a toda burguesia latino-americana, se dobra às exigências do imperialismo.

A partir da derrota da greve mineira de 1985, sucessivos governos da Bolívia competiram entre si na aplicação do receituário neoliberal que caracterizou todos os governos latino-americanos. A privatização das minas de cobres, do petróleo e de gás resultou no aprofundamento da miséria. Acontece que na Bolívia esse processo está sendo ainda mais devastador. A queda no preço do cobre no mercado internacional, aliada à destruição a que o país foi submetido pelo imperialismo, levou 70% da população a viver na pobreza.

A partir de 2000, os camponeses estiveram na vanguarda da resistência. A exigência do imperialismo americano de erradicar completamente a folha de coca, plantada durante milênios, gerou um forte movimento conhecido como cocaleros.
Esta luta protagonizou duros enfrentamentos com o Exército, com vários mortos de ambos os lados, mas conseguiu algumas conquistas parciais. Este processo também tomou um caráter político, gerando o MAS (Movimento ao Socialismo) que por pouco não elege Evo Morales, principal dirigente cocalero, para a Presidência da República.

A insurreição de 12 de fevereiro

A grande mobilização contra a entrega do gás é o resultado de um processo cada vez mais forte de politização das lutas e incorporação dos trabalhadores urbanos na resistência.

Em 12 de fevereiro, houve uma verdadeira insurreição na Bolívia, contra um decreto governamental de aumento generalizado dos impostos para pagar a dívida externa, exigido pelo FMI.

La Paz, Cochabamba, Oruro, Potosí e Santa Cruz, principais cidades, foram ocupadas por trabalhadores, desempregados e a juventude. A rebelião popular foi seguida de uma crise nas Forças Armadas: a polícia negou-se a reprimir os protestos e uniu-se à mobilização, reivindicando aumento de salários.

Por 24 horas não houve governo. As massas tomaram conta da sede do governo. O presidente, encurralado pelas mobilizações, em meio ao tiroteio entre policiais e militares, fugiu do palácio de governo escondido em uma ambulância.
O governo, paralisado pela divisão nas Forças Armadas, foi incapaz de decretar o Estado de Emergência. O controle das cidades foi seguido de expropriações aos grandes centros comerciais. Símbolos do governo, como prédio ministeriais e prefeituras, foram incendiados.

Ao final, o governo recuou de seu plano de aumento de impostos e do plano anunciado em fevereiro de venda do gás boliviano aos EUA, comprometendo-se com um plebiscito sobre o tema. A luta terminou com uma vitória do movimento e uma grande derrota para o governo, que vê sua crise aprofundar-se diante das exigências imperialistas.
“O gás é nosso”

Derrotado em fevereiro, o governo retoma o projeto de entrega do gás boliviano, parte do processo que se multiplicará pelo continente com a Alca.

`FotoÉ contra isso que se levantam, de forma unificada, mineiros, camponeses e a juventude, organizados na “Coordinadora del Gás”. A greve geral convocada pela COB é fruto deste processo de luta que ganha as cidades e se refletiu no último congresso da COB, que derrubou a direção pró-governista que controlava a entidade.
O congresso decidiu retomar a mobilização que aconteceu no dia 19 de setembro, com êxito. Na região de Altiplano, a luta se deu também com bloqueio de estradas. Em Warisata, os camponeses de origem Aymara, dirigidos por Mallku (Felipe Quispe), foram atacados, em uma ação combinada do Exército e da polícia, quando bloqueavam uma estrada, deixando sete mortos, inclusive uma criança de oito anos, e 20 feridos a bala. Uma comoção nacional contra o ataque aumentou as mobilizações.
Ao mesmo tempo em que cresce a repressão, o governo não dá sinais de recuo sobre a venda do gás. A COB respondeu convocando uma greve geral por tempo indeterminado pela derrubada do governo.

A greve iniciou na segunda, 29 de setembro, e tudo indica que crescerá. Está colocada a possibilidade de derrotar o governo, e sua queda não está descartada. Mas, independente do resultado deste enfrentamento, estamos diante de um fato que tem a mesma proporção da insurreição que aconteceu no Equador em 2000, quando o governo tentou dolarizar a economia do país.

O proletariado boliviano tomou em suas mãos a luta contra o imperialismo. As burguesias de todos os países latino-americanos estão dispostas a entregar nossas riquezas ao seu amo imperialista, às custas do aumento de nossa miséria. Está nas mãos do proletariado a defesa de nossos países contra o saque e a pilhagem imperialista.
Post author João Ricardo Soares,
da redação
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