Tácito Chimato

Mais uma vez, um jovem preto é agredido covardemente na periferia de São Paulo. O estudante de Direito Sandro Irineu de Lira Filho foi atacado covardemente na última quinta-feira (13) na estação Presidente Altino, em Osasco, região metropolitana de São Paulo.

Segundo seu relato, Sandro, ao subir pela passarela que dá acesso ao trem, foi abordado por Robert Roney Guimarães, que o atacou acusando de pixar o muro. Sob os gritos de “favelado” e “aqui não é Cuba”, Sandro foi arrastado para dentro da estação. Quando os seguranças viram a situação, arrastaram o jovem novamente para fora onde, com Robert, seguiram atacando o rapaz. A situação só parou com a chegada da polícia, que pouco fez para entender o que estava acontecendo e se contentou em tirar o rapaz do local.

Mãe de Sandro durante ato contra violência racista

Revoltada, a família realizou um ato na porta da própria estação na noite de ontem (20), reunindo uma série de figuras públicas locais e militantes de diversas organizações. O PSTU somou-se à luta e se solidariza com Sandro e sua família. Não é possível ser conivente com um genocídio a olhos vistos. Para a mãe, Sandro só está vivo porque “Foi muito inteligente. Meu filho é estudante de Direito, ele sabia o que poderia acontecer se reagisse. Então só cobriu a cabeça enquanto pedia para pararem”.

Israel Luz, do PSTU-SP, em ato contra agressão a Sandro

Não são casos isolados

Segundo o “Atlas da Violência”, publicado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) e o Fórum Brasileiro de Seguranças Pública em 2021, foi detectado que a população preta e parda são 75,8% das vítimas de homicídios (com 2,6 vezes mais chances de ser morto do que uma pessoa branca) e que jovens negros entre 15 e 19 anos são 81% das vítimas da violência letal.

Como denunciamos diariamente, o racismo é uma das ferramentas mais cruéis do sistema capitalista, que condena a população negra a uma vida de permanente vigilância, por viver com um alvo na testa. São os piores empregos, as maiores taxas de homicídios e uma permanente campanha de criminalização, onde o tom de pele e os traços constam mais que qualquer prova.

Exemplos não faltam em diversos locais onde atuamos. Na Brasilândia, Zona Norte de São Paulo, diversos casos de jovens presos sem provas ocorrem a níveis alarmantes. Nesse momento, por exemplo, estamos engajados na absolvição do processo de Luiz e Tauã, acusados de roubo e sequestro em janeiro desse ano. Eles estavam na companhia de um terceiro amigo, o Matheus, aprendendo a dirigir. Nesse mesmo dia, um homem teve seu carro roubado e fez a descrição dos supostos assaltantes. Como as “características estavam batendo”, os dois rapazes foram presos, e Matheus, branco, foi liberado. Após forte pressão de diversas organizações, moradores do bairro e das famílias, ambos puderam responder em liberdade, e aguardam julgamento em suas casas.

Outro caso na mesma região é o de Riquelme. No dia 6 de julho, o rapaz foi vítima de uma emboscada policial, quando, ao retornar para casa, notou o portão de um vizinho aberto. Estranhando, chamou-o para fechar e, ao ser convidado para entrar, foi preso pelos policiais que estavam realizando uma operação e estavam de tocaia na residência.

Riquelme não tem antecedentes criminais, não estava com as pessoas procuradas, mesmo assim foi preso e aguarda o julgamento em cárcere: “disseram que iam levar para averiguação. Como ele não fazia nada errado, não tive reação. Mas desde então não devolveram mais meu filho”, disse a mãe. Os vizinhos confirmam que ele é um rapaz “calmo, muito educado e trabalhador” e que viram Riquelme chegando da rua, o que também é mostrado nas imagens das câmeras.

Justiça já! Não há capitalismo sem racismo!

Camilo Martin, militante do PSTU e do Sindicato dos Metroviários presta solidariedade à família de Sandro

É necessário toda a solidariedade e força para Sandro e sua família. O PSTU se somou a esse ato e estará presente em todas as mobilizações que a família convocar. Não podemos ser coniventes com essa barbárie que permanece perpétua no capitalismo. Vale lembrar que, em meio a uma das eleições mais sujas da nossa recente democracia – no qual, diga-se de passagem, pouco fez contra o genocídio da população petra e pobre – o candidato bolsonarista Tarcísio Freitas usa como plataforma uma defesa da violência, sugerindo até mesmo tirar as câmeras dos uniformes da polícia militar.

Não há conversa possível com quem apoia um genocídio. Por isso mesmo, devemos ser contra Bolsonaro e Tarcísio, e todo o fundamentalismo e as muitas formas de ódio e violência racista, machista, LGBTIfóbica e xenófoba que ambos defendem.

Porém, não podemos alimentar a ilusão de Lula e Haddad tomarão atitudes expressas contra isso. Vale lembrar que, na chacina que vitimou mais de 15 jovens em Osasco em 2015, que originou o movimento “Mães de Maio”, Alckmin estava no governo do Estado e pouco fez sobre o caso, tanto que o processo ainda corre. Não são, portanto, dignos da confiança cega que pedem. Apoiamos as candidaturas do PT, mas o voto é crítico pois, em um programa que se contenta em apenas administrar o capitalismo, não há espaço para um enfrentamento sério contra o racismo.

Como disse Malcolm X: “Não há capitalismo sem racismo”. O fim da marginalização histórica do povo preto começa na luta pela construção do socialismo, em unidade com o movimento operário e demais setores oprimidos. Somente em uma luta de peito aberto, com todos os setores oprimidos na linha de frente, superaremos a barbárie racista. Basta de genocídio! Queremos viver!