Manifestação dia 15 de março na Av Paulista. Fotos Romerito Pontes
Juventude do PSTU

Marcos K, Juventude do PSTU-SP

Nos dias 8 e 9 de novembro, os alunos do 5º e 9º ano do Ensino Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio serão chamados a fazer o SARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), uma espécie de provão aplicado anualmente em todas as escolas públicas para medir o nível do ensino.

O boicote ao SARESP é uma pauta tradicional do movimento estudantil, que inclusive foi reivindicada pelas ocupações secundaristas de São Paulo em 2015. Além disso, no Rio de Janeiro, os secundaristas conquistaram o fim do SAERJ (o equivalente ao SARESP) através de suas ocupações em 2016. Com a prova se aproximando, é importante discutirmos o seu significado, e o motivo de defendermos o seu boicote.

O SARESP é a prova que serve de base para o IDESP (Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo). O IDESP, por sua vez, faz parte da política do governo do estado de São Paulo, de bonificação por desempenho. Nesse sistema, as escolas que tiverem um desempenho melhor no IDESP receberão maiores investimentos, e seus professores ganharão um bônus.

Essa é uma política meritocrática, que traz dois problemas. Primeiro, é lógico que as escolas de periferia, que têm falta de professores, salas superlotadas, e falta de infraestrutura básica, não vão conseguir tirar notas altas nessa prova. Usando da lógica de “punir” as escolas que forem piores nas provas, e premiar as que forem melhores, o governo retira o bônus das escolas que têm índices baixos no IDESP e usa isso de pretexto para cortar investimentos delas.

Porém, são justamente as escolas que vão piores que deveriam receber mais investimento, e não o contrário. Isso serve apenas para que as escolas da periferia, que são mais precarizadas e que tiram notas mais baixas, sofram ainda mais precarização.

Não bastasse isso, a bonificação por desempenho serve para responsabilizar os professores, alunos e funcionários pela crise da educação pública. Se uma escola foi mal e por isso não recebeu mais investimentos, a culpa seria do professor, que não teria ensinado bem o suficiente, e dos alunos, que não teriam aprendido direito.

Mas sabemos que na verdade a culpa pela educação precarizada não é nem dos professores, nem dos alunos, nem dos funcionários, mas do governo, que corta cada vez mais verbas da educação, superlotando as salas, fechando escolas, e demitindo professores. Foi por isso que os secundaristas de São Paulo tiveram que ocupar mais de 200 escolas em 2015, para evitar o fechamento de quase cem escolas.

A luta dos estudantes por uma educação pública de qualidade deve ser feita junto com os professores e trabalhadores. Defendemos que o bônus seja incorporado ao salário de todos os professores e funcionários, ao invés de servir como uma forma de responsabilizar professores, funcionários e alunos pela precarização da educação. E que o governo aumente a verba para a educação, ao invés de destruir a educação pública como pretende fazer com a reforma do Ensino Médio.

Por todos esses motivos, defendemos que os estudantes se organizem para boicotar o SARESP. A prova não é obrigatória, não pode ser utilizada para compor a nota do aluno, e quem boicota não pode ser punido. Há várias maneiras de realizar o boicote, deixando a prova em branco, ou chamando assembleias para definir o boicote geral da prova. A maneira de como fazer a luta varia em cada escola, mas é importante que todos façam parte.

O governo vem realizando inúmeros ataques aos trabalhadores e sua juventude, como a reforma trabalhista (que acaba com direitos históricos conquistados pelos trabalhadores), a reforma da previdência (que acaba com a aposentadoria), a PEC do fim do mundo (que congela os gastos com áreas sociais como educação e saúde por 20 anos), e a reforma do Ensino Médio. Tudo isso para garantir o lucro dos patrões, empresários, banqueiros e empreiteiros, e jogar as contas da crise econômica nas costas dos trabalhadores e de sua juventude.

É importante que os secundaristas voltem a lutar, e se coloquem ao lado dos trabalhadores na luta contra os governos e contra seus ataques aos nossos direitos. O boicote ao SARESP tem que ser visto como mais do que uma luta isolada, mas como uma oportunidade de organizar os estudantes para lutar, em aliança com os trabalhadores, por uma educação pública de qualidade, e por nosso direito a um futuro digno.

Mas não apenas isso. Sabemos que enquanto a sociedade for guiada pelo interesse do lucro de um punhado de patrões, empresários, banqueiros e empreiteiros,, as escolas jamais vão conseguir ser mais do que simples fábricas de mão-de-obra barata. Por isso, é necessário lutarmos não só por uma educação pública de qualidade, mas também por uma sociedade em que a escola possa ser algo diferente, que realmente sirva como ferramenta para que todos tenham acesso ao conhecimento. É necessário lutarmos por uma sociedade guiada pelos interesses dos operários e trabalhadores pobres, e não dos ricos e bilionários. Em outras palavras, é necessário lutarmos por uma sociedade socialista.