Manifestantes caminharam durante horas pelo centro de São Paulo
Diego Cruz

Conlutas integra a marcha e exige medida de Lula para proteger os empregosNesse dia 30 de março, o empresariado paulista foi obrigado a ver a crise de um outro ângulo. Pelas janelas da Fiesp, em plena avenida Paulista, os patrões viram o primeiro grande ato nacional contra as demissões. Foi a primeira resposta nacional dos trabalhadores à crise.

Em todo o país, milhares de pessoas foram às ruas contra a crise e seus efeitos. A capital paulista abrigou o principal ato, que começou logo cedo, em frente à sede da Fiesp. O protesto contou com cerca de seis mil pessoas de várias categorias, movimentos, sindicatos e centrais sindicais, da capital e de cidades do interior.

Apesar do cansaço, grande parte dos ativistas já havia participado de manifestações ainda na madrugada, o ânimo deu a tônica do protesto. “1, 2, 3, 4, 5, mil, ou param as demissões ou paramos o Brasil”, era a palavra-de-ordem dominante. O protesto partiu da sede da Fiesp rumo à avenida Consolação, parando em frente ao prédio da Caixa Econômica Federal.

A mobilização reuniu diversas centrais, como a Conlutas, CUT, Força Sindical, CTB, NCST e CGT, além de movimentos como o MST, a Marcha Mundial de Mulheres e partidos de esquerda.

“É muito importante essa unidade que construímos hoje, temos agora que avançar”, disse José Maria de Almeida, o Zé Maria, da Secretaria Executiva da Conlutas. “Faço aqui um chamado às demais centrais para que, juntos, cobremos de Lula uma lei que garanta a estabilidade no emprego, fazendo desse dia 30 uma arrancada para construirmos um grande movimento contra as demissões, culminando num dia nacional de paralisação”, defendeu.

“Essa crise tem dono, ela é dos ricos, dos capitalistas, os trabalhadores não devem pagar por ela”, disse Wagner Gomes, da direção da CTB. Já Pedro Paulo, representante da Intersindical, destacou o esforço para se garantir a unidade da mobilização. “Esse pode ser o primeiro passo para um verdadeiro processo de luta”, afirmou.

Luta pela reestatização da Embraer
Na coluna da Conlutas, uma das maiores e mais animadas do ato, a luta contra as demissões e pela reestatização da Embraer era uma das principais bandeiras. “Parou, parou, demitiu, reestatizou”, era a palavra-de-ordem. Entre os manifestantes, vários trabalhadores demitidos, entre eles o metalúrgico José Bernadito, montador e funcionário da empresa por longos 30 anos.

Demitido no último dia 19 de fevereiro, José mantinha ainda a indignação contra a atitude da empresa. “Maltrataram muito a gente, tinham que ter mais respeito, ela não precisava demitir, principalmente da forma que fez, tratando a gente como bicho”, disse ao Portal do PSTU. Apesar de abatido, José não perde as esperanças e aposta na luta para reverter essa situação. “As pessoas têm que fazer manifestação, porque as empresas estão todas demitindo”, disse.

Unidos, mas com diferenças
O dia de mobilização marcou o primeiro grande ato nacional contra as demissões. Apesar de importante, porém, há ainda diferenças profundas entre as centrais. A CUT e Força Sindical, por exemplo, centram seus discursos contra a política de juros altos do governo, enquanto apóiam os subsídios do governo para as empresas. Para a Conlutas, o principal ponto é a cobrança do governo de uma medida que impeça as demissões.

“O problema é Henrique Meirelles e os juros altos, mas é também o chefe dele, Lula, que dá dinheiro a banqueiros e empresários. Não podemos aceitar o que o governo vem fazendo e o que acaba de anunciar, a redução do IPI por mais três meses. É menos dinheiro para Saúde e o emprego para ajudar as empresas. Não é isso que queremos, exigimos medidas concretas do governo para proteger o emprego, os salários e os direitos”, destacou José Maria.

O protesto terminou por volta das 16h, em frente ao Teatro Municipal, no centro da cidade.