Na pequena Cruzeiro, de 90 mil habitantes, no Vale do Paraíba (SP), uma multinacional, a Iochpe Maxion domina a cena na cidade. Localizada entre os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas, a empresa fabrica componentes automotivos e ferroviários.

Dentro da mesma planta, há duas outras empresas: a Maxion, fabricante de autopeças para montadoras de pick-up, caminhões e ônibus, e a Amisted Maxion, fabricante de componentes ferroviários.

A Maxion, desde o ano passado, já demitiu mil trabalhadores diretos. Isso sem contar os terceirizados. O sindicato local, dirigido pela Força Sindical, se contenta em lamentar as demissões.

Agora, outra empresa do grupo Iochpe Maxion, a Amisted Maxion, realizou, com a conivência do sindicato local, um plebiscito. Nesta segunda-feira, 23, a consulta trazia a escandalosa proposta de redução salarial de 16%, redução da jornada em 20% e 300 demissões. A outra alternativa era 700 demissões sem redução salarial.

A empresa simplesmente comunicou que realizaria o plebiscito. O sindicato sequer apareceu na porta da fábrica, deixando os trabalhadores à mercê do patrão.

A Iochpe Maxion, até outubro do ano passado, tinha aproximadamente 10 mil trabalhadores nas duas plantas na cidade, entre diretos e terceirizados. Hoje, este número está reduzido a cerca de 7 mil. O grupo aproveitou bem os anos de produção em alta e não dividiu seus lucros com os trabalhadores. Agora quer descarregar nas costas dos trabalhadores o custo da crise.

Trabalhadores começam a se organizar
Diante da passividade do sindicato, os trabalhadores procuraram a Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), através do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, e escreveram uma carta-manifesto. No texto, chamam os trabalhadores a anularem o voto. Na mesma carta, os trabalhadores exigem que o sindicato realize assembleias na porta da fábrica em todos os turnos.

Eles também cobram um pronunciamento da prefeita, Ana Karen (PT), da Câmara de Vereadores, da Igreja e da sociedade em geral contra as demissões que o grupo Iochpe Maxion vem fazendo nos últimos meses.

Com surpresa e satisfação, os primeiros trabalhadores que chegavam, as 4h da manhã, recebiam o panfleto entregue por seus camaradas demitidos ou aposentados da companhia. Após a entrega da carta, o presidente do sindicato foi até o interior da usina para conversar com os trabalhadores, a pedido da empresa.

Os trabalhadores sabem que qualquer processo de discussão com o sindicato é controlado pela empresa. Porém agora, “com a Conlutas, é possível reorganizar a oposição dentro e fora da fábrica”, dizia com orgulho um trabalhador aposentado aos seus ex-companheiros, de trabalho.

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