Cidade vive dia de luta contra demissões da ValeO dia ainda estava escuro quando os manifestantes chegaram à entrada da mina de Conceição, em Itabira (MG) nesse dia 8 de janeiro. Sindicalistas e ativistas de várias partes de Minas e de estados como Rio de Janeiro e São Paulo estiveram presentes na primeira atividade desse dia de mobilizações em defesa do emprego.

O ato começou com a chegada dos primeiros ônibus de mineiros, às 5h30, e reuniu uma ampla gama de entidades, além do Metabase, entidade que representa os trabalhadores das minas de Itabira e região. Um ônibus trouxe a delegação de Belo Horizonte e Contagem, a cerca de duas horas de distância. Estiveram presentes a Conlutas, o sindicato dos mineiros de Congonhas e Ouro Preto, trabalhadores das minas de Itaúna e região, as oposições metalúrgicas do Sul Fluminense e de São Paulo, sindicatos da saúde, do serviço público, além de representantes estudantis, como o DCE da USP. Representantes da Flasko, fábrica ocupada em Sumaré (SP), também participaram do ato.

A cidade estava representada, através de vereadores, deputados e representantes das igrejas católica e evangélica. Os partidos políticos também fizeram uso da palavra, com representantes do PSTU, PSOL e PCB. O representante do PSTU exigiu que Lula garanta a estabilidade no emprego, e afirmou que a crise do capitalismo apenas fortalece a necessidade do socialismo, como saída para a humanidade.

Corredor polonês
Apesar do caráter pacífico da manifestação, a Polícia Militar do estado deslocou um forte aparato repressivo ao local. Quando os ônibus chegavam à entrada da mina, a polícia não permitia a aproximação dos manifestantes, intimidando os ativistas e os trabalhadores e formando um corredor polonês na entrada da empresa. Com uma filmadora em punho, um oficial registrava os manifestantes.

A pressão da polícia e, principalmente, da própria Vale, pressionando os trabalhadores no local de trabalho, impediram que os trabalhadores paralisassem. Nos dias que antecederam, muitos trabalhadores avisaram ao sindicato do temor de perder o emprego, caso participassem da manifestação. A pressão interna da empresa e o medo de ser demitido em meio à crise surtiram efeito.

Ainda assim, um grande protesto foi realizado na entrada da mina, com cerca de 150 pessoas. Muitos mineiros pararam no ato, antes de entrarem para trabalhar. Os manifestantes dialogaram com os operários, entregando panfletos, discursando no carro de som e chamando todos a participarem da manifestação que ocorre logo à tarde no centro da cidade.

A maior parte das falas procurou apresentar os efeitos da crise e criticaram a empresa. Mostraram que a Vale, tendo sido privatizada por R$ 3,3 bilhões, há 10 anos, lucrou R$ 18 apenas em 2008 e tem dinheiro para pagar os funcionários por 10 anos, sem demitir. “Não vamos pagar pela crise”, era uma frase recorrente nos discursos. A reestatização da empresa também foi defendida, em discursos e em uma das faixas.

O clima, como não poderia deixar de ser, era de apreensão. “Ainda não sentimos as demissões, mas acho que agora é que vai começar, ontem já mandaram dois embora”, afirmou Fábio*, jovem eletricista de uma empresa prestadora de serviços da Vale, que observava o ato. “Hoje é a sua cabeça que vai rolar!”, tentava brincar o seu colega ao lado. Grande parte da categoria é formada por jovens e os terceirizados foram os primeiros a sentirem as demissões. Cerca de 70 já perderam o emprego.

Após o ato, os ativistas retornaram ao sindicato Metabase para descansarem e reunir força para as atividades que duram todo o dia. A partir das 13h, eles se concentram na principal praça da cidade, onde, às 16h, terá início um grande ato com os mineiros e a população.