Existe uma ilha da fantasia em plena mancha urbana da Grande São Paulo. É o gigantesco condomínio de Alphaville, situado em Barueri, região metropolitana da capital paulista. A vida de seus moradores é um contraste com as 7,9 milhões de moradias que faltaInaugurado nos anos 1980, Alphaville é o condomínio-sonho dos novos ricos e da alta classe média paulistana, sob inspiração das regiões residenciais dos subúrbios norte-americanos. A área residencial abriga edifícios de luxo e também mansões, em enormes aéreas verdes. Tudo cercado por muros que separam as residências das imensas favelas da região.

As favelas por trás dos muros de Alphaville formam uma daquelas cenas reveladoras sobre o tipo de país que é o Brasil. A sensação é que se está em um monumento dedicado à segregação social.

Entre os moradores de “Alpha” estão empresários, gerentes ou altos executivos de grandes multinacionais. Lá também vivem artistas famosos como a dupla sertaneja Chitãozinho & Chororó, a apresentadora Luciana Gimenez, entre outros.

O projeto ocupa 16,5 milhões de metros quadrados e foi planejado para fornecer qualidade de vida e segurança para os endinheirados. Com o passar dos anos, porém, muitos deixaram de enfrentar o trânsito de São Paulo para ir ao trabalho e transferiram seus escritórios para outra área do condomínio. Alphaville logo se transformou em uma espécie de cidade, com o surgimento de toda uma área comercial, com suntuosos edifícios de arquitetura moderna, shoppings e calçadas de pedras portuguesas, pontuadas por belos jardins e praças.

Grande parte dos moradores, entretanto, segue trabalhando em São Paulo. Mas preferem a comodidade do helicóptero para se deslocar ao trabalho. São Paulo, a 30 km de distância, é a cidade que concentra 43% de toda a frota de helicópteros do país, de acordo com a Anac. Muitos deles levantam voo de Alphaville levando executivos para centros empresarias como a Avenida Paulista ou a Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini. Os voos chegam a custar R$ 6.500 a hora. Próximo ao condmínio está o Helipark, o maior helicentro da América Latina.

Alphaville corrompe qualquer noção espacial urbana, tornando privado o que deveria ser público. O condomínio funciona como uma cidade e tem regras e administração próprias. Há também escolas particulares para os jovens de Alphaville, cujas mensalidades custam mais de R$ 2 mil por mês.

Para manter tudo em “ordem”, existe uma força policial própria formada por seguranças contratados. Na parte residencial só é permitida a entrada de pessoas convidadas pelos moradores, o que é garantido pelas dezenas de portarias de seguranças que impedem a entrada de qualquer “intruso”. As favelas que cercam o condomínio fornecem a mão de obra barata para as residências. É onde moram as domésticas, peões e manicures, que trabalham no condomínio.

O isolamento de Alphaville formou um modo de vida próprio, exaltado com orgulho pelos moradores e pelas revistas e jornais (também próprios) dirigido ao condomínio. Numa delas está estampada capa uma matéria sobre estética masculina e reportagens sobre jovens que dizem nunca terem conhecido uma favela, apesar de todo condomínio ser cercado por elas. Os depoimentos mostram que os jovens do condomínio raramente saíram para conhecer o mundo real que os cercam.

O condomínio é um bolsão de luxo que vende a falsa ideia de que se vive numa sociedade perfeita. A realidade, porém, está oculta por de trás dos muros.

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